Azores Info Days levou à Terceira empresas de Espanha, Letónia e Eslovénia

Empresário de São Miguel foi ao Terinov mostrar como transforma o soro do leite em proteínas

Benefícios fiscais, acesso a fundos de capital e um ecossistema empreendedor e científico, com potenciais parceiros são os trunfos do Terinov para atrair empresas do exterior, segundo Duarte Pimentel.

Robert Slavec chegou de Ljubljiana (Eslovénia), Ru Wikmann de Riga (Letónia), Natalia Valle Aguirre de Madrid (Espanha), Ivanoel Rodrigues do Porto e Rui Cordeiro de Ponta Delgada. O que têm em comum? Uma ideia de negócio e a vontade de criar sinergias com outros projectos na ilha Terceira.
Durante dois dias, participaram no Azores Info Days, promovido pelo Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov). Apresentaram os seus projectos, visitaram empresas locais e o Instituto de Investigação e Tecnologia da Agronomia e Meio Ambiente (IITAA) da Universidade dos Açores e reuniram-se com potenciais clientes e parceiros.
“Podem vir emparceirar, podem vir encontrar clientes e fornecedores no ecossistema da região, mas também acima de tudo o nosso objectivo é que percebam que há condições na nossa região para que se possam instalar cá, para que possam trazer investimento e para que possam criar massa crítica nos Açores”, adiantou, ontem, em declarações aos jornalistas, o director executivo do Terinov, Duarte Pimentel, à margem da abertura do encontro.
 O evento, que surgiu na sequência do acelerador de empresas Azores Accel, lançado também pelo Terinov, nas áreas da agroindústria e da biotecnologia, pretendeu “construir pontes” com “ecossistemas exteriores”, numa aposta cada vez maior do Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira na internacionalização.
“O Terinov neste momento tem 11 nacionalidades cá dentro, trabalhamos em duas línguas, a realidade é essa. E acho que o futuro vai passar um bocadinho por isto. Não é por acaso que temos aqui nove empreendedores que não são da região, mas que têm vontade de vir para cá. Acho que marca qual é o posicionamento do Terinov e a nossa vontade de trabalhar com o mundo”, salientou Duarte Pimentel.
O parque acolhe já duas empresas que estavam antes sedeadas no continente português e uma que migrou de Silicon Valley.
Ao todo são mais de duas centenas de profissionais ligados ao Terinov. Mesmo que nem todos trabalhem fisicamente no espaço, as empresas deixam massa crítica na ilha e pagam impostos nos Açores.
“O que nos interessa é que sejam empresas de base açoriana, sedeadas nos Açores, formalmente cá connosco. Fazem parte deste ecossistema, contribuem para o desenvolvimento da região, independentemente se estão seis meses fora e seis meses cá, é massa crítica que fica ao dispor da região e que passa a trabalhar em prol do nosso desenvolvimento”, frisou o diretor executivo do Terinov.
Com 67 projectos instalados, o parque esgotou a sua capacidade física para acolher novas empresas, mas a incubação virtual é uma possibilidade.
“A localização geográfica não é um constrangimento”, garantiu Duarte Pimentel, acrescentando que o que o ecossistema dos Açores “efervescente, com vontade de fazer acontecer e com vontade de trabalhar para o mundo” pode ser uma oportunidade para esta empresas.

Benefícios do Terinov

O Director executivo do Terinov admitiu que os “benefícios fiscais que os Açores oferecem” são um atractivo para a fixação de empresas na região, mas destacou sobretudo a “nova dinâmica” do ecossistema “empreendedor e científico” do arquipélago.
O acesso a fundos de capital é outro dos trunfos do Terinov na captação de projectos, sobretudo nas áreas da biotecnologia e da economia azul.
“O Terinov é parceiro local de um fundo da Indico Capital Partners de 36 milhões de euros para a economia azul. Há aqui uma oportunidade muito grande de as nossas empresas e de eventualmente quem se instalar connosco ter apoios dos 100 mil euros aos 5 milhões de euros para avançar com projectos dentro da economia azul”, realçou o director executivo.
A participação de empreendedores de outros países no Azores Info Days, em período pandémico, é uma prova do interesse que os Açores despertam, segundo Duarte Pimentel.
“Esta ideia de um ecossistema muito próximo, muito vivo, muito virado para o exterior, com gente muito nova, mas altamente qualificada, acho que lhes dá aqui um motivo de terem vontade de trabalhar nesta grande família”, reforçou.

Terinov tem 67 projetos
e 220 profissionais

A “Plant on Demand” é uma “plataforma online para produtores locais e cooperativas”, que nasceu em Espanha.
O projeto venceu o Azores Accel e Natalia Valle Aguirre acredita que pode encontrar parceiros no Terinov para expandi-lo para os Açores.
“Vamos encontrar pessoas aqui com quem podemos colaborar a muitos níveis. Acredito que as relações humanas são essenciais para começar em qualquer mercado e em qualquer lugar. O Terinov tem estes contactos e conhecer estas pessoas é muito importante para nós, para implementarmos a nossa solução aqui”, afirmou.
O meio mais pequeno permite ter um contacto de maior proximidade com os produtores agrícolas, público alvo do projeto, explicou.
“Dá-nos uma oportunidade de perceber o que se está a passar, de falar com os produtores e conhecer em primeira mão a sua realidade. Não só imaginarmos, mas termos contacto com o meio, com a natureza, com o solo, com os animais. Dá-nos uma noção da realidade e   da importância do que estamos a fazer”, avançou.

Um produto sustentável

Formado em biologia, Rui Cordeiro trabalhou durante vários anos no estrangeiro, mas as saudades de casa fizeram-no deixar o doutoramento nos Estados Unidos e regressar à ilha de São Miguel, onde venceu um prémio de empreendedorismo no parque de ciência e tecnologia da ilha, Nonagon.
O valor do prémio permitiu-lhe lançar a COReProtein, uma empresa que quer transformar o soro do leite, habitualmente desperdiçado no fabrico do queijo, em suplementos de proteína.
“Já temos as tecnologias necessárias para secar o soro, ou a proteína, de maneira mais fria, para preservar a qualidade das proteínas. Estamos na fase de patentear essa tecnologia e de escalar a nossa produção. Temos uma produção muito pequenina, maioritariamente para provar a receita. Queremos passar à fase em que começamos a fazer mais produto para o público em geral começar a provar também”, adiantou.
Já instalado no Nonagon, Rui Cordeiro conta avançar com a construção de uma fábrica dentro de um ano, mas considera que o laboratório de produtos lácteos instalado no Terinov pode ser uma ajuda importante para consolidar a produção antes de dar o próximo passo.
“Há aqui um interesse nesse aspecto estratégico, logístico e eles têm aqui instalações específicas que nós não conseguimos encontrar em São Miguel, pelo menos à escala que precisamos”, justificou.
A rede de contactos do Terinov permite, por outro lado, encontrar fornecedores e até investidores. “Vamos estar reunidos com pelo menos quatro deles, maioritariamente produtores de soro, que podem tentar tornar-se nossos fornecedores. Vamos tentar que sejam mais do que fornecedores, porque se eles nos ajudarem a crescer mais depressa, mais depressa eles tiram benefício”, salientou.
                                                     

DI/CA

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Autor: CA

Categorias: Regional

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