A música, a dança e as tatuagens são inspirações para o jovem Rodrigo Sousa, fundador da marca de roupa streetwear BAD CAT. “Descrevo-me como sendo uma pessoa disruptiva e criativa”, revelou o criador da t-shirt “TILES”, peça que foi inspirada no azulejo português, e é definida pelo próprio como sendo um “azulejo cultural daquilo que é a arte urbana”.
Correio dos Açores – Quem é o fundador da BAD CAT?
Rodrigo Sousa (Criador da BAD CAT) – Tenho 25 anos e estou a finalizar neste momento o meu mestrado em Ciências Empresariais com especialização em Marketing. Desde novo que sempre estive ligado às indústrias criativas. Sempre fui muito apaixonado por dança, música e tatuagens, sendo assim descrevo-me como sendo uma pessoa disruptiva e criativa.
Já fiz um bocadinho de tudo, comecei desde novo na restauração e a nas obras para conseguir pagar a carta de condução, mas rapidamente vi que aquilo era uma vida complicada, sendo assim, decidi optar por um curso universitário, que foi o de Relações Públicas e Comunicação, contudo só a licenciatura não era suficiente para o que eu queria, daí ter ingressado num mestrado.
A nível profissional, fui chefe do departamento de Marketing da Mitsubishi, na Dionísio Carreiro de Almeida e faço também freelancing com dois estúdios de tatuagem, um como gestor de loja e outro com marketing pago, faço ainda design gráfico para projectos como o Marca Pistola e a Rádio Vaivém.
Como surgiu a criação da marca BAD CAT?
Quando eu era mais novo, tentei criar uma marca de roupa, a “culture”, mas eu tinha 18 anos, mas era uma coisa sem fundamento, também não tinha o capital para investir, conduto essa experiência e os meus projectos de música criaram a base daquilo que eu queria para o futuro, que era partilhar a minha arte.
A marca em si, começou através do projecto BAD CAT, que inicialmente era um projecto onde eu queria exprimir-me de forma visual e então criei uma marca de arte e um pseudónimo artístico, o BAD CAT.
A BAD CAT, como marca de roupa, surgiu da paixão que tinha pela moda, que se foi intensificando ao longo dos anos, mas acima de tudo por querer usar roupa que ninguém tem e por sempre ter o desejo de ver as pessoas utilizarem algo que fui eu que criei.
Começou em São Miguel, uma vez que eu consegui reconhecer uma falha que existia no mercado, ou seja, na altura da sua fundação não existiam muitas marcas de streetwear na Região, apenas a Azores Garden.
O nome BAD CAT, não tem um significado profundo, começou através de um pequeno desenho numa altura em que eu estava a aprender a desenhar. Eu apenas queria um nome que soasse bem e que fizesse as pessoas perguntar “isto o que é?”.
Na sua opinião, existe espaço para que o streetwear e a cultura urbana cresçam na ilha?
Acho que a arte urbana anda a sofrer um “boom” nos Açores, principalmente em São Miguel, seja no mundo da tatuagem, no mundo da dança ou no mundo da música. Grande parte deve-se ao turismo, temos atraído uma bolha de turistas que procuram estes nichos e procuram a nossa cultura.
Isso faz com que os bares estejam à procura de músicos e faz com que os turistas estejam à procura de roupa que seja especificadamente da ilha e isso faz com que as pessoas da ilha comecem a valorizar mais a nossa cultura.
Qual o maior desafio que enfrenta ou enfrentou sobre a marca?
Talvez a minha falta de paciência para fazer marketing, eu sou um profissional de marketing e às vezes custa-me chegar a casa e fazer a comunicação de um projecto, que infelizmente nem sempre tem a maior adesão, mas felizmente tenho pessoas e eventos que me apoiam imenso e não deixam o projecto morrer, no entanto chegar ao público certo nem sempre é fácil.
Como foi a recepção da comunidade durante os primeiros lançamentos?
O primeiro lançamento foi muito restrito, uma vez que não houve comunicação, foi para um círculo muito pequeno de pessoas, este também não tinha a melhor qualidade. Já o segundo lançamento foi muito bem recebido e quase que esgotamos, sobraram 7 unidades de 40 disponíveis e isso enche-me o coração, porque eu não estava à espera desta adesão, só tenho a agradecer a toda a gente que colaborou comigo, desde todos os meus amigos que partilhavam, pessoas que eu não conhecia que partilhavam tudo o que eu fazia e especialmente ao Vargalho, que tirou excelentes fotografias e profissionalizou a marca.
Quais são as maiores influências no processo de criação das peças da BAD CAT?
A marca é influenciada por tudo aquilo que eu consumo a nível artístico e não só, tudo o que consumo no geral acaba por se reflectir um bocado na arte e na maneira que eu faço os designs, se eu vejo um filme, ele pode inspirar-me a fazer um gráfico.
A indústria da tatuagem também influencia muito os futuros gráficos que eu estou a trabalhar. Um outro exemplo é a música, a música que eu ouço é influenciada pela maneira que eu me visto e a forma como me visto vai ser reflectida nos designs que vou criar, eu acho que acaba por ser uma colagem de tudo aquilo que gosto.
Sabemos que a moda vive de tendências, como é que se concilia as tendências globais e locais para a criação de uma peça exclusiva?
Eu tento não seguir as tendências, obviamente que sou sempre inspirado por marcas que eu gosto, mas eu tento ser o mais genuíno possível e é isso que a marca acaba por representar um bocado, o ser genuíno, é um acto de contracultura, é um bocado de mim e um bocado daquilo que eu quero passar para o mundo.
Tento não olhar muito para o que está à minha volta, e mencionado o Virgil Abloh, fundador da Off-White, devemos olhar para o que os outros estão a fazer e não nos importar com isso e fazer o nosso próprio caminho.
Como é que a cultura açoriana entrou e continua a entrar nos lançamentos?
No último drop, teve um peso enorme. O facto de termos um turismo muito presente deu-me vontade para criar algo regional e até nacional e como eu me orgulho muito da nossa Região e de ser português, quis juntar um bocadinho aquilo que queria transmitir com algo que é emblemático para nós, o azulejo.
O “TILES” é um azulejo cultural daquilo que é a arte urbana, ou seja, pegar na cultura tradicional e dar aqui uma visão diferente, de afirmar que aquilo é nosso.
Quais os planos futuros da BAD CAT?
Existiu uma altura em que eu pensei em desistir, porque não via muita adesão e por falta de tempo devido a trabalho e mestrado, mas felizmente tem me aparecido mais oportunidades e as pessoas não me querem deixar desistir. Então eu fui para o IUFA, International Urban Fest Azores, e durante o evento estive a trabalhar no próximo lançamento e acredito que os próximos passos sejam de trabalhar mais na comunicação, no marketing e criar ainda uma marca mais forte. Quero ainda aplicar o meu conhecimento todo à BAD CAT.
Quero preparar o próximo lançamento que está previsto para Dezembro ou Janeiro de 2026 e continuar com a contracultura e a minha expressão própria.
Se pudesse deixar um apelo à comunidade, que apelo seria?
Não tenham medo de olhar para os projectos mais pequenos, sinto que muitas vezes as pessoas da Região, só olham para aquilo que está famoso ou internacionalmente ou nacionalmente e muitas das vezes só olham para o que está a funcionar cá, depois de o ver a funcionar em outros locais.
Comprem roupa local de todos os que estão a fazer as suas marcas, invistam em iniciativas locais e apoiem a Região porque a nossa Região tem muito para oferecer.
DP
