21 de novembro de 2021

Opinião - Dos Ginetes

Retratos da minha terra

Recordo com alguma nostalgia a Estrada Regional à entrada dos Ginetes ladeada por magníficos plátanos que levaram o primeiro grande corte na década de cinquenta do século passado, estava eu ainda na Escola Primária, e que mais tarde no final da década de noventa, se me não falha a memória, foram simplesmente devorados sem piedade por um outro corte para benefício de uma estrada que na prática de nada beneficiou pois continua tão perigosa como antes. Hoje não podemos caminhar em segurança devido ao tráfico automóvel cada vez maior que constitui uma ameaça para as pessoas porque cabecinhas supostamente inteligentes na altura não o souberam prever. Igualmente a iluminação pública bastante deficiente muitas vezes coloca em causa a segurança nesta que é a Estrada principal, de quem circula durante a noite.
Do primeiro corte, graças à iniciativa do Pe. Evaristo, pároco dos Ginetes na altura, que possuía contactos privilegiados, conseguiu que a madeira fosse utilizada para a construção de bancos para a Igreja, substituídos recentemente por outros de melhor qualidade.
Quanto ao segundo corte que praticamente tudo levou, ficou apenas a promessa de que seriam plantados novos “plátanos” semelhantes aos que existiam, mas melhor colocados, para termos uma estrada com uma largura apropriada, o que seria mais seguro, mas tal nunca sucedeu.
Também recordo as primeiras árvores plantadas à volta do Largo do Tanque que rápida e demasiadamente se desenvolveram sendo substituídas por outras que também não eram muito apropriadas para ornamentar tal espaço. Finalmente acertou-se com o que existe presentemente que parecia ter sido uma óptima decisão pois pelo cuidado que até agora mereceram enquadravam-se perfeitamente nesse magnífico espaço frente à nossa Igreja constituindo assim uma mais valia para a imagem do verdadeiro Centro Histórico da freguesia de Ginetes.
Há poucos dias fomos surpreendidos por uma “nova poda” dando a impressão que agora é para deixar crescer mesmo se tal possa ter como consequência descaracterizar esse pequeno espaço onde sempre organizámos as nossas festas interrompidas neste tempo de pandemia. Verdade que não sou arquitecto nem engenheiro, que não percebo nada na matéria, mas que a minha intuição tal como a maioria das gentes da minha terra alerta que estamos a caminho de cometer mais um grande disparate. Vou esperar para ver, mas a minha consciência não ficaria tranquila se não abordasse este assunto que tem sido um pouco tema de conversa desta pacata gente dos Ginetes que demasiadas vezes não ousa manifestar-se.
Vou esperar para ver o que irá resultar de tão estranha decisão que terá provavelmente como consequência esconder durante o próximo Verão as diversas moradias, incluindo o Edifício da nossa Junta de Freguesia além do aglomerado de folhas que irá sem dúvida consideravelmente aumentar como resultado dos ventos fortes de Outono que se encarregarão de distribuir em tão belo espaço que a natureza e inteligência dos nossos antepassados decidiram construir.  Não sei na realidade a quem pertenceu tal decisão, mas espero ainda fazer parte deste mundo quando chegar a hora de podermos todos comparar, o antes, o presente e o futuro.

UM OUTRO RETRATO QUE ENVERGONHA

Como todos os meus amigos dos Ginetes bem o sabem, apesar da minha idade já um pouco avançada, semanalmente como Ministro Extraordinário da Comunhão vou sempre que possível neste tempo de pandemia visitar os doentes dos Ginetes que o desejam. Uma forma de ocupar um pouco do meu tempo fazendo algo que gosto e simultaneamente estar em contacto com uma realidade desconhecida talvez da maioria da nossa gente. Sempre fui bem recebido e aceite por todos pois procuro além da distribuição da Eucaristia escutar o que me dizem sem julgar quem quer que seja. Cada pessoa ocupa um espaço próprio neste mundo ingrato para uns, mas também maravilhoso para outros “abençoados” pela sorte.
Nesta última semana mais uma vez parti de minha casa como o faço desde o final de Janeiro de 2008, apenas com algumas interrupções impostas pela autoridade de saúde no início deste tempo de pandemia.
Devo “confessar” aos meus amigos que embora habituado regularmente ao contacto com esta gente frágil foi uma das semanas mais difíceis que vivi porque sei que a maioria não imagina os dramas que se vivem “a dois ou individualmente na solidão”.
Poderia aqui narrar muitas experiências já vividas que me revoltam pelo abandono a que estamos condenados. Fazem-se inúmeras promessas e projecções para o futuro, mas dos nossos eleitos ninguém tem coragem para erguer a voz na defesa desta gente idosa, que merecia, sem dúvida, uma atenção mais humana.
Para quando um “verdadeiro lar” que possa dispensar “verdadeiros” cuidados a esta gente que em muitos casos partilha um pequeno espaço com uma única companhia que tem por nome solidão?
 

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Categorias: Opinião

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