O Bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, anunciou esta Segunda-feira, durante a homilia do Dia da Igreja Diocesana, na Sé de Angra, a nomeação da Comissão Histórica que irá estudar a vida e as virtudes da Madre Teresa da Anunciada, passo prévio à abertura do processo de beatificação. A decisão, tornada pública no dia em que a Diocese celebrou 491 anos de fundação, foi recebida como um gesto de forte significado simbólico e pastoral. Nesta entrevista, António Pedro Costa, que tem sido um arauto na defesa do processo de beatificação da Madre Teresa da Anunciada, comenta o valor do anúncio e o momento escolhido pelo Bispo de Angra e explica ainda a relevância histórica da criação da Comissão, o papel do Cónego Manuel Carlos na reactivação da causa e o lugar espiritual de Madre Teresa da Anunciada, figura central do culto do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Correio dos Açores – O Bispo de Angra, Armando Esteves Domingues, anunciou esta Segunda-feira, durante a homilia do Dia da Igreja Diocesana, na Sé de Angra, a nomeação da Comissão Histórica que irá estudar a vida e as virtudes da Madre Teresa da Anunciada, passo prévio à abertura do processo de beatificação. Como avalia o facto de o anúncio ter sido feito durante a homilia? Considera que este gesto tem um valor simbólico especial para a Diocese?
António Pedro Costa – O facto de o anúncio da constituição da Comissão Histórica ter sido feito durante a homilia da celebração do Dia da Igreja Diocesana e dos 491 anos da Diocese de Angra, reveste-se de um profundo significado simbólico. Ao escolher este contexto litúrgico, D. Armando Esteves Domingues quis, certamente, inscrever este momento no coração da vida eclesial da Diocese de Angra.
A homilia, enquanto espaço privilegiado de comunhão e de anúncio, é também ocasião de leitura espiritual da história e dos sinais dos tempos. Assim, ao tornar pública a criação da Comissão neste âmbito, o Senhor Bispo conferiu à notícia uma dimensão pastoral e comunitária, recordando que a santidade não é um ideal reservado a alguns, mas uma vocação a ser reconhecida e celebrada no seio do Povo de Deus.
Importa reconhecer que, finalmente, este passo foi dado graças ao empenho e à determinação do Cónego Manuel Carlos, que, ao tomar posse como Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, afirmou que tomaria em mãos este processo. O cumprimento desta promessa revela sentido de missão e responsabilidade histórica. Espera-se, pois, que este avanço ponha termo a décadas de hesitações e de caminhos interrompidos, e que, de uma vez por todas, a Diocese de Angra assuma com clareza e coerência a causa daquela que foi a principal promotora do mais significativo culto do povo açoriano.
Que importância tem a criação desta Comissão Histórica no processo de beatificação da Madre Teresa da Anunciada?
A instituição de uma Comissão Histórica constitui um passo determinante no processo de beatificação da Madre Teresa da Anunciada. Compete a esta Comissão proceder a uma análise rigorosa e documentada das fontes históricas, cartas, testemunhos e escritos, importantes para a declaração oficial das virtudes e a fama de santidade da Serva de Deus. Trata-se, portanto, de um trabalho de natureza científica e eclesial que visa estabelecer rigor e a veracidade dos factos, bem como o contexto histórico em que Madre teresa viveu, de modo a garantir que a causa assenta em bases sólidas e fidedignas.
De recordar que, a pedido do Bispo D. António e do Reitor do Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, Monsenhor Agostinho Tavares, a historiadora Maria Margarida de Sá Nogueira Lalanda, elaborou um Maio de 2003 uma investigação histórica, com o objectivo de constituir a parte histórica do processo de Beatificação da Madre Teresa da Anunciada. Foi condição primordial da autora que a mesma fosse realizada com a máxima imparcialidade possível. Este trabalho foi publicado pela “Arquipélago – História” 2ª série, IX (2005). Depois o assunto esfumou-se e agora regressa-se à etapa inicial.
Que etapas se seguem normalmente até que a causa seja formalmente aberta a nível diocesano?
Em regra, após a conclusão dos trabalhos da Comissão Histórica, segue-se a recolha formal de testemunhos e a elaboração de um relatório que será apresentado ao Bispo diocesano. Com estes elementos, o Bispo deverá então submeter à Santa Sé o pedido de ‘nihil obstat’, ou seja, a autorização para abrir oficialmente a causa de beatificação a nível diocesano. Uma vez concedido esse parecer positivo, procede-se à instituição do tribunal diocesano que recolherá as provas documentais e testemunhais, dando início formal ao inquérito canónico.
Este percurso, embora exigente e moroso, é expressão de um discernimento cuidadoso e de uma profunda fidelidade à verdade histórica e espiritual. No caso da Madre Teresa da Anunciada, figura central da vivência espiritual dos Açores, na promoção do culto em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, este processo representa também um momento de gratidão e de reconhecimento pela fecundidade deste culto não apenas na ilha de S. Miguel, como em várias partes do Mundo. Será desta?
A Comissão para a avaliação da beatificação da Madre Teresa
da Anunciada é composta por três membros
A comissão, que será responsável por estudar a documentação, as fontes e o contexto de vida da religiosa clarissa, será presidida pela historiadora Margarida Sá Nogueira Lalanda, doutora em História da Cultura e das Instituições e professora aposentada da Universidade dos Açores, investigadora do CHAM – Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, é reconhecida pelos seus estudos sobre religiosas, cultura conventual e práticas sociais nos Açores entre os séculos XVI e XVIII.
Farão também parte da equipa António Camões Gouveia, historiador e professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e Paula Almeida Mendes, linguista e historiadora, investigadora na Universidade do Porto, segundo avançou a Igreja Açores.
Por: António Pedro Costa
