4 de abril de 2021

Opinião - Dos Ginetes

Uma Páscoa ainda diferente

 Mesmo se tradicionalmente é o Natal para a maioria dos Cristãos que ocupa no coração dos mesmos um espaço privilegiado e incomparável, na realidade é a Páscoa considerada a maior festa do mundo dos Católicos pois é nela que encontramos o grande mistério que sustenta a fé através da morte e ressurreição do próprio Cristo que após os trágicos acontecimentos de uma semana que O conduziu à condenação de morte numa Cruz reservada há 2000 anos aos maiores malfeitores e criminosos. Extraordinariamente poucos dias depois de envolto em faixas de tecido e colocado num sepulcro como era uso na altura, por ser o verdadeiro Filho de Deus de lá misteriosamente desapareceu, ressuscitou, vencendo assim o que ate então nenhum ser humana foi capaz de conquistar e que hoje, em linguagem popular, anunciamos alegremente com “Aleluias”.
Foi a grande vitória da vida sobre a morte. Uns acreditam… outros não, dependendo também da formação que foi livremente transmitida pelos pais ou até avós.
Pelo segundo ano consecutivo vivemos esta semana que vem apenas de terminar de uma forma diferente. É o grande sinal dos tempos que nos recorda a fragilidade da vida humana e que nada é ganho de avanço.
Há precisamente um ano vivemos estes dias envoltos no mais completo silêncio em nossas casas, ausentes dos locais de culto por excelência que representam as nossas igrejas. Hoje, apesar de tranquilamente nos ser proporcionado um pouco mais de aproximação ainda temos medo pois nada nos é garantido de avanço. Os profissionais da ciência e da saúde continuam dia-a-dia envolvidos numa luta que lhes pertence, mas na qual igualmente estamos todos envolvidos, em busca de uma solução que seja portadora da paz, da tranquilidade, da aproximação das famílias e dos amigos que na realidade tanto ambicionamos, mas que “tarda a chegar”.
Voltando ao início desta que é conhecida por “Semana Maior” tudo começou no passado Domingo dito de Ramos e tranquilamente a partir da Quinta-feira até este Domingo outrora dedicado para a visita do Cristo ressuscitado aos doentes desta terra dos Ginetes e de várias outras que ainda guardam esta maravilhosa tradição continuamos mergulhados num enorme vazio. Este ano, mesmo se foram permitidas pequenas celebrações tudo foi reduzido ao mínimo para recordar um pouco da história do Cristianismo do qual a maioria de nós ainda sente algum respeito, mas que por vezes também esquece. Digamos que tudo se tem passado com um pequeno “cheirinho” da realidade habitualmente vivida de uma forma mais alegre. Não temos a nossa Filarmónica Minerva que neste dia acompanhava a visita do Senhor à residência de alguns dos nossos doentes porque a situação pandémica infelizmente não o permite. Todos eles tiveram a oportunidade de receber particularmente antes desta Páscoa a Sagrada Comunhão num ambiente reservado em suas casas porque a nossa preocupação cá na terra foi e é sempre prioridade em manter um clima de segurança para todos, de um modo especial essas relíquias humanas mais idosas que são o nosso orgulho pelo que foram, pelo que são e pelo que ainda merecem receber, que não é mais que um pequeno gesto de carinho que tantas vezes encerra um valor incalculável.
Quinta-feira Santa missa comemorativa da “Última Ceia” recordando a Instituição da Eucaristia e do próprio Sacerdócio além do gesto de humildade que nos deixou o Cristo ao lavar os pés aos Seus Apóstolos. Evidentemente que por obediência e respeito pelas normas sanitárias impostas pelo governo ficou apenas na imaginação esse testemunho de humildade anualmente repetido pelo sacerdote a recordar-nos que mesmo se humanamente existem pessoas com “estatutos diferentes”, que é necessário respeitar, na realidade somos todos iguais. “Ninguém é melhor que ninguém”.
Espero que no próximo ano estejamos todos mais alegres e felizes.
Resta-me desejar a todos os meus amigos dos Ginetes assim como àqueles que não pertencendo a esta terra, mas que semanalmente vão seguindo o que aqui tenho escrito uma Santa e Feliz Páscoa. Não é a festa dos chocolates e das amêndoas que compreensivelmente cativam as crianças, mas a “grande festa dos Cristãos”. Que o Bom Deus nos proteja a todos. A vida não tem sido fácil e não o será no imediato pois ainda existe um longo caminho a percorrer. Será uma batalha em que cada qual terá de fazer a sua parte. Difícil e saturante estes dias monótonos que nem os raios de sol da Primavera que mais uma vez regressou conseguiram realmente a todos alegrar.
Espero que no próximo ano estejamos mais seguros. Até lá, todos, mas mesmo todos porque temos um “papel” a desempenhar façamos a parte que nos pertence. Caso contrário vamos viver continuamente num ciclo vicioso, dificultando a vida das pessoas que mais estimamos e até mesmo inconscientemente destruindo uma economia que tanto nos preocupa pela consequência que leva ao desemprego.
Uma Santa e Feliz Páscoa para todos.
 

Alberto Ponte

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Categorias: Opinião

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