Fui convidado para a sessão de encerramento da Assembleia Geral do Conselho Mundial das Casas dos Açores, que decorreu em Santa Maria no fim-de-semana passado. Tudo foi preparado pela Direcção Regional das Comunidades Açorianas, a cargo de José Maria Andrade e sob a orientação do Vice-Presidente do Governo Regional, Artur Lima, em cuja pasta esta matéria se encontra incluída, segundo a orgânica governamental em vigor.
Sempre fui um entusiasta do diálogo e cooperação com as Comunidades Açorianas espalhadas pelo Mundo. Considero algo deveras admirável que a nossa gente tenha demonstrado ser capaz de se estabelecer nos mais diversos pontos de globo e neles prosperar, integrando-se no meio e nele se prestigiando e a todos nós, sem se recluir em quaisquer ambientes de exclusão. E apesar disso manter sempre vivos, passando de geração para geração, os seus traços identitários fundamentais e uma ligação umbilical às suas pequenas ilhas de origem, que levam na cabeça e no coração, sem delas se conseguirem, felizmente, libertar.
Por causa disso, viajei por muitos dos destinos da emigração açoriana, enquanto fui Presidente do Governo da nossa Região Autónoma, desde os Estados Unidos e o Canadá, até à Bermuda e ao Brasil; estive ainda no Havai, que continuo a considerar o caso limite e mais emblemático de comprovação da identidade açoriana, conforme tenho já escrito várias vezes e continuo a ensinar aos meus alunos na Universidade dos Açores.
Esse paradigma foi mantido pelos meus sucessores no cargo e até ficamos a dever ao Presidente Carlos César a descoberta de uma comunidade de longínqua ascendência açoriana, mas orgulhosa dos seus antepassados, no Uruguai. A Casa dos Açores aí fundada tem participado nas reuniões do Conselho Mundial e esteve também representada em Santa Maria.
Já não me lembrava que a maior parte das Casas dos Açores foi sendo estabelecida ao longo das décadas de 80 e 90 do século passado, em alguns casos fundindo associações de índole recreativa anteriormente existentes. Nisso foi determinante a dedicação de Duarte Mendes, responsável directo por essas questões e cujo inigualável empenho no serviço das nossas comunidades de emigrantes foi finalmente reconhecido com a atribuição, por deliberação unânime da Assembleia Geral, da Medalha de Mérito do Conselho Mundial das Casas dos Açores.
Dos quatro Congressos das Comunidades Açorianas realizados nesses tempos ficaram memórias bem vivas e os livros com as intervenções proferidas por representantes eleitos vindos de todas elas; um desses livros está agora a ser estudado num programa de doutoramento numa Universidade da Califórnia.
Posteriormente, essas reuniões foram substituídas pela institucionalização do Conselho Mundial das Casas dos Açores; a Assembleia Geral tem reuniões regulares, que já atingiram a XXIII.ª edição; alternam essas reuniões entre a comunidade cuja Casa preside ao Conselho e a própria Região Autónoma. A ideia é boa, permite a circulação dos responsáveis entre as várias Comunidades e as nossas ilhas, só faltando, ao que foi dito, que se realize uma Assembleia Geral em São Jorge; mas antes ainda se irá até Winnipeg, na Província de Manitoba, no Canadá, cujo Presidente da Direcção, por sinal um mariense, recebeu em Vila do Porto a bandeira da Instituição.
Os problemas que afectam os Açores e as Comunidades Açorianas são hoje, naturalmente, diferentes dos tempos fundacionais da nossa Autonomia Constitucional. As respostas também têm de ser diferentes. Um aspecto a registar é a nova abordagem que dos contactos regulares dos responsáveis regionais com os Açorianos estabelecidos noutros países fazem o Governo da República e os representantes diplomáticos e consulares nacionais. De uma clima inicial de desconfiança e até de tentativas, aliás frustradas, de sabotagem, foram evoluindo para uma colaboração, natural e até frutuosa, em termos de promoção dos interesses portugueses por esses países fora.
Na Assembleia Geral de Vila do Porto foram admitidas como membros do Conselho Mundial as Casas dos Açores da Madeira e do Maranhão, no Brasil. Esteve presente, ainda apenas com o estatuto de observador, a Casa dos Açores de São Salvador da Baía, por sinal bem antiga e com pergaminhos notáveis de apoio à nossa gente no “Brasil Brasileiro”, mais retintamente marcado pela mistura de povos e raças de diferente origem.
Sem prejuízo da sua representatividade crescente, o Conselho Mundial das Casas dos Açores não pode ignorar a importância de outras entidades de fundação açoriana, existentes nas nossa comunidades, nomeadamente as de cariz educacional e as sociedades fraternais, algumas elas mais do que centenárias, também da Califórnia. No Brasil, ainda há as Beneficências, com os seus hospitais modelo, plasmadas sobre as portuguesas Misericórdias. Sobre todas elas adejam as tradições açorianas do culto do Divino Espírito Santo.
A reunião em Santa Maria culminou por isso, por iniciativa da nova Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, com as Sopas, na Copeira de Santana, servidas a rigor e com os foliões de lenço ao pescoço cantando loas ao Divino, ao som do tambor e dos pequenos pratos metálicos que na ilha caracteristicamente se usam.
(Por convicção pessoal, o Autor
não respeita o assim chamado
Acordo Ortográfico.)
João Bosco Mota Amaral