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Até sempre!

Nas terceiras eleições autárquicas da era democrática, Fernando Monteiro volta à Câmara. Em 1983, de sete vereadores, o PS elegeu dois: Ele e Daniel de Sá. Estaria a maioria (PSD) mesmo interessada em pôr fim ao ‘enguiço’ da piscina da Eira? E disposta a ter Monteiro como parceiro? Vamos ver? A 3 de Janeiro de 1983, tomam posse. A primeira oportunidade surge em Fevereiro. Vai à reunião ‘um Estudo para a Piscina Municipal, elaborado pelo Sr. Arquitecto Agria, da Direcção Regional da Habitação, Urbanismo e Ambiente da Secretaria do Equipamento Social.’ Apesar da acta não o dizer, arrisco a dizer que foi a resposta a um pedido da vereação anterior. E que o projecto abordou a arquitectura da piscina e sua envolvente. Mas quais? Não se diz. Fosse o que fosse, foi – em parte ou no seu todo -, posto em prática? Não se sabe. Antes de ir mais além nesta narrativa, chamo-vos à atenção para o seguinte: a Câmara, ao mesmo tempo que pretendia terminar a piscina, pretendia remodelar as Poças e (caso raro então) dar algumas condições (ainda que mínimas) à Praia [Monte Verde]. Sete dias depois da reunião em que se discutiu o projecto de Agria, o Presidente Artur Martins (PSD), a quem Monteiro mais tarde reconhecerá ter tentado resolver a questão da Piscina, incluía a piscina Municipal e a Praia da Ribeira Grande [Monte Verde] na sua proposta ‘de sinalização de locais turísticos do Concelho.’ O concluir daqui? Que estava tudo bem com a piscina? Não. Ou que nem tudo ia bem mas que em breve se estaria? É o mais provável.
Dito isto, foi a piscina aberta em 1982? Poderá ter estado aberta, mas, se foi aberta, terá causado alguma dor de cabeça à Câmara. O seu calcanhar de Aquiles era (e seria) a renovação da água. Porque digo isso? Porque, veja-se, em Abril de 1983, a Câmara desiste da água do mar (como fonte de abastecimento da piscina) e vira-se para a água doce. Antes de o fazer, precisava de saber onde ir buscar a água doce. Para isso, a vereação, presidida por Artur Martins (PSD), a uma só voz, incumbe Monteiro de encontrar ‘uma rápida solução de funcionamento da piscina.’ Na reunião de 28 de Abril, Monteiro (entusiasmado) informava a Câmara das suas diligências. Recebera ‘o técnico da COBA (Lisboa).’ O que lhe havia ele dito? Não se sabe. O que disse à Câmara, infelizmente, para nós, não ficou registado em acta, a acta apenas diz que ‘provavelmente dentro de uma semana (este: arquitecto da COBA) apresentará um cronograma de acções e no prazo o estudo que lhe foi solicitado.’ O que enviou depois o técnico da COBA? A acta da reunião, mais uma vez, não nos esclarece, aí apenas se diz: ‘proposta para elaboração do Projecto para concurso da captação de água para a piscina municipal.’ A resposta da Câmara não foi imediata, prudente, ‘antes de tomar qualquer decisão,’ pediu uma segunda opinião: ‘ao Sr. Doutor Victor Hugo Forjaz.’ Para quê? Uma opinião acerca ‘da viabilidade do pretendido.’ Ou seja, da captação da água doce. A 21 de Julho, Forjaz mandava a sua opinião: ‘O plano do COBA deve inserir uma análise geoelectrica convenientemente explícita no sentido de se saber se realmente há água na zona onde se vai executar o furo (…).’ Aproveitava para oferecer os serviços do Departamento de Geociências ‘(…) pela quantia de um milhão, cento e sessenta e seis escudos (…).’ A Câmara (inteira) continuou a confiar em Monteiro, desta vez, confia-lhe uma nova missão: pede-lhe para ‘(…) no prazo de quinze dias, contactar com o Senhor Engenheiro Vieira e o Doutor Hugo Forjaz, tendo em vista a análise do abastecimento da piscina com água doce e comparação dos respectivos custos para ulterior informação à Câmara.’ Na sequência disso, a 11 de Agosto, Forjaz apresenta uma proposta de contrato em cinco pontos entre o Departamento e a Câmara. A Câmara concordou.
Em 1983, a piscina abriu? Se abriu, continuou a dar problemas sérios. Em finais de Outubro de 1983, um técnico municipal de arquitectura, dizia duas coisas: não havia ainda bomba nem local seguro para a instalar. Mais dizia. Além da bomba e da construção do seu resguardo, era necessário resolver três questões essenciais: a maquinaria de filtragem (imprescindível), a alvenaria da piscina (aconselhava a azulejá-la) e a as estruturas de apoio (referia-se a balneários e sanitários). Chegou a ser feito alguma coisa disso? O que foi feito em 1984? Na reunião de 6 de Junho, vê-se que a Câmara esta a fazer alguma coisa a esse respeito: quer preparar com todo cuidado o futuro da piscina. Quer uma água da piscina livre de elementos bacteriológicos (patológicos). À cautela, antes de captar a água ‘de rega das Gramas (…),’ manda analisá-la. Nessa reunião, são conhecidos os resultados das ‘análises bacteriológicas.’ A água encontrava-se ‘(…) bacteriologicamente imprópria e quimicamente não contaminada.’ Perante esse resultado, deu ordens ‘ao Gabinete Técnico para (…) (proceder ao seu) tratamento quando da futura ligação à piscina.’ A piscina, ainda não abastecida com água da rega, nem tratada, terá aberto em 1984? Abriu. E em 1985? Funcionou. Com lacunas. Era o último ano da vereação eleita em Dezembro de 1982. Quando foi feita a ligação à água das Gramas? Talvez ainda a tempo do Verão de 1985? A 8 de Maio de 1985, vendo aproximar-se as Festas do Feriado Municipal, bem como a época balnear, Monteiro está bastante apreensivo. Diz ele: ‘na perspectiva de uma intensa actividade desportiva com base na Piscina Municipal,’ prova de que a piscina abrira, em 1984, propõe ‘que os diplomas de presença e de aproveitamento do curso de natação levado a efeito ao abrigo do programa OTL/84 [na piscina ou nas Poças?].’
E em 1986? Abriu? Entretanto, houve novas eleições (para o quadriénio de 1986-1989) e o novo Presidente era Hermano Mota (PSD). Pertencera ao Círculo dos Amigos. Pela segunda vez consecutiva, Monteiro perde. Apesar disso, reduz a distância para o primeiro lugar. Consegue um terceiro vereador para o PS. Neste segundo mandato, porém, a relação aberta, quase de igual para igual, que mantivera com a anterior maioria, vai mudar. Torna-se tensa. Conflituosa. À espera das obras prometidas que tardavam a chegar, Monteiro perdia as estribeiras. Furioso, intervém na vereação de 2 de Maio de 1986: ‘Quando acabará o enguiço!’ Aponta o dedo acusador ao ‘Gabinete Técnico por não cumprir as deliberações desta Câmara concernentes à funcionalidade da piscina.’ E atira a culpa ao topo do topo, desconfiando ‘da vontade política desta Câmara em não proporcionar com a rapidez e oportunidade necessárias a por em pleno funcionamento uma estrutura imprescindível ao apoio e dinâmica desportiva deste tão carente concelho.’ Em resposta, o Presidente Mota ‘esclareceu o Senhor Vereador que a piscina está cheia e a funcionar.’ Funcionou mesmo? Com os problemas resolvidos? Só para inglês ver? E, em 1987? E em 1988? Foi feito o que fora prometido? Não. Deu problemas? Deu. A água, que já era a água doce da rega das Gramas, sem tratamento, ou com tratamento mas insuficiente, ao cabo de quinze dias estava totalmente incapaz. Pela sua dimensão e profundidade, a piscina era ‘um autêntico monstro.’ Difícil de abastecer. O que se poderia fazer? Reduzi-la. Com essa ideia na manga, prático, Dinarte Miranda, vereador do Pelouro, convence os colegas da Câmara a irem consigo às ‘Poças’ e (à) piscina municipal (…).’ Ali ‘apresentou (…) o (seu) plano de melhoramentos a efectuar nos respectivos pólos.’ O que propôs para piscina? Eliminar a torre de saltos e entulhar o poço de saltos. Deu certo? Melhorou, sim, mas, não acabou com os problemas da piscina. Havia outros?
Canto de Cisne. Na reunião do dia 14 do mês de Julho de 1989, a escassos meses de novas eleições autárquicas, às quais Monteiro não se recandidataria, cansado, desiludido e (quem sabe?) talvez já acusando os primeiros sintomas da doença que o vitimaria dali a cinco anos, Monteiro arremete, furioso, com o seu DESABAFO FINAL: ‘Nunca na vida de um homem público uma coisice pública como a problemática da Piscina da Ribeira Grande gerou tanta polémica e enorme inércia na sua solução.’ Repete a acusação de há três anos: culpa o presidente, o anterior – concedia -, ainda tentara, e o Gabinete Técnico (que agia às ordens do Presidente). Não existiam piscinas como as da Eira por esse mundo fora? Era o que não faltava. E funcionavam na perfeição. Era perseguição política. Acusava. Em abono da verdade, a ideia das Poças, vinha já da década de sessenta. Perdera apenas fôlego quando a Eira fora escolhida em 1971. Mas não morrera. A partir de 1987, a cada falhanço da Eira, a opção Poças renascia. Não admira pois que, poucos meses após a nova vereação ter tomado posse, em Maio de 1990, já sem Monteiro, mas com o mesmo Presidente, a Câmara (com dinheiro de uma Secretaria Regional) já encomendara um projecto para obras nas Poças (entre as quais uma piscina). Na verdade, não houve projecto. Facto que levou a vereação socialista a contestar (não a localização) mas a obra (sem projecto).
Não vou ocupar-me aqui (deixo-o para outra ocasião e local) a escavar as razões da troca da Eira pelas Poças. Para já deve satisfazer dizer-se que a maioria mudou de ideias. E que sendo poder, com ou sem razão, pôde mudar o que quis mudar. E a minoria nada pôde fazer para o evitar. Todavia, seja qual for a razão ou razões, e haverá razões de parte a parte, a favor ou contra, estou bastante convicto de que não será controverso dizer-se que o plano de acção de 1971, de Monteiro e dos seus pares, para promover o Desporto na Ribeira Grande, apostando na construção de uma piscina para competições e num gimnodesportivo com tanque de aprendizagem de natação, só se concretizaria (em parte) em 2005 (nas Poças, pela Câmara PSD de António Pedro Costa) e, em pleno, em 2012 na piscina Viriato Madeira (pelo Governo Regional PS). E o gimno-desportivo (sem tanque de aprendizagem, mas com bancada) só em 2002 (pelo Governo Regional PS). Monteiro, do seu nome completo, Fernando António Monteiro da Câmara Pereira (n. 24-09-1935 – Vila do Porto – f. 02-07-1995 Angra do Heroísmo) não assistiu a nada disso. Faleceu em 1995. Aos 59 anos. Saíra da Câmara cinco anos antes. E pouco depois de sair, ou pouco antes de sair, era já roído por uma doença degenerativa. Está sepultado em Vila Franca do Campo. Esta é minha História da piscina da Eira. E a tua?
NANA CAFÉ – Cidade da Ribeira Grande
Por: Mário Moura

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