Ponta Delgada transforma-se num palco de fé e gratidão com a chegada das Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. De mãos cheias de círios e ramos de flores, os fiéis expressam a devoção que os move, testemunhando os milagres e a esperança que esta figura central do culto açoriano representa nas suas vidas. O ‘Correio dos Açores’ inquiriu alguns dos presentes fiéis para saber qual é o significado do Senhor Santo Cristo nas suas vidas.
O Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, enche-se de cor, emoção e espiritualidade nesta altura do ano, quando se celebra a maior festa religiosa dos Açores: as Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Vindos de todas as ilhas, do continente e da diáspora, milhares de fiéis reúnem-se no Campo de São Francisco para agradecer as graças alcançadas e renovar a fé.
Entre os inúmeros peregrinos que atravessam as ruas da cidade, encontra-se Verónica, acompanhada por Manuel, ambos naturais da freguesia da Covoada. De círios na mão e com olhar emotivo, o casal afirma que o Senhor Santo Cristo é uma bênção constante nas suas vidas.
“Temos muita fé no Senhor e é ele que nos ajuda a combater as dificuldades do dia-a-dia”, declara o casal.
Junto ao Convento da Esperança, cruzamo-nos com Lúcia e Beatriz, mãe e filha oriundas da freguesia de São Roque. Beatriz segura dois círios com firmeza, que serão utilizados no cumprimento de uma promessa que realizarão durante o dia de hoje. A jovem confessa que “é o acreditar que nos move”, revelando a importância desta tradição e da figura do Santo Cristo na sua vivência religiosa.
“Santo Cristo é o meu guia
espiritual para toda a vida”
A devoção chega ao outro lado do Atlântico e toca os corações de muitos que nem açorianos são de origem. É o caso de José, vindo de Portugal continental, que participa nesta festa há quase trinta anos. Este ano, além da fé, traz também consigo a música, pois integra uma banda açoriana que irá actuar durante os festejos.
“Venho às Festas do Senhor Santo Cristo porque tive uma bênção e venho pagar uma promessa. Ele é o meu guia espiritual para toda a vida”, declara o músico e crente.
Da cidade da Lagoa chega Madalena com a neta Carolina. Ainda cedo, foram comprar um círio e rezaram uma oração no Campo de São Francisco. Para Madalena, esta celebração tem “um significado enorme no nosso coração”. Com emoção, deseja “agradecer e pedir muitas graças” e faz um apelo para que se “iluminem os corações e as cabeças de todos os jovens”.
Já Inês, estudante universitária a viver em Lisboa, não deixa de regressar à sua terra, à freguesia da Fajã de Cima, nesta altura do ano. Traz consigo um ramo de flores, que entregará em sinal de homenagem. Apesar da distância, mantém a ligação ao seu lugar e à fé que lhe foi sempre transmitida.
“Eu venho de uma família extremamente religiosa e, para mim, a figura de referência foi sempre o Senhor Santo Cristo”, explica a fiel.
As flores são símbolo de homenagem
No meio do movimento constante de fiéis, há uma figura que também testemunha a intensidade destes dias: a florista do quiosque situado no Largo 2 de Março. A lojista colocou em exposição uma montra colorida de flores frescas.
“São dias que para nós floristas têm sempre um bom andamento. Por enquanto, não tenho qualquer razão de queixa”, afirma a comerciante.
As flores destinam-se em grande parte para homenagear Madre Teresa da Anunciada, devota do Senhor Santo Cristo dos Milagres. A sua estátua encontra-se situada no jardim interior do Convento da Esperança, e é neste local que as flores são colocadas.
A cidade de Ponta Delgada transforma-se nestes dias. A fé toma conta das ruas, dos corações e das promessas. Cada círio aceso, flor deixada e oração murmurada, reflecte a profunda ligação de um povo ao seu Santo. O Senhor Santo Cristo dos Milagres, continua a ser um “farol espiritual” para milhares de crentes, que aqui se reúnem para agradecer, pedir e renovar a esperança.
José Henrique Andrade
