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“Ainda há um longo caminho para reduzir assimetrias regionais e melhorar a qualidade de vida dos açorianos”, afirma a eurodeputada Catarina Vieira

No Dia da Europa, a eurodeputada açoriana eleita pelo círculo eleitoral dos Países Baixos, Catarina Vieira, destaca o valor da União Europeia como um projecto de paz e solidariedade, sublinhando a importância da mobilidade, coesão territorial e valorização das regiões ultraperiféricas, como os Açores. Em entrevista ao “Correio dos Açores”, a eurodeputada, nascida na Ilha Terceira, defende que a insularidade não deve ser vista como um obstáculo, mas como um contributo para a diversidade europeia, e deixa uma mensagem de incentivo aos jovens açorianos. “Façam proveito da Europa. Se puderem, embarquem em aventuras. Estudem no estrangeiro com o programa Erasmus ou candidatem-se a um passe de comboio gratuito para viajar pelo continente europeu com o programa DiscoverEU”, afirma.

Correio dos Açores – Qual é, na sua opinião, a importância do Dia da Europa, especialmente para regiões como os Açores e para as comunidades açorianas espalhadas pela Europa?
Catarina Vieira (Eurodeputada açoriana) – O Dia da Europa é uma oportunidade para lembrar que uma união de 27 países vizinhos, que escolhem viver em paz, é algo raro e que merece ser preservado. A União Europeia tem como base valores em comum: o respeito pela dignidade humana, a liberdade, a democracia, a igualdade e o Estado de direito. Acredita num projecto económico comum, na cooperação em vez da competição e numa política de coesão entre regiões, com o fim de reduzir as desigualdades económicas e sociais. Todas estas coisas são importantes, mas podem parecer também muito abstractas. Felizmente, para muitos europeus — e particularmente para aqueles que emigram — a Europa é algo muito tangível: é a oportunidade de viver, estudar ou trabalhar em qualquer país, atravessando fronteiras livremente e telefonando para casa sem pagar roaming. O Dia da Europa é um momento para celebrar tudo isto!

O que significa, para si, representar os Açores estando fora do território, na diáspora?
Como eurodeputada, quero representar bem todos os cidadãos europeus. Isto é, claro, um desafio para todos nós, que temos experiências muito específicas nos nossos próprios países e regiões. Para mim, ter vivido 18 anos nos Açores e, mais tarde, 8 anos nos Países Baixos significa ter duas perspectivas muito diferentes, mas complementares, sobre a realidade da Europa. A dualidade — de contextos, de culturas, de línguas — ajuda-me a compreender melhor pontos de vista diferentes.
Para além disso, como qualquer outra pessoa que emigra, trago comigo as experiências positivas e negativas desta Europa sem fronteiras. Se calhar, esse é o grupo que melhor estou preparada para representar: não os portugueses, nem os holandeses, mas sim os emigrantes que encontraram outra casa dentro da União.

Quais são, na sua opinião, os maiores benefícios que a União Europeia trouxe para os Açores?
A meu ver, os Açores — e, na verdade, Portugal — tiveram muito a ganhar com a integração na União Europeia. A UE tem tido um papel fundamental no desenvolvimento e na coesão territorial da região. Os fundos europeus têm apoiado o financiamento de infra-estruturas, a modernização da agricultura e das pescas, o apoio à inovação e a promoção da sustentabilidade ambiental. Muito está feito, mas ainda há muito por fazer.
Particularmente nas questões sociais, ainda há um longo caminho para reduzir assimetrias regionais e melhorar a qualidade de vida dos açorianos. No futuro, a criação de oportunidades — particularmente com vista a fixar os jovens — e a área da sustentabilidade e do ambiente, incluindo, por exemplo, a preparação da região para lidar com os efeitos das alterações climáticas, deverão ser temas-chave para investimentos.

Sente que os Açores — enquanto região ultraperiférica — têm espaço e reconhecimento suficientes no projecto europeu?
Há um mito de que a Europa está “lá longe” porque está fisicamente distante; contudo, quando falo com um holandês, que vive apenas a 2 horas de Bruxelas, frequentemente noto que ele se sente tão desligado e afastado da política europeia como um açoriano. A verdade é que a política europeia enfrenta muitos desafios no que toca à comunicação e à sua capacidade de estar ao alcance dos cidadãos — tanto os “lá longe” como os “cá perto”.
Posto isto, também é verdade que a insularidade representa alguns desafios acrescidos. Felizmente, a União Europeia tem vindo a reconhecer a especificidade das regiões ultraperiféricas, incluindo os Açores, através de políticas e programas específicos. Isto é, certamente, positivo. Ao mesmo tempo, a insularidade e a ultraperiferia não devem ser vistas apenas como obstáculos, mas também como características que enriquecem a diversidade europeia e que exigem soluções políticas adaptadas.

Que mensagem gostaria de deixar aos jovens açorianos que vivem fora ou que pensam emigrar para outros países da Europa?
Em primeiro lugar, aos jovens açorianos, em geral, gostaria de dizer: façam proveito da Europa. Se puderem, embarquem em aventuras. Estudem no estrangeiro com o programa Erasmus ou candidatem-se a um passe de comboio gratuito para viajar pelo continente europeu com o programa DiscoverEU.
Para aqueles que emigram ou pensam em emigrar: muitos o fazem por ambição profissional ou por razões pessoais, mas, infelizmente, muitos mais optam pela emigração devido à falta de oportunidades para concretizar os seus sonhos no sítio onde nasceram. É a nossa responsabilidade, como políticos a qualquer nível, trabalhar para que a emigração seja uma opção, e não uma necessidade.
Ainda assim, seja qual for a motivação, as portas da Europa estão abertas para todos nós, com oportunidades de enriquecimento pessoal e profissional que são negadas a tantas outras pessoas, noutros contextos. Como europeus, temos este privilégio. E, como açorianos, o partir e voltar também faz, de certo modo, parte da nossa cultura. Portanto, a quem escolhe emigrar, eu diria: o nosso arquipélago tem uma maneira de sempre nos manter por perto, mesmo quando escolhemos ir para longe.
Filipe Torres

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