A 20 de Maio de 2005 nascia, na Universidade dos Açores a Enf’in Tuna, Tuna da Escola Superior de Enfermagem. Hoje a Tuna organiza um espectáculo na Aula Magna da Universidade dos Açores, pelas 20h00, onde estarão presentes membros das várias gerações que compuseram a Tuna. Ao ‘Correio dos Açores’ o vice-magister e um Tuno fazem um pequeno balanço dos 20 anos, como é fazer parte de uma tuna e afirmam: “a Tuna é como se fosse uma segunda família”.
Correio dos Açores – Como é que nasceu a Enf’in Tuna?
Pedro Santos (Vice-Magister) – Historicamente, a Escola Superior de Enfermagem na altura, entretanto mudou de nome, sempre teve uma tradição um pouco separada dos restantes Campus Universitários. Desde a praxe, a própria estrutura física do edifício também é um pouco separada. E antes da existência da Enf’in Tuna, já havia um grupo informal que tinham gosto pela música na escola, que eram os ‘Seringa Aqui e Seringa Ali’. Anos depois então vem a nascer a Enf’in Tuna com um grupo de alunos do primeiro ano em 2004, primeiro semestre, depois com a primeira actuação em 2005. No intervalo entre aulas eles decidiram iniciar então este projecto, pegaram em algumas letras, começaram a escrever algumas letras de músicas, e depois a Tuna foi crescendo, e desde Novembro a Maio reuniram as condições necessárias para ter a sua primeira actuação, e fica então marcado como a primeira actuação e o nascimento da Enfim Tuna, 20 de Maio de 2005, no auditório da Escola Superior de Enfermagem, hoje em dia a Escola Superior de Saúde da Universidade de Açores.
Porquê serem uma Tuna mista, visto que, historicamente, o curso de enfermagem é composto maioritariamente por mulheres?
Sabrina Sousa (Tuno) – A escola já tem um número limitado de pessoas, não é a mesma quantidade que tem aqui na Universidade. Além de que o facto de poder juntar mais homens dá um aumento à música. Alguns dos fundadores da Tuna são homens. A Tuna foi fundada tanto por homens como por mulheres, em maior número por mulheres, porque, caracteristicamente o curso de enfermagem é maioritariamente composto por mulheres. Posso adiantar que cerca de 50% da Enf’in Tuna é composta por enfermeiros que já são licenciados.
Pedro Santos – como a Sabrina estava a dizer, ainda hoje em dia temos dificuldade em conseguir elementos suficientes para uma renovação geracional da Tuna. Nós temos elementos muito antigos que ainda hoje em dia são enfermeiros, por gosto, mas também um pouco por necessidade.
A Enf’in Tuna é uma Tuna que recebe alunos de outros cursos, mas lá está, é sempre mais difícil vir para uma Tuna de Enfermagem do que ir uma Tuna onde tem o colega de praxe, colegas de turma de turma noutros sítios.
Como é se podia combater esta falta de elementos na turma?
Pedro Santos – É muito difícil. Nós actualmente vemos que não é só na Enf’in Tuna, mas em todas as tunas, núcleos e associações. Com o passar dos tempos e das gerações, o associativismo tem vindo a diminuir em tudo. Não só na Universidade, mas também fora da Universidade. E posso estar a dizer que é um pouco geracional mas, também, acho que é um derivado do estilo de vida actual. Mesmo associações que são dirigidas fora da universidade têm-se vindo a debater com estas dificuldades mais recentemente.
Que diferenças existem entre a Enf’in Tuna e as restantes Tunas da Universidade dos Açores?
Pedro Santos – Penso que não haja muitas diferenças. As Tunas da casa normalmente são conhecidas por ter um bom ambiente e gostar de festa. São tunas simpáticas, receptivas e esse é o nosso ponto forte. Somos conhecidos fora de São Miguel mesmo por causa disso, temos uma boa relação por todos os sítios por onde passamos. Penso que uma das grandes diferenças é que actualmente, a maior parte das pessoas que entram na Tuna, entram sem conhecimento de música. Ou seja, entram sem saber tocar instrumentos e sem qualquer formação musical. Vamos ganhando gosto e vamos aprendendo muito pelo que o pessoal mais antigo que está na Tuna vai ensinando-se.
Sabemos que há outras Tunas, especialmente Estudantinas, onde aí sim há pessoal com alguma formação musical e tudo mais. Mas de resto, acho que a nível de ambiente e de convívio temos todos uma actuação muito similar.
Que naipes é que existem dentro da turma?
Sabrina Sousa – Temos cordas, nomeadamente violas, bandolins, esporadicamente cavaquinhos e contrabaixo. Temos sopros, actualmente temos um saxofone, um oboé e um clarinete. Depois disso, percussão, que é o bombo e outras coisas que vamos juntando, como uma pandeireta de ritmo. Temos no espectáculo de palco os pandeiretas e estandartes. Em termos de voz também temos solistas. Temos uma primeira voz que é composta maioritariamente por mulheres e homens, e uma segunda voz que é só mulheres. Os homens por vezes fazem aquilo que chamamos de uma terceira voz.
Como é que funciona a hierarquia dentro da Tuna?
Sabrina Sousa – Inicialmente, quando alguém entra para a nossa Tuna, são designados por aprendizes. Eles aprendem e depois quando estão capacitados, já sabem algumas músicas e já têm alguma experiência, fazem uma audição e passam para Caloiros, também chamados de dejectos. Depois de terem alguma responsabilidade passam a seringas e a última etapa é os tuno. Passados três anos em tunos temos os lamparinas. Temos mais uma hierarquia, que ninguém consegue actualmente pertencer a essa hierarquia, que são os Enf’in Tunos. Os Enf’in Tunos são as pessoas que fundaram a Enf’in Tuna.
Já tem algum CD pensado para gravar?
Pedro Santos – Já foi pensado várias vezes, até porque a maior parte das músicas que levamos a palco são originais. Inclusive a actuação que iremos ter hoje só levaremos os nossos originais.
Como somos uma Tuna pequena, às vezes é difícil. Porque para gravar um CD É maioritariamente despesa do que lucro. Hoje em dia já não conseguimos ter lucro com a gravação de um CD e ainda não tivemos a oportunidade para o fazer. Já foi várias vezes discutido, poderá ser um futuro projecto mas, actualmente, ainda não foi possível.
Onde é que a Tuna vai buscar inspiração para os seus originais?
Paulo Santos – A maior parte das letras, vamos buscar mesmo ao curso de Enfermagem, àquilo que vivenciamos um pouco durante os cursos de Enfermagem, àquilo que é ser ilhéu, que é morar nos Açores, que é morar em São Miguel e à vida de estudante em si. É maioritariamente isso
Se tivesse que enumerar 5 marcos históricos dos 20 da Enf’in tuna, quais seriam?
Sabrina Sousa – Podemos começar pela primeira actuação, onde nem eu nem o Pedro tivemos presentes, mas que marcou o início da nossa Tuna. Acho que esse é o primeiro marco histórico da nossa Tuna. Agora os restantes. Difícil. Também já actuamos, em tempos para o Presidente da República.
Pedro Santos – Nós actualmente temos seis edições de Festim. Penso que o primeiro Festim poderá ser também um marco histórico. Foi quando se começou tudo de zero. Ainda ninguém sabia como é que se organizava um festival. Nunca se tinha feito. Nós não tínhamos nome a nível nacional para trazer Tunas e no primeiro festim trouxemos algumas Tunas fora de Portugal também. Portanto acho que também será, sem dúvida, um marco histórico da história da Enf’in Tuna. A nossa primeira participação num festival fora de São Miguel, nós e os restantes Tunas da casa estamos numa região insular, portanto não temos a mesma convivência que as tunas do continente têm, não temos a mesma facilidade em participar em festivais que eles têm, portanto só o facto de termos nome fora sendo uma turma recém-criada para sermos convidados a participar acho que por si só também é um marco histórico. Nós temos muitos momentos privados, momentos particulares que temos entre a Tuna e entre Tunos. Algumas ocasiões pessoais e privadas que já ocorreram para Enf’in tunos e algumas coisas na história da Enf’in Tuna que certamente marcam e ainda hoje em dia são relembradas mas que são coisas mais internas, mais pessoais, mas assim, a nível externo penso que nenhum festival foi mais importante, que nenhum Festim foi mais importante que outro. Futuramente poderá ser a gravação de um CD o quinto marco.
O que é que significa para vocês pertencerem à Enf’in Tuna?
Sabrina Sousa – Eu não natural de São Miguel e o Pedro também não. Ou seja, mal chegámos aqui, tivemos contacto com a Tuna e foi como se fosse uma segunda família. Passámos momentos juntos. Muitas vezes eram eles que podiam buscar o aeroporto, por o exemplo. Ou seja, é uma segunda família, sem dúvida alguma. Também ajuda-nos a estar preparados para o futuro.
Pedro Santos – Acho que também foi uma boa fase de crescimento pessoal. Nós, na Tuna, começámos como caloiros, na altura não gostámos de muitas coisas que fazemos e ouvimos, mas em retrospectiva e agora estando no lugar de Tunos, percebemos que sim, é um momento de aprendizagem de crescimento, aprendemos muito sobre responsabilidade, sobre timming, sobre respeito. Ensina-nos muito, ensina-nos a adaptar e a improvisar.
Frederico Figueiredo