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“Ser pai é ter a responsabilidade de preparar os filhos para que voem felizes, fortes e saudáveis,” afirma Miguel Esteves

É com saudade, mas também com alegria que Miguel Esteves recorda os seus tempos de infância. Muito diferentes dos de hoje em dia, onde já tem a responsabilidade de ser pai, Miguel Esteves, nesta entrevista, explica que influência tiveram os seus pais, no pai que é hoje, que preocupações tem, e afirma: “quando peguei no meu filho mais velho ao colo, pela primeira vez, foi o momento mais emocionante da minha vida”.

Correio dos Açores – Como foi a sua infância?
Miguel Esteves – Tenho grandes e bonitas recordações da minha infância. As recordações mais bonitas são dos tempos que passava com os meus avós maternos na casa de Verão que tinham no Maranhão das Capelas. Dos banhos de mar com a minha avó no calhau das Calhetas…Lembro-me que o meu avô estava sempre a “inventar” coisas para me entreter. Jogávamos às cartas, fazíamos apostas com feijões e grão-de-bico, jogávamos jogos que ele inventava, brincávamos às lojas com as amostras de fazendas que ele vendia e adorava vê-lo a construir peças de madeira no seu torno para poder brincar com elas, ele tinha muita paciência comigo. Recordo-me do cheiro a erva recém cortada, do chilrear dos pássaros, do som que o milhafre entoava quando voava em eira… quando isso acontecia ele recitava-me uma lengalenga e cantávamos juntos. Tenho essas memórias bem presentes como se fosse ontem e recordo-as com tanta saudade.
Fazia recados à mercearia e brincava muito na rua. De manhã, aos fins de semana, íamos bater às portas dos vizinhos a chamar para brincar. Jogávamos á bola até à hora dos nossos pais nos chamarem para almoçar ou jantar. Outros tempos…, mas divertíamo-nos muito.
Recordo-me dos acampamentos, das viagens que fazíamos em família, dos piqueniques que os meus pais preparavam quando íamos passear ou para a praia. Aqueles passeios ao Domingo a ouvir no carro o relato do F.C PORTO quando jogava…. Gostava muito dos assaltos no Carnaval, tínhamos a tradição de nos mascararmos e percorrer as casas dos nossos amigos desafiando-os a adivinharem quem era… depois passávamos belos serões! Meus pais sempre gostaram de ter a casa cheia com amigos. Sinto que tive uma infância muito feliz e sempre com muito amor dos meus pais e avós e rodeada de amigos.

Que valores lhe foram transmitidos pelo seu pai?
Meu pai sempre me pediu para ser honesto e sincero. Ensinou-me respeitar sempre os outros e a reconhecer os erros. Também a ser uma pessoa verdadeira e justa. Amigo do seu amigo e sempre pronto para ajudar. Sempre me encorajou a lutar pelos meus objetivos, mas sempre com um conselho muito presente: “não dar passos maiores que as pernas”. Foi sempre uma grande preocupação dele alertar-me para os possíveis perigos da vida e em rodear-me de boas amizades. Recebi muito amor dos meus pais e ainda hoje sinto essa preocupação e cuidado da parte dele. Liga-me frequentemente, preocupa-se sempre connosco e procura sempre que pode reunir e estar em família. Hoje tento ser o pai que ele é para mim, procurando transmitir aos meus filhos tudo de bom que aprendo com ele. Penso que ele está orgulhoso do meu percurso até aqui.
Que diferenças encontra entre os seus tempos de criança e os dos seus filhos?
Havia uma liberdade maior, lembro-me de brincar pelas matas, de trepar árvores e muros de pedra. Brincar na rua até tarde com os vizinhos, andar de bicicleta pelas redondezas. Entretia-me horas a brincar sozinho com os meus carros ou Playmobil, criávamos brincadeiras com coisas de casa. Se queria ver o meu desenho animado favorito tinha de esperar pelo dia e hora certa para assistir.
Actualmente, está tudo à distância de um “clic”, escolhem o que querem ver e como a oferta é tanta, por vezes, nem param para ver tudo até o fim. As crianças têm dificuldade em esperar, são menos pacientes e têm dificuldade em lidar com as suas frustrações.Vivem num mundo acelerado, onde tudo lhes é apresentado praticamente feito, não têm que inventar, criar e, infelizmente, muitas delas não sabem brincar sozinhas. Brincam um bocadinho e se não têm a atenção do adulto rapidamente perdem o interesse pela brincadeira e brincar na rua sem supervisão é quase impensável. Hoje em dia os pais têm um grande desafio pela frente, o combate aos tablets e telemóveis. Sempre que podemos saímos de casa com eles para brincar no parque, andar de bicicleta, trotinete ou patins ou simplesmente passear pela natureza. Todos os anos viajamos juntos e vamos acampar, coisas que fazia e marcaram a minha infância. Só tenho pena que não possam disfrutar da casa dos meus avós…
Que influência teve o seu pai na maneira como educa dos seus filhos?
Considero que a educação que recebi não só dele, mas também da minha mãe, é algo que trago na vida com muito orgulho. Por exemplo, a profissão que exerço hoje deve-se à influência da minha mãe. O meu pai encorajou-me a seguir com esta profissão. Temos uma relação de grande abertura um com o outro. Sempre conversei com ele sobre tudo e senti da parte dele aquele conforto e compreensão. Procuro junto dos meus filhos também essa relação de confiança e proximidade, dedicando-lhes sempre muito amor. Eu tive uma infância muito feliz e recordo-me dela assim. Quero que os meus filhos cresçam com este sentimento e que colecionem estas memórias para a vida. Respeito, honestidade, amizade, coragem e reconhecimento são valores que irei sempre procurar transmitir aos meus filhos.

Ainda se lembra do seu primeiro dia do pai? O que sentiu?
Lembro-me que quando peguei o meu filho mais velho ao colo, pela primeira vez, foi o momento mais emocionante da minha vida. Senti uma alegria enorme e uma imensa gratidão à mãe por o ter carregado durante nove meses. É um sentimento difícil de descrever por palavras.

Consegue descrever o sentimento de ser pai?
Ser pai é uma responsabilidade enorme, é sentir que temos a maior e mais difícil missão do mundo… educar. Desde que somos pais, os nossos filhos são a nossa prioridade. Eles vêm sempre primeiro. Vê-los sorrir e ouvir um “amo-te pai” diariamente, é a certeza que estou a desempenhar bem o meu papel. Eu amo ser pai, e o que mais desejo na vida é ver os meus filhos felizes e que um dia mais tarde possam falar de mim como falo do meu pai. É ter a responsabilidade de prepará-los para que voem felizes, fortes e saudáveis.

Quais são as principais preocupações que tem como pai, nos dias de hoje?
Eu acho que tenho as mesmas preocupações que a maioria dos pais. Já no meu tempo as preocupações eram as mesmas. Confesso que me preocupa pensar na adolescência deles. Espero que queiram ouvir-nos e nos procurem para conversar e pedir conselhos. Que saibam divertir-se sempre dentro dos limites, sejam atentos e não se deixem influenciar. Que respeitem os outros e sejam respeitados. Estudem e possam um dia ter um emprego e fazer a sua vida. Acima de tudo que sejam felizes e saudáveis, que possam viver a sua vida sempre rodeados de amor e amigos verdadeiros. Poderão contar sempre comigo tal como conto sempre com o meu pai.

Frederico Figueiredo

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