Embaixador Chinês, Zhao Bentang, lidera embaixada empresarial aos Açores e é acompanhado pelo Vice-presidente do Governo, Artur Lima.
Correio dos Açores – Quais foram os objectivos desta missão chinesa nesta visita aos Açores?
Artur Lima (Vice-presidente do Governo dos Açores) – Esta é a terceira visita do Sr. Embaixador da China aos Açores. Esteve em 2023, comigo; com o Sr. Presidente do Governo no recente mês de Dezembro e o Sr. Embaixador mostrou vontade de trazer uma comitiva aos Açores. E, claro que houve toda a disponibilidade do Governo dos Açores em trabalhar com a Embaixada da China em Lisboa e, pela primeira vez, presumo, vem uma embaixada: o Sr. Embaixador, o seu adido comercial, o adido da economia e adido político da Embaixada, mas também com uma novidade que são 12 empresários chineses das mais diversas áreas que vêm conhecer os Açores.
A Vice-Presidência tem agora a captação de investimento externo e captar investimento externo para os Açores é exactamente mostrar os Açores, o que nós somos e o que nós temos. E obviamente, também, reunir com os empresários, com as instituições. Começamos pela ilha de São Miguel, onde a comitiva vai estar dois dias, reuniu com a Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada e com a Federação Agrícola dos Açores. O professor Mário Fortuna fez uma exposição daqueles que são os principais sectores da actividade económica da Região Autónoma dos Açores. E, agora, o Jorge Rita fez uma exposição, breve, sobre a potencialidade da nossa agricultura, da nossa lavoura, e, sobretudo, o que nós queremos é colocar os Açores. Captar investimento é também promover os Açores lá fora, e, portanto, num país como a China que tem uma grande capacidade de consumo e de importação quer do leite quer da carne. Fomos visitar também o Centro de Fabrico dos Açores, onde vimos toda a cadeia de produção. Amanhã vamos visitar a Algicel e a fábrica de licores da ‘Mulher do Capote’.
A Vice-Presidência do Governo organizou a deslocação para mostrar os Açores ao embaixador da China e à comitiva de empresários. Têm feito perguntas muito interessantes sobre a nossa economia e mostram muita disponibilidade para colaborar connosco. São dois dias em São Miguel e depois, amanhã, de manhã, iremos para a Terceira e visitaremos a Câmara de Comércio e Indústria de Angra do Heroísmo, e vamos visitar também duas empresas na Terceira. Há, portanto, uma perspectiva de captação de investimento e, sobretudo, de procurar oportunidades de exportação de produtos açorianos para a China.
Nomeadamente produtos lácteos…
Sim, mostraram muita vontade nos produtos lácteos açorianos, quer no leite, quer na manteiga e no queijo. Está a criar-se uma oportunidade. O Governo está a fazer aquela que eu entendo que é a nossa parte, que é trazer cá os investidores, trazer cá gente como, neste caso a Embaixada da China que mostrou disponibilidade e o Governo, logo desde o início, eu mostrei a minha disponibilidade e o Presidente do Governo também para os recebermos cá. Nós, a Vice-Presidência, programou através da sua Direcção de Serviços de Captação de Investimento, a visita do Sr. Embaixador, contactamos com as empresas e com os dois presidentes das Câmaras de Comércio.
Qual o interesse manifestado pelos empresários chineses? As perguntas incidiram mais sobre o quê?
As perguntas que fizeram hoje de manhã foram sobre as quantidades de carne; quiseram saber as espécies de peixe que nós tínhamos, a qualidade do queijo. Manifestaram muito interesse também no leite em pó, que consomem muito. Neste primeira visita, mostraram muito interesse nestes produtos. E também mostraram interesse nas nossas bebidas. E no Centro de Fabrico dos Açores também foi feita uma amostra daquilo que nós temos: dos vinhos dos Açores e dos nossos licores. Mostraram também interesse nessa parte mas, até agora, sobretudo nos produtos do leite e derivados, nomeadamente o leite em pó.
Esse interesse chinês pelos Açores surge por acaso?
Recebemos sempre de braços abertos quem quer ajudar os Açores e quem quer ajudar a nossa economia. Seja a China, a Alemanha ou os nossos amigos dos Estados Unidos e, portanto, obviamente que a China tem interesses em estabelecer relações comerciais. Amanhã (hoje) vamos à Universidade dos Açores onde vamos ter um evento, o que me parece também muito importante por causa da Ciência e da Tecnologia. Julgo que esta será uma área de potencial cooperação de empresários chineses que possam investir, por exemplo, no ramo das baterias ou armazenamento de energia.
O Governo, e eu como Vice-Presidente, estou a fazer aquilo que eu acho que o Governo deve fazer. Agora, a resposta a essa visita, a esse desfio que a visita chinesa representa, já não depende do Governo. Depende, muito, dos empresário quer das empresas agrícolas, de produção, quer de outras empresas que possam encontrar aqui alguma oportunidade. É claro que temos de vender não pela quantidade, mas pela qualidade e isso eles perceberam. Eles têm informação da qualidade do nosso leite e dos nossos produtos. Eles têm bem a noção da qualidade dos nossos produtos e julgo que isso os motivou, também, a vir cá e, obviamente também, relativamente aos transportes foi manifestada a possibilidade de se fazer uns voos e transporte de mercadorias entre a Ásia e a Europa, passar por aqui. A ponte geoestratégica é os Açores nessas ligações.
Os chineses têm interesse na posição estratégica dos Açores, no meio do Atlântico…
Acho que têm e por isso, naturalmente, vieram cá. Vamos ser claros, eles não vieram cá só porque temos vacas felizes. Eles vieram cá por mais alguma coisa e mostraram disponibilidade de se fazer voos turísticos e de se aumentar as ligações aéreas da China para a Europa e, com certeza, para os Açores. E tudo isso, tirando partido da posição estratégica dos Açores, quer nos voos para um lado, quer para o outro. Por isso interessa-lhes muito essa posição geoestratégica dos Açores, como também no transporte marítimo de mercadorias.
Ainda. recentemente. esteve o Presidente da China a passar nas Lajes. Faz uma relação entre todo esse interesse pela posição geoestratégica dos Açores?
Dos encontros que tive com o Sr. Embaixador, e este é o segundo que eu tenho, nunca fez nenhum comentário, nem manifestou qualquer interesse na Base das Lajes, nem nunca manifestou nenhuma intenção relativamente a isso.
Agora é claro que a China estuda as coisas e sabe que os Açores estão numa posição geoestratégica muito interessante. E acho que é interessante que Portugal continental perceba isso, que os Açores acrescentam valor ao continente. E é também importante que a Europa perceba isso, que os Açores são a fronteira atlântica da Europa. É preciso também que os Estados Unidos também percebam, porque, às vezes, metem-nos dificuldades na exportação dos nossos produtos para a nossa comunidade emigrante, que precisa do nosso peixe, das nossas conservas, do nosso leite e com umas taxas, por vezes, exageradas. Somos um mercado tão pequeno que podia haver um tratamento diferenciado pela positiva dos Estados Unidos relativamente aos Açores. Já que temos esse relacionamento devido à Base das Lajes, podíamos tirar partido disso. Também é preciso que percebam que há mais gente interessada nos Açores.
Há uma afirmação chinesa nos Açores?
Julgo que este é o primeiro passo para a afirmação da aposta comercial chinesa nos Açores.
Só comercial?
Esta missão é comercial, vêm empresários. Não sei se haverá outras. São negócios estrangeiros, são áreas em que o Governo dos Açores não se mete. Politica externa e negócios estrangeiros o Governo dos Açores não se mete.
Agora, captação de investimento, venha ele de onde vier, venha da China, da Alemanha ou dos Estados Unidos, relações comerciais, nós estamos disponíveis. Até porque o continente português e os Estados Unidos têm relações comerciais gigantescas com a China. Era só o que faltava nós, açorianos, dizermos que não.
Quanto à política externa, relações externas, que ultrapassem aquilo que é as relações comerciais e até de investigação, Ciência e Tecnologia, estamos dispostos a cooperar, para os chineses investirem aqui. Estamos dispostos na Ciência, que os investigadores possam vir para cá investigar. Em todos estes domínios estamos disponíveis para captação de investimento e de conhecimento.
A comunidade chinesa já é significativa nos Açores…
É interessante. A Comunidade chinesa que há 2 anos era de 200 e agora são 300. Aumentaram 50%. É preciso constatar os negócios todos que já existem da comunidade chinesa e temos que ser justos e reconhecer que é uma comunidade que se integrou bem na nossa sociedade, que não cria problemas, que são pacíficos. Nós não temos notícias de a comunidade chinesa que aqui está ter tido um comportamento menos correcto. São pessoas muito educadas, correctas e que estão integradas aqui.
É preciso lembrar, também, que os Açores, São Miguel, são a única Região produtora de chá, na Europa. E em relação a este ensinamento da produção de chá, é preciso relembrar que há mais de um século atrás foi alguém que veio da China que o trouxe. Há uma relação, diria, histórica já, com a China, por exemplo no caso do chá, que quando vieram cá, trouxeram as primeiras plantações e produção de chá, aqui em São Miguel. Começou com uma relação entre os Açores e a China. E espero, agora, que este primeiro passo nas relações comerciais, que dê frutos, que os nossos comerciantes e empresários possam aproveitar e que se possa, de alguma maneira, abrir outros mercados à nossa economia.
O Governo, e a Vice-Presidência, continuará a apostar nessas matérias, aliás já recebemos um convite do Sr. Embaixador.
Outro assunto em que mostraram vontade em investir foi na aquacultura, nomeadamente na produção de algum marisco. Eles sabem que temos bom peixe, eles também disseram isso, mas também manifestaram vontade de investir nessa área. E nós precisamos que invistam nessa área. Como sabe, a Vice-Presidência promoveu, em Setembro do ano passado, uma acção com alguns países de África e com Cabo Verde e Angola, uma captação de investimento para aquacultura e a delegação chinesa manifestou, agora, esse interesse.
Se quiserem investir nessa área há fundos comunitários para isso também. E para nós era muito bom que viessem investir nessa área, que eu acho que é uma área de futuro. Não só para a produção de marisco mas também de peixe porque começam a rarear cá e, portanto, acho que era possível termos um habitat quer offshore quer onshore para produzir peixe.
Disse que o Governos dos Açores tinha recebido um convite mas não apontou qual…
Convite para visitarmos, em breve, ou quando for oportuno, a China e estreitarmos essas relações. O Sr. Embaixador deixou esse convite e, da nossa parte, vamos aproveitar.
Como lhe digo, estamos atentos a todas e quaisquer oportunidades de captação de investimento e de dinamização da economia dos Açores. Isso também foi manifestado pelo professor Mário Fortuna e pelo Jorge Rita.
O governo agradece toda a colaboração quer do Mário Fortuna, como do Jorge Rita e aos empresários que se disponibilizaram a receber a comitiva chinesa. Já houve trocas de contactos, que eu sei, entre a Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada e alguns empresários chineses. Espero é que agora estes contactos comecem a dar frutos e que a Câmara de Comércio promova junto dos seus empresários os contactos que tem. E que a Associação Agrícola faça o mesmo, juntamente com todos os empresários. Mas que, sobretudo, seja liderado pela Câmara de Comércio e Indústria, neste caso de Ponta Delgada, depois será a de Angra e assim sucessivamente.
João Paz/Frederico Figueiredo