‘Mãe de Deus’ vai constituir um Fundo de Emergência Social para ajudar a comunidade

A ‘Mãe de Deus’ tem os alicerces bem implantados no seio da comunidade micaelense e conta presentemente com 74 funcionários “desde uma equipa técnica, passando por uma equipa administrativa, serviços gerais, cozinha, lavandaria ou manutenção. Numa instituição deste tamanho precisamos de gente que nos acompanhe e a estrutura de recursos humanos é importantíssima em valências desta natureza”, destaca o seu Presidente da Direcção, José Manuel Rodrigues. Criada há 160 anos, a ‘Mãe de Deus’ tem no apoio às crianças mais desfavorecidas e provenientes de famílias desestruturadas o seu mote de vida. Com uma capacidade de alojamento para 60 crianças, o lar tem nos dias que correm 36 crianças institucionalizadas.  

Objectivos e Missão
Há mais de uma década a presidir à direcção desta instituição, José Manuel Rodrigues, conta que nos últimos 20 anos, “foram acolhidas cerca de 550 crianças e adoptadas perto de 100”. José Rodrigues começa por explicar quais são as principais linhas orientadoras que regem o funcionamento desta instituição.
“A nossa missão é acolher, auxiliar, proteger, estimular e dar, de certa forma, um novo projecto de vida às nossas crianças. Para além disso, ambicionamos ser uma instituição de referência na nossa comunidade (…) Para além da missão e da visão, regemo-nos por um conjunto de valores que tem a ver com o rigor, com a transparência, com a isenção e com a ideia da partilha rigorosa”, afirma.
O Presidente da Direcção explica igualmente que “para realizar a nossa actuação, criamos aqui várias valências que têm a ver essencialmente com o acolhimento de crianças que podem ir desde tenra idade (dias ou meses de vida) até jovens com 6,7 ou 10 até com 10 anos. Às vezes recebemos crianças de braços abertos até com idades mais avançadas”, destaca.
No edifico sede da ‘Mãe de Deus’, datado de 1980, que reparte a sua actuação por 7 valências, encontram-se actualmente três dessas valências, “a casa amarela, a casa azul e a casa sorriso. São fraterias, lares de acolhimento de miúdos de várias idades”. Para além destas valências direccionadas para as crianças mais jovens, José Manuel Rodrigues realça uma outra valência, ‘Laço Materno’ que “acolhe grávidas e jovens mães. Por vezes estas grávidas e jovens mães tem problemas no seu agregado familiar, são sinalizadas e depois acolhidas aqui na nossa instituição com o objectivo de se criarem condições para que elas depois se possam autonomizar. É um programa que nasceu há alguns anos atrás e tem tido algum sucesso”.
Sobre os objectivos da instituição, o primordial passa, desde logo, por proporcionar uma vida diferente às crianças que são acolhidas.
“Elas vêm de lares difíceis e problemáticos e queremos dar-lhes alguma estabilidade aqui. Essa estabilidade consegue-se criando uma atmosfera de família própria única”, salienta José Manuel Rodrigues que explica igualmente todo o processo que é desenvolvido até que se dê o processo de institucionalização.
“Procuramos que as crianças tenham uma relação forte com a família para que possam eventualmente voltar. O que podemos tirar daqui é que a família é praticamente insubstituível e por mais dificuldades que os miúdos tenham, eles pensam sempre na sua família de base. O objectivo mais importante nesta fase é criar condições para que estas famílias voltem à família nuclear. Se por acaso essa família não dá a satisfação que precisamos ou que é necessária, tentamos recorrer à família alargada”, detalha.
Só quando são ultrapassadas todas estas etapas e tendo em conta que “a institucionalização das crianças deve ser o ultimo recurso”, é que se cria um projecto de vida “que tem essencialmente a ver com ternura, com carinho e com vontade de que estes miúdos possam ter uma vida diferente e uma vida melhor”.
A ‘Mãe de Deus’ criou, para além do lar de acolhimento, um lar de transição “para que os miúdos possam desenvolver competências e para que se possam automizar, através da aquisição de formação específica ou através do trabalho. Temos um lar que neste momento alberga 6 raparigas, já em idade adulta (…) O percurso de vida alternativo é sempre o nosso objectivo, ou seja, acolhemos para esse percurso e par dar alguma dignidade e felicidade a estes miúdos”.

Principais problemas a enfrentar
No desenvolvimento de todo este importante trabalho social, José Manuel Rodrigues admite que a instituição depara-se “com alguns problemas”. Um deles prende-se com a entrada de crianças na instituição com idades mais avançadas.
“Num passado mais recente até recebíamos crianças com poucos dias de vida, que eram abandonadas e que quase nem conheciam os seus progenitores. No entanto, nos últimos tempos, temos assistido a uma evolução no sentido de trazer crianças para aqui já com uma idade mais avançada (…) Isto faz com que tenhamos mais dificuldades em corrigir alguns comportamentos que os miúdos trazem dos seus agregados familiares. Tem sido um problema e gera conflitos não só com os miúdos que cá estão mas também com as próprias equipas que os acompanham”, afirma.
A explicação para esta alteração está relacionada com o facto de “as entidades responsáveis na área da protecção terem tendência para manter os miúdos o mais tempo possível nos agregados familiares. Por vezes fazem bastantes tentativas e isso leva algum tempo”.
Para além deste aspecto, é ainda destacado o baixo nível de sucesso escolar destas crianças.
“A nossa taxa de sucesso escolar tem sido relativamente baixa. Tenho muita mágoa em dizer isto, porque sempre foi um desígnio desta instituição dar as melhores condições a todos os miúdos e, para além de fazerem o seu percurso normal até ao 12º ano (escolaridade obrigatória), damos todas as possibilidades de tirarem um curso superior”, lamenta José Manuel Rodrigues que apesar disso menciona alguns casos, “praticamente só raparigas”, que têm tido sucesso ao nível do ensino universitário.
“Neste momento temos uma a tirar um mestrado no Porto e temos outra, na nossa Universidade, a tirar já uma licenciatura”.
A creche é outra das importantes valências da ‘Mãe de Deus’. Com capacidade para receber 60 crianças por dia e com 4 salas, esta creche tem 14 pessoas funcionários e está disponível para receber crianças de fora da instituição.  
O Presidente da Direcção da ‘Mãe de Deus’ explica igualmente que a instituição “não sobreviria se não tivesse recursos próprios”, destacando o património que tem sido adquirido ou doado por muitos beneméritos ao longo dos seus 160 anos de existência. Nesta medida e para além da criação de uma Cantina Social que confecciona cerca de 30 refeições diárias, José Manuel Rodrigues aponta a importância de um projecto de empreendedorismo na área do turismo e alojamento local, criado em 2017 e que faz a gestão de 26 imóveis com cerca de 80 camas, entre património próprio “e de outros de quem fazem a gestão total”.
“Criamos uma empresa que se chama Green Vacation, uma empresa que arrancou em 2017 e que teve um bom ano de 2019 mas que depois, no ano de 2020, como todos sabemos, veio por aí abaixo e a nossa facturação desceu bastante. Graças aos apoios que temos tido a empresa irá sobreviver e irá de novo relançar-se no mercado com toda a força e com toda a vontade”, garante.
Para além deste projecto foi também criada uma lavandaria industrial e um serviço de take away, denominado ‘Cozinha da Mãe’, que neste momento “serve refeições só ao jantar”. Também ir de encontro aos idosos que se encontram sozinhos em casa é outro dos projectos, que apesar “de estar neste momento em stand by”, a implementar por esta instituição.

Novos projectos
Como principais projectos a desenvolver nos próximos tempos, o Presidente da Direcção destaca desde logo o melhoramento das condições de habitabilidade das 7 casas de acolhimento da instituição; a expansão do take away ou a reabilitação de algum património. Mas a grande novidade passa pela criação, já durante o ano de 2021, de um Fundo de Emergência Social e Comunitária.
“Este Fundo terá um valor de 150 mil euros. Os estatutos já foram redigidos e na altura própria, ao longo do ano de 2021, daremos a conhecer à comunidade o objectivo e a razão deste fundo. Posso dizer que resulta de um donativo avultado, por parte de um benemérito luso-americano, e consideramos que seria importante colocarmos o dinheiro que recebemos ao serviço directo da comunidade com alocações muito específicas”, destaca José Manuel Rodrigues.
 Em jeito de conclusão e apesar de admitir dispor de boas condições para desempenhar o seu papel, o Presidente da Direcção desta instituição afirma que “os problemas do dia-a-dia continuam. Esses problemas são grandes, complexos e desafiantes (...) Temo-nos deparado com carências materiais muito grandes destes miúdos que para cá vem. Há muita falta de bases sociais e educativas e infelizmente ainda há muita miséria na nossa terra”, lamenta. José Manuel Rodrigues lembra que também existem casos de insucesso e que não podem ser ‘salvos’, mas garante que a ‘Mãe de Deus’ irá “sempre continuar com a sua obra. Estamos com a comunidade de mãos dadas e iremos continuar assim. Há bons e maus momentos e estamos aqui para abraçar todos”.
Para poder desenvolver todo este trabalho social, a ‘Mãe de Deus’ conta com apoio inestimável de outras instituições e empresas locais, como a Insco; BEL; Clínica Dentária da Dra. Joana Almeida; Consultas de oftalmologia com a Dra. Margarida Estrela Rego; Escola de Futebol Pauleta; Centro de Explicações Tetrapi; Clube Naval de Ponta Delgada; Centro Médico Drº. Carlos Ponte ou o Clube Rotário de Ponta Delgada. Para além destas, o Presidente da Direcção realça o apoio dos 222 sócios da instituição e de “muitos beneméritos e de muitos voluntários. Temos uma comunidade inteira que nos tem ajudado e que tem sido o suporte da nossa actividade”.
 

Luís Lobão

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Autor: CA

Categorias: Regional

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