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Coordenador da PJ, Renato Furtado disse que o cibercrime aumentou 300% em 10 anos nos Açores

A Secretária da Educação, Sofia Ribeiro afirmou ontem, na apresentação do jogo ‘Rayuela’, no anfiteatro da Escola Roberto Ivens, que “o tema da cibersegurança está e estará cada vez mais na ordem do dia, não apenas focado num programa exclusivo das camadas mais jovens.”
Este programa de cibersegurança, no entender da governante, “afecta toda a nossa sociedade, mas, de facto, nós temos que conseguir isolar os grupos alvo para podermos também ter trabalho orientado de acordo com as tipologias de insegurança e de cibercrime que estão mais direccionadas para esse grupo. E também para podermos perceber quais são as respostas que eles próprios nos estão a dar, para podermos prevenir esses mesmos crimes e situações de insegurança”.
Para a Secretária da Educação, o desafio agora é o de “desenvolvermos, cada vez mais, os pais e os encarregados de educação no conhecimento que também precisam ter, porque, muitas vezes, os filhos conhecem mais as tecnologias do que os próprios pais, para poderem, eles próprios, também saber e fazer este controle parental. Em muitos casos, não é apenas uma questão de vontade, é até mesmo uma questão de conhecimento,” reforçou.
Além disso, prosseguiu Sofia Ribeiro, “a própria criança e o próprio jovem tem que ter não apenas a informação que lhe permita lidar com situações de insegurança, mas também ela própria a perceber-se como é que reage perante situações tipo. E esta é, sem dúvida, uma das mais-valias deste projecto, em que o próprio Estado e o próprio sistema também ficam com o conhecimento generalizado das reacções que as crianças e os jovens têm no sentido social. Depois, também poder haver acções diferenciadas orientadas para podermos lidar com essa situação”
“Para que isso aconteça é preciso que haja formação e informação e é precisamente esse o trabalho que nós estamos aqui a desenvolver”, finalizou a Secretária Regional da Educação, Cultura e Desporto.

Renato Furtado: O bullying
é a situação mais recorrente

Renato Furtado, Coordenador da Investigação Criminal da Polícia Judiciária, começou a sua intervenção por afirmar que o “cibercrime é, sobretudo, um crime contra o património. No entanto, o que está em causa neste projecto é, em grande parte, o cibercrime que afecta directamente as pessoas. O projecto ‘Rayuela’ visa a prevenção de crimes, capacitando crianças e adolescentes para lidarem com determinados perigos, permitindo que, caso sejam alvo de uma investida criminosa, saibam reagir adequadamente”.
“O que estamos aqui a fazer é fomentar uma dimensão muito importante da actividade da Polícia Judiciária: a prevenção criminal”, prosseguiu Renato Furtado.
“No ano passado, apenas aqui nos Açores, abrimos 1.272 investigações por cibercriminalidade. Se analisarmos os últimos 10 anos, verificamos um aumento de 300% no número de casos. Passámos de pouco mais de 300 processos para os actuais 1.272. Este crescimento acontece ano após ano, e não sabemos onde irá parar, tendo em conta os avanços tecnológicos que já estão em curso”, disse.
Renato Furtado prosseguiu, afirmando que o “ que temos em mãos e o que este projecto visa abordar são formas especialmente graves de cibercrime, como o cyberbullying e o cyberstalking, que são matérias ainda pouco denunciadas”.
Segundo o Coordenador da Polícia Judiciária, em média, cada jovem passa cerca quatro horas por dia na internet. E os resultados são alarmantes: “23% relataram ter tido experiências que os incomodaram ou perturbaram. O bullying foi identificado como a situação mais recorrente que os afectou. 37% assinalaram exposição a conteúdos de cariz sexual. 44% admitiram ter-se encontrado presencialmente com pessoas que conheceram apenas online e 26% dos jovens com mais de 11 anos afirmaram ter recebido ou enviado mensagens com conteúdos sexuais”.
Renato Furtado disse, em sequência, que se “a internet e a tecnologia são tão apelativas para as crianças, devemos usá-las a nosso favor – ou seja, a favor das crianças. Devemos recorrer a ferramentas digitais interactivas para as alertar para os perigos que podem surgir, educando, sensibilizando e capacitando-as para identificar ameaças e adoptar comportamentos seguros online.
“Isto é a matriz do jogo ‘Rayuela’, um projecto estruturado em seis dimensões fundamentais: cyberbullying, aliciamento online, discurso de ódio, riscos tecnológicos, relações tóxicas online e fakenews – um tema cada vez mais relevante na nossa sociedade”, afirmou.
Sobre a metodologia do jogo, explicou que se baseia no sistema educativo “porque os professores desempenham um papel central neste processo. São eles que estão em contacto directo com o público-alvo, os alunos. O objectivo é informar e capacitar os alunos, e os professores são os mais indicados para essa missão”.

Ricardo Vieira: chegar
a 800 mil alunos…

Ricardo Vieira, Inspector da Policia Judiciária, começou por afirmar que o ‘Rayuela’ “não é uma ferramenta, não é um jogo, que seja aplicado pela Polícia Judiciária. Não é essa a nossa competência principal, pese embora já tenha aqui sido dito que temos também a competência da prevenção. Nesta matéria, durante três anos, tentamos recolher o máximo de informações, junto daqueles que mais utilizam estes mecanismos, que são os professores, mas também os alunos, os nossos jovens”.
Segundo Ricardo Vieira, este é um projecto para ser implementado já na época escola em curso e que tem como objectivo chegar a “800 mil alunos. Se chegarmos a 80 mil, é um lucro muito grande. Se conseguirmos chegar aos 800 mil, melhor ainda”, afirmou.
O jogo ‘Rayuela’ tem “uma dupla funcionalidade. Pretendemos, obviamente, a prevenção, mitigar a existência de vítimas. Porque a Polícia Judiciária não pretende ter mais vítimas, não pretendemos ter mais investigações. Pelo contrário, pretendemos ser eficazes naquilo que são as investigações que, infelizmente, vão sempre ocorrer, mas ao mesmo tempo prevenir os crimes”, disse.
Para esta prevenção poder acontecer, segundo Ricardo Vieira, é necessário haver uma recolha de dados. Esta recolha de dados será sempre feita de maneira “anónima com tudo aquilo que são os critérios éticos e legais que estão subjacentes a uma recolha de informação com os jovens”.
Sobre o jogo, afirmou que são “seis ciberaventuras que retratam questões do quotidiano. São aventuras divididas para serem mais fácies de jogar e estão destinadas, essencialmente, a jovens com idades compreendidas entre os 10 e 16 anos”.
Informou ainda, na sua intervenção, que já foi criado um site de modo a facilitar o registo das escolas e que este jogo pretende, na sua essência, fazer com que os alunos se debatam com estas questões.
A Presidente do Conselho Executivo da Escola Roberto Ivens, Adelaide Gomes, referiu, na ocasião, que o projecto ‘Rayuela’ “procura entender a forma como os jovens interagem com o ambiente digital e quais os riscos que podem enfrentar, oferecendo ferramentas e conhecimentos para fortalecer a segurança online”.
Na apresentação foram abordadas questões fundamentais como “cibersegurança, privacidade e boas práticas digitais, preparando-nos para construir um futuro mais protegido e mais informado”, disse.
“A tecnologia faz parte do nosso quotidiano e aprender a usá-la com segurança é fundamental”, finalizou a Presidente.
Durante a apresentação do programa assistiu-se a um momento musical e a dois momentos de teatro que foram protagonizados por alunos do 6º ano da Escola Básica e Integrada Roberto Ivens.

Frederico Figueiredo

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