A Vila de Rabo de Peixe, ao longo dos amos, temo-la defendido, elevado e dignificado de diversas formas, lutando contra as injustiças, discriminações, más vontades, estigmas, até mentiras, muitas vezes referidas nos órgãos da comunicação social.
Apesar da cerca sanitária, das muitas infecções, dos grandes prejuízos, ultimamente essa comunicação social e mesmo políticos, têm-se referido a Rabo de Peixe de um modo muito positivo, o que se realça e aplaude.
A Vila de Rabo de Peixe tem sido vítima de inúmeras injustiças.
Recordamos o que disse há tempos o Presidente da respectiva Junta de Freguesia, o deputado Jaime Vieira, no Correio dos Açores, de 26 de Abril de 2019.
Jaime Vieira disse que “não há condições para se resolver os problemas de Rabo de Peixe”.
O Presidente da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, afirmou que o sistema “não dá condições” à localidade “para a resolução dos problemas da Vila, estamos sempre dependentes de outros, estamos sempre limitados àquilo que são os imperativos de um sistema político administrativo das juntas de freguesias, que tem que ser revisto, que está ultrapassado”.
Jaime Vieira, que falava na sessão solene comemorativa dos 15 anos da elevação a Vila, sublinhou a propósito: “Temos muita vontade em resolver, estamos cheios de vontade em dar respostas, no entanto falta-nos o mais importante, falta-nos as ferramentas, faltam-nos os recursos.”
A Vila de Rabo de Peixe tem mais população que muitos concelhos e até de algumas ilhas dos Açores, mas esse facto não é tomado em consideração por quem tem o poder para resolver os problemas e, daí os reparos de Jaime Vieira e as críticas à Vila também ignoram muitos dos factos reais.
O Senhor Vice-Presidente do Governo Regional, o terceirense, Dr. Artur Lima, um grande terceirense, fez recentemente declarações muito positivas sobre Rabo de Peixe, o que nos orgulha, obviamente.
O Vice-Presidente do Governo enalteceu o exemplo da população de Rabo de Peixe pelo “extraordinário comportamento de civismo e exemplo de cidadania que deu aos Açores e ao país”, durante a implementação da cerca sanitária.
O presidente da Junta de Freguesia de Rabo de Peixe, Jaime Vieira, elogiou a “forma muito responsável” como a população reagiu perante o surto de covid-19 na Vila, mas alertou para perigos durante o Natal.
O autarca realçou “a coragem que o Governo Regional teve” ao permitir que a população fosse testada em massa, afirmando que esta “foi uma medida que veio salvar muita gente”, mas elogiou também a “forma muito responsável” com que a população lidou com as medidas implementadas na vila, que esteve sujeita a uma cerca sanitária durante dez dias.
Por sua vez, Liberato Fernandes, escreveu sobre Rabo de Peixe recentemente, no Diário dos Açores, preconceitos relativamente ao trabalho:
“Situada em São Miguel – Açores, Rabo de Peixe tem uma área inferior a 17 km2 e uma população estimada em 10.300 habitantes, o que lhe confere uma densidade populacional aproximada de 600 habitantes por quilómetro quadrado.
Estes dados significam que a freguesia tem uma densidade populacional três vezes superior à da ilha de São Miguel e quase seis vezes à da Região onde está inserida. A população de Rabo de Peixe é determinante para a classificação dos Açores como a região com uma das populações mais jovens da Europa e, a mais jovem do país.
Do ponto de vista sócio-profissional e económico Rabo de Peixe é das freguesias mais produtivas dos Açores porque, além de principal produtora no sector primário (agricultura e pescas) é nela que se processa a transformação da sua produção agro-alimentar.
Nas pescas, além de ser a maior comunidade piscatória da região, é onde se situa a principal unidade conserveira e os maiores exportadores de pescado fresco e congelado. Dispõe escolas cobrindo todos os níveis de ensino oficial obrigatório.
Preconceito de classe atinge
dos sectores primário e secundário.
Como ocorriam com as pestes, a Covid, enquanto pandemia global, revelou com toda a crueza e violência, todos os tumores que afetam a humanidade: o racismo, a xenofobia e os preconceitos homofóbicos e de género. A ausência dum combate frontal e persistente a todas estas manifestações primárias tem favorecido o desenvolvimento de movimentos de caráter nazifascistas em toda a Europa. Portugal e os Açores não estão imunes a estes movimentos que as crises económica e social ampliam, agravadas pela manipulação descarada perante o silêncio da maior parte dos responsáveis políticos.
Não cabendo no âmbito deste artigo responder às causas do atraso das regiões autónomas portuguesas relativamente ao todo nacional de Portugal relativamente à União Europeia, respondemos à questão que leva a associar a vila de Rabo de Peixe ao subdsenvolvimento, à exclusão e à pobreza: se os Açores são a região do país com maiores índices de pobreza, a que detém a maior percentagem de beneficiários do rendimento social de inserção e a mais elevada taxa de insucesso escolar porque é atribuída à população desta freguesia a origem dos problemas existentes? Será que sua população é mais afectada pelos “vírus” do subdsenvolvimento e da subsídio-dependência do que outras populações ribeirinhas da região e do país, porque não gosta nem de estudar, nem de trabalhar?
Os dados demonstram que os níveis de pobreza e de exclusão nos Açores são superiores à média nacional e da Madeira, situação significativa tendo em conta que, além de órgãos de governo próprio, ambas as regiões beneficiam de apoios especiais.
Quando a grande informação nacional identifica esta freguesia como o exemplo de concentração de pobreza e exclusão, contribui para veicular uma imagem miserabilista, negativa e injusta para uma população produtiva e culturalmente diversa e rica, com manifestações únicas em todo o território nacional.
Até 30 de Novembro de 2020 o rendimento bruto da pesca em valor registou uma diminuição no valor (menos quatro milhões duzentos e sessenta mil euros), mas, em volume a quebra foi de apenas seiscentos e noventa toneladas.
Embora o rendimento bruto dos pescadores registasse uma quebra superior a 15%, em volume a captura diminuiu menos de 10%2. Isto é, em circunstâncias normais, apesar das limitações decorrentes da redução das áreas de pesca e das quotas, sem o Covid, pandemia global que gerou consequências na quebra das exportações, no turismo e consumo local, os rendimentos de todos os sectores da economia da pesca seriam equivalentes aos do ano anterior, que traduz uma acentuada quebra desde 2010..
Todo o sector agro-alimentar, no qual assenta a economia de Rabo de Peixe, depende da mão-de-obra intensiva, erradamente classificada como pouco especializada e, consequentemente, pouco valorizada.
Como a pandemia o tem demonstrado nos Açores (e em todo o mundo), sem a actividade produtiva do sector primário e o trabalho logístico dele dependente (o transporte e o comércio alimentar) toda a economia teria colapsado somando às vitimas do vírus as vitimas de fomes generalizadas. Na pesca e na agricultura não é possível o teletrabalho (como não o é no comércio alimentar e em setores como a construção civil), pelo que só foi possível satisfazer as necessidades básicas da população dos Açores porque nestes sectores da economia os seus profissionais continuaram a trabalhar.
Como não há saúde quando faltam os alimentos, os trabalhadores do sector agro-alimentar têm desempenhado nestas circunstâncias um trabalho equivalente aos trabalhadores da saúde. É esse aspeto que importa destacar.
Entre 35 a 40% da captura de pescado nos Açores é efectuada por produtores de São Miguel e, destes, mais de metade são naturais e residentes em Rabo de Peixe. Deve-se ao seu trabalho o abastecimento em peixe fresco e a atenuação dos efeitos da pandemia sobre a população.
Só por ignorância, preconceito e/ou má-fé pode ser associado o titulo de subsidio-dependente à maior comunidade piscatória dos Açores, e à freguesia que melhor sintetiza a região nos aspectos económicos e sociais mais positivos”.
Da nossa parte, muito obrigado Liberato Fernandes e esperamos que o estigma não continue no futuro.
Se não fosse o exemplar comportamento dos Rabopeixenses nesta crise sanitária, talvez não houvesse tantos elogios à terra das sereias açorianas.
Com muitas saudades apetece-nos dizer: “Viva Rabo de Peixe.”
Manuel F. Estrela