50 crianças de Ponta Delgada na Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada

Esperança de dezenas de crianças e jovens é renovada através do Projecto Renascer

Nas imediações da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada, situa-se a sede do Projecto Renascer, iniciado no ano de 2010 e integrado na quarta geração do Programa Escolhas, tendo como missão principal promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos vulneráveis, e sendo capaz de receber crianças desde os seis anos de idade até jovens com 25 anos de idade.
Em todo o país existe um total de 103 projectos associados ao Programa Escolhas, todos eles com a mesma missão e com as mesmas características, mas a nível regional esta é uma valência única que espera agora, ao longo do mês de Março, saber se terá oportunidade para continuar a sua missão na comunidade com que se envolve, conforme os apoios externos que sejam – ou não – atribuídos ao Projecto.
Este projecto, cuja frequência é totalmente gratuita, envolveu na sua sétima geração – que terminou no passado mês de Dezembro – um total de 146 crianças e jovens, entre as quais 50 que foram acompanhadas directamente e continuamente pela coordenadora, Ana Raquel Furtado, e pelos dois animadores sócio-culturais responsáveis também pelo Projecto, Tiago Santos e Cláudio Rodrigues.
As restantes crianças, explica a coordenadora, dizem respeito a contactos mais indirectos decorrentes de actividades realizadas, e que por isso não frequentam de forma assídua as instalações do Projecto Renascer. No que diz respeito aos familiares das crianças que fazem parte activa do projecto, Ana Raquel Furtado refere que foram envolvidos 24 familiares, bem como nove “outros públicos”, que podem ir desde professores, a auxiliares ou técnicos “que normalmente acompanham os jovens nas actividades”.
Caso o Projecto veja a sua continuidade, a coordenadora e assistente social refere que na sua oitava geração o objectivo passará por envolver um total de 160 crianças e jovens, nomeadamente 50 contactos directos e 110 indirectos, salientando que estas metas são importantes de atingir para garantir a constante renovação de financiamento externo, sem o qual a valência não poderá sobreviver.
O projecto em causa conta ainda com vários parceiros a nível local, tais como a Câmara Municipal de Ponta Delgada, a Polícia de Segurança Pública, a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, a Associação de Imigrantes dos Açores, o Comissariado dos Açores para a Infância, a Associação de Promoção de Públicos Jovens em Risco, a Fundação Pauleta e três estabelecimentos de ensino, nomeadamente as escolas Antero de Quental, a Roberto Ivens e a Canto da Maia, importantes para a sinalização e para o encaminhamento de crianças e jovens para o Renascer.

“Experimenta Agora” destacado
a nível nacional

Seguindo os critérios do Programa Escolhas, incentivando que todos os 103 projectos financiados pelo mesmo a nível nacional desenvolvessem uma actividade, projecto ou ferramenta que promovesse a inclusão social de crianças e jovens, o Projecto Renascer criou uma estratégia que ficou entre as 31 seleccionadas a nível nacional para integrar a Tool Box, traduzido para português “Caixa de ferramentas”.
“Em todas as gerações do Projecto Renascer do Programa Escolhas, existe um plano de formação dirigido para os coordenadores. Na geração passada, o plano de formação passava por criarmos uma actividade inovadora que promovesse a inclusão social de crianças e jovens, uma actividade, projecto ou ferramenta. Todos os 103 projectos financiados tinham que desenvolver uma actividade e as 31 melhores seriam compiladas numa pasta denominada Tool Box, uma caixa de ferramentas com 31 elementos para disseminação futura, disponível para qualquer projecto e para qualquer entidade utilizar e aplicar nos seus territórios e contextos”, explica Ana Raquel Furtado.
Neste sentido, esta equipa de três elementos que trabalha com crianças e jovens na cidade de Ponta Delgada criou para a sua sétima geração a actividade “Experimenta agora”, que consiste em “proporcionar a crianças e jovens momentos de experimentação em contexto real de trabalho”, fazendo assim com que as crianças tenham tido a oportunidade de “observar e experimentar o trabalho que é feito por diversos colaboradores em contexto real de trabalho”.
Desta forma, as valências de todo o país que optarem por aplicar esta ferramenta da Tool box no seu contexto em específico irão permitir que as crianças fiquem a conhecer “o leque de profissões que existem e as funções” de quem as desempenha, contribuindo também, em parte, para ajudar estas crianças e jovens “a construir o seu projecto de vida e para os ajudar – quando ingressarem no mercado de trabalho – a saberem de que gostam mais e com o que não se identificam tanto”, assinala a coordenadora do projecto.
No caso específico do Projecto Renascer em Ponta Delgada, conta Ana Raquel Furtado, “esta actividade foi desenvolvida na maioria das valências da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada. As crianças tiveram a oportunidade de ir para o Lar da Levada e conhecerem o trabalho dos animadores sócio-culturais, das auxiliares de apoio ao idoso, de enfermagem, da psicologia, do serviço social”, constituindo todas estas profissões uma pequena amostra das profissões que existem no lar.
Para além do Lar da Levada, os jovens tiveram também a oportunidade de experimentarem outras áreas, tais como cozinha e mesa-bar, através do restaurante A Botica, e tiveram ainda a oportunidade de conhecer mais sobre profissões ligadas às  portarias e ao fornecimento de mercadorias, bem como nos serviços financeiros e administrativos, e no atendimento ao público, através da Loja do Mestre André.
Na candidatura à oitava geração do projecto em causa, a equipa responsável pelo Projecto Renascer em Ponta Delgada comprometeu-se a desenvolver uma das restantes ferramentas concebidas a nível nacional, escolhendo por isso uma actividade chamada Brincas, do género do Party & Company, que irá ajudar no desenvolvimento de um “atelier cultural”, tendo em conta que este jogo se baseia em perguntas de cultura geral.

De olhos postos na oitava geração
do projecto...

Caso o projecto seja renovado, Raquel Furtado espera também continuar a desenvolver o apoio escolar, uma vez que uma das missões do Projecto Renascer passa também por auxiliar as crianças e jovens que por ali passam com os seus estudos e trabalhos de casa, procurando ainda auxiliar as crianças com dicas e métodos de estudo para “tentar promover o sucesso escolar nesses jovens”.
Este projecto acaba também por ser o reflexo do esforço de uma equipa multidisciplinar, visto que cada um dos colaboradores “dá o melhor que tem do seu saber para tentar ajudar estas crianças da melhor forma”.
A valência procura também fortalecer a relação que estas crianças têm com as novas tecnologias de informação e comunicação, tendo em conta que a utilização dos computadores e o acesso à Escola Virtual da Porto Editora é também uma valiosa ferramenta, visto que os alunos conseguem aceder online aos conteúdos programáticos das aulas, o que lhes permite uma preparação para os testes de avaliação de uma forma mais interactiva.
No entanto, falta ainda a certeza da renovação do Projecto: “O período de candidaturas para a oitava geração decorreu em Janeiro deste ano e, presentemente, estamos a aguardar respostas, nós e todos os outros projectos que se recandidataram. Pensamos que talvez ainda este mês de Março saibamos a resposta e no caso de o projecto ser aprovado para a oitava geração, definimos que vamos intervir com base em duas medidas de intervenção, a primeira assenta na educação, formação, qualificação e inclusão digital, e a segunda com a dinamização comunitária, participação e cidadania”, diz Ana Raquel Furtado.
Caso o projecto seja renovado, Ana Raquel Furtado prevê também continuar com a execução dos ateliers dos bons valores, que consistem em acções de sensibilização relacionadas com vários temas da actualidade e que contam com o apoio de convidados que dinamizam as sessões temáticas, falando de temas como igualdade de género, delinquência juvenil, de violência no namoro, protecção e preservação do meio ambiente e Direitos Humanos.
Prevê-se que haja também um reforço da equipa com mais um colaborador, adianta a coordenadora, salientando que foi feita uma candidatura para incluir no projecto um dinamizador comunitário, “uma jovem referenciada pela Associação de Promoção de Públicos Jovens em Risco, que faz a interligação entre a comunidade e o projecto”, tendo como objectivo trazer crianças e jovens para a valência que se encontrem em contextos desprotegidos, colocando-os assim “num contexto supervisionado”.

“Caso o projecto se extinga, para onde serão encaminhados estes jovens?”

Caso o projecto não seja renovado sem este financiamento externo, existirão “alguns impactos” na comunidade que apoia, tendo em conta que este não é um ATL convencional e que, para além de receber jovens de várias faixas etárias, recebe também crianças e jovens sinalizados por escolas e outras instituições.
Embora esta seja uma vantagem para o público-alvo do projecto, Ana Raquel Furtado adianta que esta mistura entre crianças e jovens de várias idades constitui também um dos maiores desafios impostos ao Renascer, por exemplo, na criação de actividades que mantenham todos entretidos ao mesmo nível e sem conflitos entre si.
“Acho que o impacto será elevado precisamente porque a faixa etária é bastante abrangente e recebemos sinalizações das escolas. Ou seja, um menino que tenha um processo disciplinar, em vez de ir suspenso para casa vem para nós, porque algumas crianças não gostam da escola e têm maus comportamentos porque sabem que vão ser suspensos e vão para casa.
E caso o Projecto Renascer se extinga, para onde serão encaminhados estes jovens? Não existe resposta porque somos os únicos nos Açores com estas características: um projecto gratuito, acessível a todos. Tudo o resto é pago, acarreta custos e dificuldades para os familiares e grande parte do nosso público é oriundo de contextos desfavorecidos”, acrescenta Ana Raquel Furtado.
A par do financiamento externo, a coordenadora do Projecto Renascer salienta que a sua entidade promotora, a Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada, tem sido essencial para a concretização do mesmo, “quer em cedências de recursos humanos, quer pelo espaço em si”, adiantando que “embora o edifício seja antigo”, assegura todas as condições para que o projecto tenha continuidade.
“Embora este edifício seja antigo, acho que estamos bem. Precisa de algumas reparações e de manutenção, mas ao nível da área e do espaço será suficiente. No início até achava que não, mas depois de conhecer a realidade de outros projectos no continente, o nosso acaba por ser um luxo, porque muitos projectos nem sede têm e o trabalho é feito todo na rua, junto dos bairros”, diz a assistente social.
Por outro lado, reconhece que seria muito valioso para o projecto se o mesmo pudesse usufruir de um edifício criado de raiz, principalmente se este incluísse um pavilhão de actividades próprio, eliminando assim a necessidade de recorrerem a protocolos com escolas locais – que entretanto foram suspensos devido ao novo coronavírus – e aos parques comunitários que exigem caminhadas e que sujeitam estas crianças e jovens às condições meteorológicas.
Por esse motivo, apenas com o financiamento disponibilizado a cada nova geração do Projecto é que se torna possível “ultrapassar as lacunas que vão surgindo”, como é também “o caso da avaria dos computadores”, já que neste momento a valência dispõe de apenas três computadores que podem ser utilizados pelas crianças e jovens.

 

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