1. O Papa Francisco decidiu instituir o DIA MUNDIAL DOS AVÓS E DOS IDOSOS a celebrar no quarto domingo de Julho de cada ano. Este ano vai ser assinalado no domingo 25 de Julho. Em 2020 os bispos portugueses promoveram a reflexão “Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal”, levantando “a questão dos idosos e a ideia de que são descartáveis, um escândalo que se revelou em toda a sua brutalidade. Devemos isolar de nós o vírus e não o idoso, tornando-o desumanamente solitário”. A questão fundamental que centra todo o nosso pensamento e preocupação é precisamente “aprender a compreender e apreciar o VALOR DA VELHICE”. A este respeito o Santo Padre salientou que “a velhice não é uma doença , é um privilégio”.
Há muitas e sérias questões que bailam à volta dos mais velhos e que provocam ou deviam provocar imensas inquietações no ser humano nesta sociedade moderna, despreocupada e egoísta, da solidão ao abandono, da fraternidade à amizade social e principalmente a perspectiva do mundo de amanhã. O Papa aponta três pilares em que os mais velhos têm um papel fundamental para esta reconstrução : os sonhos , a memória e a oração.
2. Os dias e as noites dos idosos são povoados de lembranças, inquietações e anseios, é por isso que eles repetem as suas histórias, que tornam mais viva a sua memória, que não se cansam de marcar com saudade momentos da vida, na juventude, na família, nos estudos e nos filhos e mais tarde a experiência da aposentação, das fragilidades e da doença, algumas vezes da mágoa do esquecimento , da solidão e da tristeza de quem chegou à etapa mais fragilizante e, às vezes mais dependente, da vida! Sempre à espera de uma palavra de conforto e de alento, de um gesto de carinho e de amizade, do beijo de um filho, de um abraço de um neto. Ou então da visita de um anjo, como diz o Papa. Inquietações não por falta de meios de subsistência, que os idosos sempre aprenderam a poupar e a saber render o pouco que retinham e a multiplicar a pensão, por muito pequena que seja, de forma que nunca falte o essencial no decorrer do mês. São inquietações de cansaço e de ansiedade, muitos deles vivendo em lares, longe da sua casa e dos seus mais queridos e mais chegados . E a ansiedade provém das queixas que a idade acarreta, das dores, do mal estar e das carências afetivas que nenhum ser humano consegue dispensar!
3. O Papa Francisco, que também é idoso, sente esta situação de vida com entusiasmo e com Esperança e até questiona qual será a nossa vocação hoje, na idade da velhice que, como todos sabem, tem mudado nas últimas gerações , de 65 para os setenta, depois para os oitenta e por aí adiante! E as circunstâncias também são outras, na qualidade de vida, nos relacionamentos e na atividade física. A nossa vocação nas palavras de Francisco é “salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos”. Aqui entra o verdadeiro papel dos avós na nossa sociedade, avós, que os mais antigos já diziam que são pais duas vezes e que, em muitos casos, são o baluarte das famílias, os pilares da afirmação da construção da comunidade familiar, que muitas vezes sustentam o equilíbrio emocional das novas gerações com a sua experiência de vida, com a ponderação de gestos e atitudes, com a melhor compreensão das agruras da vida no crescimento do casal, dos filhos e dos netos. Os avós, tal qual Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus de Nazaré , agora também lembrados liturgicamente, nunca se cansam e raramente se queixam porque por ali vêem a vida a desabrochar, acrescentando sérias razões para viver.
4. É preciso lutar contra a demagogia sobre a situação de muitos idosos, seniores, ou mais velhos, como quiserem chamar, evitando sempre que possível que os lares sejam uma espécie de depósito ou armazém de velhos, porque não basta ter edifícios bonitos e boa cama e mesa com um inúmero staf de técnicos e enfermeiros quando, no fundo, o que lhes falta é melhor comunicação, mais aproximação e dedicação com tempo disponível para ouvir, para falar, para partilhar com profissionalismo e com a atenção do coração, mas essencialmente com elevado humanismo, com a paciência no topo da lista! Não basta dar subsídios e atualizar contratos, é crucial que os Serviços oficiais e as Instituições procurem um novo caminho para traçar o futuro mais risonho e seguro para os mais velhos, um precioso dom de Deus, sem os quais a sociedade se esvazia de valores e de esperança. Que este dia sirva para a necessária reflexão e para o melhor entendimento da valiosa vida dos seniores. Sem eles não temos raízes nem história!
Espigão, Nordestinho, em vésperas do DIA DOS AVÓS
Eduardo de Medeiros