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Projecto ExTRAP visa reconstruir a história vulcânica e ambiental dos Açores através do estudo das turfeiras

O ExTRAP (Exploratory study of Tephra Records in Azores Peatlands) pretende explorar as turfeiras enquanto arquivo sedimentar para a potencialidade de reconstrução histórica dos sistemas vulcânicos nos Açores. Adriano Pimentel, investigador e subdirector do IVAR, refere que este estudo também “contribuirá, a longo prazo, para o conhecimento das condições climáticas e ambientais passadas na Região e para a avaliação do papel das turfeiras como sequestradoras de carbono ao longo do tempo”.

Correio dos Açores – Em que consiste o projecto ExTRAP?
Adriano Pimentel (Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos) – O ExTRAP (Exploratory study of Tephra Records in Azores Peatlands) é um projecto recentemente aprovado para financiamento no “Concurso de Projectos Exploratórios em Todos os Domínios Científicos 2023” da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) que visa explorar o potencial das turfeiras como outro arquivo sedimentar, teoricamente melhor, a partir do qual se poderá reconstruir a história, frequência e estilos eruptivos dos sistemas vulcânicos dos Açores.
Tradicionalmente, o estudo da história eruptiva dos sistemas vulcânicos dos Açores tem sido baseado fundamentalmente nos registos subaéreos, isto é, nos depósitos vulcânicos que afloram em diferentes pontos das ilhas. O carácter inovador do projecto ExTRAP prende-se com a utilização, pela primeira vez, dos registos sedimentares das turfeiras com vista à reconstrução da actividade vulcânica passada.
O projecto conta com a colaboração de investigadores de instituições portuguesas como o IVAR – Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos da Universidade dos Açores – e o CIBIO-Açores – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Pólo dos Açores – , mas também de instituições europeias como a Cardiff University (Reino Unido), o GEOMAR Helmoltz Centre for Ocean Research Kiel (Alemanha) e a Universidade da Coruña (Espanha), e irá trabalhar em sinergia com outros projectos de investigação em curso sobre registos tefroestratigráficos terrestres, lacustres e marinhos profundos dos Açores.

Quais são os objectivos deste projecto? Qual é a importância da ilha do Pico para o mesmo?
O objectivo central deste projecto é, pela primeira vez no arquipélago dos Açores, aproveitar o registo sedimentar das turfeiras e explorar o seu potencial para a reconstrução da história e frequência eruptiva dos sistemas vulcânicos durante o Holoceno (isto é, nos últimos 11.700 anos). O ExTRAP contribuirá também, a longo prazo, para o conhecimento das condições climáticas e ambientais passadas nos Açores e para a avaliação do papel das turfeiras como sequestradoras de carbono ao longo do tempo.
Neste sentido, a ilha do Pico foi seleccionada como local de estudo por apresentar, por um lado, uma grande extensão de turfeiras nas terras altas, em particular no Planalto da Achada – uma longa dorsal de cones de vulcânicos que se prolonga desde aproximadamente a zona da Lagoa do Capitão até à Ponta da Ilha a leste -, e por outro lado, pela elevada frequência eruptiva (uma das mais altas dos Açores) deste mesmo sistema vulcânico do Planalto da Achada no passado geológico recente.

O ExTRAP reúne uma equipa multidisciplinar de instituições portuguesas e estrangeiras. Porque é que a exploração do potencial das turfeiras enquanto arquivo sedimentar necessita da intervenção de várias áreas de estudo?
O potencial dos registos sedimentares das turfeiras como arquivos naturais que armazenam um grande manancial de informação, desde níveis de tefra resultantes de erupções vulcânicas até sedimentos orgânicos que permitem obter importantes indicadores químicos e biológicos, tem aplicações para diferentes campos de investigação desde a vulcanologia até às alterações climáticas, passando pela sedimentologia e ecologia. Foi neste sentido que no ExTRAP reunimos uma equipa multidisciplinar constituída por vulcanólogos, sedimentólogos, biólogos e paleoclimatólogos com vasta experiência na reconstrução de histórias eruptivas e no estudo de arquivos sedimentares, por forma a tirar o máximo partido dos dados que serão obtidos.

De que forma é que simples turfeiras podem representar tamanha potencialidade na obtenção de conhecimento na área da vulcanologia?
As turfeiras presentes em quase todas as ilhas do Açores, algumas das quais poderão ter sido antigas lagoas, constituem armadilhas ideais para a preservação de materiais piroclásticos emitidos durante erupções vulcânicas explosivas (por exemplo escórias, pedra-pomes, cinzas) globalmente designados por Tefra, tendo o potencial para preservar registos sedimentares particularmente ricos e contínuos. Esta característica é especialmente importante em ilhas vulcânicas de pequenas dimensões, como as ilhas dos Açores, onde a aérea de deposição é naturalmente limitada e o potencial de preservação dos depósitos piroclásticos em terra é baixo devido à elevada erosão. Além disso, o relevo acidentado e a densa cobertura vegetal que caracteriza as ilhas açorianas limitam, frequentemente, o acesso a afloramentos rochosos. As sequências sedimentares das turfeiras têm a vantagem de serem logisticamente mais fáceis e baratas de aceder do que as sequências lacustres ou marinhas profundas e podem ainda ser mais facilmente datadas (com radiocarbono) do que as sequências subaéreas.

Quais são as expectativas para a respectiva investigação? Em termos de apoio, na sua óptica, é o suficiente para o desenvolvimento da mesma?
As expectativas são grandes, espera-se que os resultados obtidos no decurso do projecto ExTRAP permitam comprovar o potencial das turfeiras como arquivo sedimentar de alto valor, a partir do qual se poderá reconstruir, com grande detalhe, as histórias eruptivas dos sistemas vulcânicos, bem como as condições climáticas e ambientais passadas. O conhecimento da história eruptiva é a base da avaliação do perigo vulcânico e é fundamental para uma previsão mais precisa da actividade eruptiva futura. Espera-se com este conhecimento aprofundado do comportamento eruptivo dos sistemas vulcânicos criar as bases para uma nova geração de estudos de perigosidade vulcânica, mais robustos do que os anteriormente realizados.
O financiamento agora atribuído pela FCT para a execução do projecto é, para já, suficiente para a realização de uma campanha prospectiva de sondagens em várias turfeiras do Planalto da Achada na ilha do Pico e para análises laboratoriais (geoquímicas, geocronológicas e paleoambientais) dos depósitos vulcânicos e dos sedimentos orgânicos das sequências das turfeiras. Contudo, será necessário procurar outras fontes de financiamento para a realização de análises mais específicas, como por exemplo análises isotópicas.
José Henrique Andrade

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