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HDES e Centro de Oncologia dos Açores lançam projecto para combater baixa percentagem de rastreios ao cancro colorrectal

O Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada e o Centro de Oncologia dos Açores lançaram ontem o projecto ONCOFUTURE4AZ, um consórcio que vai implementar, pela primeira vez na Região Autónoma dos Açores, uma abordagem personalizada e inovadora à prevenção, diagnóstico e tratamento do Cancro Colorrectal. O projecto integra perfis genéticos (germinal e somático), fenotípicos, microbioma e inteligência artificial, respondendo aos desafios de uma região ultraperiférica e geograficamente dispersa.
O ONCOFUTURE4AZ tem cinco principais objectivos: caracterizar o CCR nos Açores através da análise de dados genéticos, fenotípicos e de estilo de vida de doentes da Região Autónoma dos Açores, permitindo intervenções adaptadas à realidade regional; modernizar o diagnóstico com painéis NGS (sequenciação de nova geração) para cancro hereditário, em parceria com o IPO-Porto; digitalização de histologia e algoritmos de inteligência artificial, em colaboração com INESC TEC–IMP Diagnostics; identificar biomarcadores no microbioma (com o Instituto Gulbenkian de Ciência/Medicina Molecular) para aumentar a sensibilidade de métodos não invasivos de rastreio e apoiar terapias de modulação do microbioma; complementar rastreio populacional com IA através do ColonFlag no COA, potenciando a deteção precoce e a adesão aos programas regionais de rastreio (ROCCRA) e acompanhar e aconselhar nutricionalmente os participantes, promovendo literacia e estilos de vida saudáveis.
Com este projecto são esperados mais diagnósticos precoces e redução de casos em fases avançadas de Cancro Colorrectal; uma melhor escolha terapêutica, com potencial acesso a ensaios clínicos para doentes com mutações de resistência; um uso mais eficiente de recursos, através de triagem inteligente e de decisões baseadas em dados e capacitação local de laboratórios e equipas clínicas, diminuindo assimetrias e deslocações desnecessárias.
O CCR é uma das principais causas de morbilidade e mortalidade oncológica na Europa e em Portugal. Em contextos insulares, a distância e a dispersão geográfica constituem barreiras à prevenção e ao diagnóstico atempado; o ONCOFUTURE4AZ mitiga essas barreiras com tecnologia, integração de dados e capacitação local.
Na apresentação do projecto, Mónica Seidi, Secretaria Regional da Saúde e Segurança Social, enalteceu a sinergia existente entre os vários serviços regionais de saúde. “Qualquer sinergia entre os Serviços Regionais de Saúde é sempre bem-vinda. Temos aqui um consórcio organizado entre várias instituições do Serviço Regional de Saúde, nomeadamente o Serviço de Oncologia e vários serviços do Hospital do Divino Espírito Santo que acabam por potenciar o que é o projecto inicial”.
“O que queremos é que se desenvolvam projectos inovadores, neste caso em concreto estamos perante o caso de cancro colorretal, que já percebemos que tem uma adesão baixa no seu programa de rastreio face aos métodos que são utilizados e aquilo que podemos contar ou que esperamos contar com este projecto é que sejam identificadas outras formas de assinalar de forma atempada utentes que possam vir a estar com maior risco de desenvolvimento deste tipo de cancro. É uma mais-valia. O que foi explicado na apresentação é que os utentes identificam a forma de rastreio não é muito apelativa e seria melhor se fosse possível fazer uma simples analise ao sangue. Esperemos que daqui a três anos, na fase final deste projecto, conseguíamos efectivamente identificar outros marcadores e melhorar a adesão de uma patologia que é mortífera”, explicou a governante.
No que diz respeito ao cancro do pulmão, a titular da pasta da saúde afirmou que “a Região terá o seu programa de rastreio, no que diz respeito ao cancro do pulmão. A informação que tenho é que não há, propriamente, um programa organizado de rastreio a nível nacional. Tem havido algumas experiencias. Independentemente disso, como tem sido público, a Região está a preparar o seu próprio programa de rastreio, relativamente ao cancro do pulmão”.
“Neste momento temos o manual executivo concluído, a plataforma informática onde serão publicados os resultados também está adjudicada. Estamos em fase de aquisição de equipamentos que são necessários para uma segunda fase, não tanto para a TAC, uma vez que estes equipamentos já existem, mas para a segunda fase são necessários mais equipamentos altamente dirigidos, do foro da pneumologia. Estamos em processo de aquisição destes equipamentos e depois poderemos avançar de forma sustentada para o nosso programa de rastreio organizado. A indicação que tenho é que será até ao primeiro trimestre de 2026”, concluiu Mónica Seidi.

Criar novos marcadores
para aumentar o rastreio

Cláudia Branco, responsável pela Unidade de Genética e Patologia Molecular do Hospital do Divino Espírito Santo, faz parte da direcção do consórcio deste novo projecto. A responsável esclareceu que o ONCOFUTURE4AZ pretende “implementar a medicina personalizada no estudo do Cancro Colorretal nos Açores. Tem duas instituições muito ligadas à saúde, a detectar precocemente e a ser inovadores para que possamos oferecer o melhor aos nossos utentes, quer os saudáveis quer os doentes”.
“A ideia é criar novos marcadores e aumentar ainda mais o rastreio porque as pessoas têm uma tendência a não querer aderir. Vamos tentar determinar novos bio-marcadores, implementar novas tecnologias e formar as pessoas, ganhar literacia e conseguir ter os doentes mais precocemente identificados e desenvolver a saúde. Queremos aproximar os Açores do que se faz no mundo e que não dependamos do nosso código postal, porque a saúde é um bem essencial para todos nós”, disse a responsável.
Questionada sobre os apoios obtidos para a realização deste projecto, Cláudia Branco informou que tiveram “apoio do Açores 20-30, programa de financiamento europeu e depois tivemos apoio governamental de 15% do valor. Foi um dos projectos ganhadores e temos de agradecer o facto de termos concorrido. A saúde esteve fora do investimento nos Açores e agora, com estes projectos, vamos crescer e acompanhar. O valor total do projecto foi de 409.887 mil euros e depois tivemos os restantes 15%. Estes valores são divididos pelas duas entidades que têm os seus planos de desenvolvimento”.

Menos de 50% das pessoas
fazem o rastreio…

João Macedo, presidente do Centro de Oncologia dos Açores, afirmou que “a média anda entre 90 e 100 casos anuais de doentes com cancro do cólon e recto. Temos cerca de 70 mil utentes elegíveis em cada dois anos, e desses, menos, praticamente, 30% apenas é que levam o seu processo de rastreio até ao fim.
 O processo é muito simples, as pessoas recebem um convite em casa, manifestam a intenção de participar, depois recebem um pequeno tubo para colheita de fezes, uma amostra muito pequena,  nada que deva assustar as pessoas, mas infelizmente só cerca de 30% das pessoas é que chegam ao fim do processo de rastreio.”
“Sabemos que nesta patologia, sobretudo no cancro do cólon e recto, a detecção precoce é fundamental para o sucesso do combate à doença, ou seja, porque não é só os cancros que nós detectamos em estado precoce, é também as lesões que o rastreio permite  retirar, lesões pré-malignas, ou seja, mesmo antes de desenvolver o cancro, consegue-se de uma forma muito menos invasiva retirar essas lesões, portanto, dos casos que fazem o exame hospitalar de aferição, praticamente metade, entre 40% a 50%, acabam por retirar  pólipos com potencial maligno, é também uma das grandes mais-valias do rastreio.
“O que nós procuramos com este projecto são métodos alternativos para tentarmos que as pessoas que não participam, que sejam chamadas a participar, porque efectivamente se há rastreio onde tem uma taxa de sucesso muito elevada a detecção precoce, é no cancro do cólon e recto”, concluiu João Macedo.
Frederico Figueiredo
 

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