Verónica Melo tem 31 anos de idade, é natural do Pico da Pedra, na ilha de São Miguel, e é uma das artistas que está actualmente a participar na exposição colectiva intitulada “The Art-Ist Great”, em exposição no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada até ao dia 17 de Março.
Licenciou-se em Artes Plásticas, na vertente de pintura, através da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e, na verdade, desde criança que dedica muito do seu tempo ao desenho ou à ilustração. Durante o ensino superior, ganhou um gosto especial pela ilustração científica, tendo inclusive dado vida a vários animais marinhos conhecidos nos Açores em trabalhos desenvolvidos com a Associação Ecológica Amigos dos Açores e com a Futurismo, empresa de animação turística, onde os seus desenhos vivos em detalhes fazem parte do merchandising da mesma.
Apesar de ter já participado em diversas exposições colectivas ao longo dos anos, tendo uma delas sido apresentada em países como Coreia do Sul, Estados Unidos da América, Espanha, Itália e Portugal, esta é a primeira exposição em que participa na ilha de São Miguel: “Curiosamente esta é a primeira exposição que eu faço em São Miguel. Nos Açores já expus no Pico, como em algumas edições do Festival Montanha ou do Festival Azores Fringe. Já tinha tido convites para expor em São Miguel mas não consegui participar, por isso esta é a primeira vez em que estou, realmente, a mostrar aquilo que eu faço e é a primeira vez que eu exponho os meus desenhos de animais marinhos que muitas pessoas já conhecem mas nunca viram o original”, explica.
Porém, o seu percurso acabou por fazer com que se aproximasse da área do design, na qual trabalha hoje na criação de websites a partir da empresa Business Config, em Lisboa, que, devido à pandemia, lhe deu também a oportunidade de trabalhar à distância directamente a partir dos Açores. Actualmente, conforme explica, a artista tenciona reduzir o seu tempo de trabalho na área do design, de modo a que se possa também dedicar com mais afinco à sua actividade das artes plásticas, na qual tem tido mais propostas de trabalho ultimamente.
O seu objectivo é o de conseguir ser artista a tempo inteiro nos Açores, uma vez que considera que é “mais fácil exercer esta profissão em São Miguel do que em Lisboa”. Em causa, adianta, está o facto de “conhecer muitas mais pessoas do meio artístico nos Açores”, o que origina sempre “convites para participar em eventos artísticos” e um maior sentido de comunidade relacionado com as artes, preparando-se agora para leccionar aulas de pintura no museu local do Pico da Pedra, também numa tentativa de dinamizar aquele espaço, até ao momento, “tem sido muito pouco divulgado”.
A par da ilustração científica, do desenho e da pintura, Verónica Melo tem também procurado dinamizar vários workshops inseridos na área da gravura, de forma a partilhar os seus conhecimentos sobre carimbos feitos em linóleo, que podem também ser encomendados directamente com a artista. “Até agora há poucas pessoas que divulguem publicamente ou que ensinem esta prática, por isso todas as vezes que faço um workshop tenho sempre vários participantes cá na ilha”, acrescenta.
Quanto ao gosto pelas artes, conta, este “sempre esteve presente desde a infância”, tendo em conta aquilo que apontam os registos fotográficos da família: “Tenho muitas fotografias minhas em criança nas quais estou a desenhar, era muito calada e estava sempre a criar coisas, a brincar sozinha ou a fazer qualquer coisa artística. Dos meus pais também houve esse incentivo, porque eles não me proibiram de seguir aquilo que eu queria”, mesmo que tivessem algumas inseguranças relativamente ao “tipo de futuro que pode ter um artista”, conta.
Apesar da certeza do gosto pelas artes e da certeza de que a escolha pelas artes plásticas foi a certa, a verdade é que ao longo do caminho “existem sempre dúvidas”, realça a artista e designer açoriana, tendo em os “momentos menos inspiradores” que fazem também parte do percurso.
A escolha pelo Porto já estava até pensada há muito tempo, tendo em conta que a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto era a sua primeira opção, e quanto à sua adaptação nesta nova cidade, em muito diferente do estilo de vida vivido em São Miguel, Verónica Melo adianta que sempre procurou sentir-se integrada na comunidade local, através da participação em vários eventos organizados pela faculdade que, aos poucos, se foi transformando numa comunidade. O mais difícil, relata, foi a adaptação às novas responsabilidades que surgiam, logo aos 18 anos, relacionadas com burocracias e com a vida doméstica, por exemplo.
Depois de terminada a licenciatura, a açoriana entrou num Mestrado em Desenho e Técnicas de Impressão, mas passados alguns meses percebeu que não era um curso que desejava concluir, devido ao seu crescente interesse na área da ilustração científica. Assim sendo, optou por regressar a São Miguel enquanto aguardava pelo ano lectivo seguinte, com o objectivo de começar a trabalhar para angariar dinheiro para ingressar no curso desejado, o que começou por fazer ao incorporar a equipa da Associação Ecológica Amigos dos Açores através do programa Estagiar-L, ao conciliar o seu interesse pela natureza com o design e a ilustração. No entanto, apesar dos seus esforços para poupar dinheiro, por falta de alunos, o curso que ambicionava frequentar não chegou a reabrir.
Durante dois anos trabalhou com a Amigos dos Açores a tempo inteiro, continuando sempre a apostar nos carimbos, nas decorações e nas pinturas como uma forma de sustento à parte. Sairia da associação com o objectivo de se candidatar ao programa Eurodisseia, que lhe permitiria passar seis meses em Espanha, onde trabalhou numa universidade católica enquanto designer.
Depois desses seis meses, aos 29 anos de idade, voltou enquanto voluntária, no programa Voluntariado Europeu, sendo colocada no Norte de Espanha, e foi aí que nasceu a certeza de que queria mesmo estudar ilustração científica. Assim, em Julho de 2019, voltaria a São Miguel já com o intuito de se candidatar ao Curso de Desenho Científico e de Natureza disponibilizado pelo Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, leccionado pelo biólogo e ilustrador Pedro Salgado.
Esta decisão acabaria por se tornar numa grande aventura, tendo em conta que a açoriana “nem sabia se teria dinheiro para pagar tudo”. Porém, não desistiu, chegando inclusive a tornar-se voluntária em vários hostels em troca de um lugar onde pudesse dormir. Em Março de 2020 entraria em vigor o confinamento, o que levou a que Verónica Melo passasse três meses consecutivos em São Miguel, só conseguindo voltar a Lisboa em Julho, sem que conseguisse finalizar o curso.
Depois destas peripécias, focou-se em encontrar um emprego na área do design, emprego este que mantém desde Setembro de 2020, mas espera que, a médio prazo, seja possível concentrar-se por completo na sua arte e na sua loja online.