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Em Budapeste

Como já referi noutras ocasiões, uma das vantagens de se estar deslocado em trabalho no centro da Europa é a facilidade de viajar para locais culturalmente muito relevantes. Neste caso, eu e a Sílvia armámos as bagagens, fizemos as malas e fomos uns dias para Budapeste.
A cidade capital da Hungria tem inúmeros pontos culturais imprescindíveis e possui uma enorme vivacidade. A cidade resulta numa simbiose muito agradável e irei aqui partilhar alguns dos bons momentos de que usufrui (na verdade não houve maus momentos).
Uma primeira ressalva é que, ao contrário do que seria recomendável, eu não planeei de forma adequada esta estadia. Por estarmos embrenhados em intensas atividades laborais até muito perto da partida, não foi possível fazer o “trabalho de casa”. Portanto, como resultado, fomos mais à descoberta e à aventura do que com um projeto detalhado, como a cidade merece.
Para terem uma ideia do nível de impreparação, partilho este embaraçoso facto. Tínhamos ideia, mais por ouvir dizer que outra coisa, que o edifício do Parlamento era um dos pontos obrigatórios da visita a Budapeste. Estava longe de imaginar que o edifício é mesmo monumental, lindíssimo e cheio de eloquentes referências à história recente daquele país. Uma belíssima, inesperada e, até certo ponto, embaraçosa surpresa.
Resolvemos passear no rio que divide a cidade em Buda numa margem e Peste na outra. Já tinha navegado no Danúbio noutros pontos do seu enorme percurso (é o segundo mais longo rio da Europa) e, talvez também por isso, não me pareceu um passeio extraordinário. É uma oportunidade de ver os grandes e históricos edifícios ribeirinhos da cidade, mas não tem a emoção, o simbolismo e a natureza do Danúbio entre a Roménia e a Ucrânia ou o glamour do Danúbio em Viena. Talvez esta minha sensação resulte também do abandono a que os tripulantes do navio nos vetaram. Há uma certa incapacidade dos cidadãos de Budapeste da minha geração, incluindo alguns dos que trabalham na área do turismo, em falar inglês, francês, espanhol ou português. Rapidamente compreendemos que esta era uma característica com que teríamos de viver. A comunicação é complicada e isto não é uma crítica; é apenas uma constatação que a outros níveis, que excedem este artigo, pode explicar a situação política daquele país. Mas, repetindo, este não é um artigo sobre isso.
Portanto, ali estava, no meio do Danúbio, olhando para os edifícios que reconhecia no mapa e de que ouvia a descrição no áudio-guia pré-gravado. Boring… Preferia estar enjoado, pensei a certo ponto, tal o tédio.
Neste meio abandono ocorreu-me colocar no leitor de música a valsa “Danúbio Azul” de Johan Strauss II. Tudo mudou. Uma viagem que, até ali, tinha simplesmente cumprido, transferiu-se para uma dimensão subliminar até chegar ao “2001 Odisseia no Espaço”. Quase dancei… Por falar nesse filme e na sua música, onde tanto haveria para dizer, incluindo o magistral uso do “Danúbio Azul”, refira-se apenas que a sua peça musical mais original, “Atmosphères”, foi escrita por um compositor Húngaro de nome György Ligeti. Tudo está ligado por uma desconhecida dança eterna e universal…
Pela cidade, procurei e encontrei referências que dizem muito à minha geração, como ao Sr. Rubik, o do cubo mágico. Não comprei um cubo, mas comprei uma t-shirt com um cubo.
Tendo a Hungria sido dominada durante largos períodos da sua história por potências estrangeiras (Turcos, Austríacos e Soviéticos), as influências e os gritos de resistência são evidentes, valorosos e esteticamente valiosos. A esse título, vale a pena visitar com tempo Galeria Nacional da Hungria e os seus arredores, incluindo o Bastião dos Pescadores. Belos passeios!
Como disse, esta viagem não foi muito preparada antecipadamente. No meio desta impreparação fomos remetidos para um certo vaguear contemplativo que aprecio. A certo ponto chegamos a um local que, compreendemos depois, era o bairro judeu de Budapeste. Ao contrário de segregado, esta é uma área de positiva e entusiasta convulsão cultural, social e religiosa. Desde a anarquia da Rua Kazinczy, à religiosidade dos muitos judeus facilmente reconhecíveis pelas suas vestes, aos museus e aos inúmeros bares em ruínas, este é um local a visitar. Não posso dizer que seja melhor ou pior que outros bairros nesta cidade, pois não conheço e não estudei o suficiente, mas é um sítio em que, até pela emoção do encosto a uma marginalidade aparente, vale a pena visitar.
Talvez haja um certo exagero nestas palavras, mas senti que parte de Berlim dos anos 80 se mudou para Budapeste. Eu vislumbrei essa sensação e valeu bem a pena!

  • Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia. 
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