27 de abril de 2022

Opinião

Comemorar Abril

Tenho vários motivos para comemorar Abril. Desde logo porque, no mês de abril, nasceu a minha irmã mais nova, uma sobrinha, um sobrinho neto, alguns amigos, o meu sogro e, a cereja no topo do bolo, a minha única e adorada filha.
Isto quer dizer que estaria sempre em festa se assistisse a todas as comemorações aniversariantes que cada um faz.
Mas, há 48 anos, mais precisamente no dia 25 de Abril, um “punhado “de corajosos militares pôs fim ao regime ditatorial que então governava o país.
Confesso que até 1974 nunca me meti em políticas; pese embora, tal como hoje, nunca me privei de dizer aquilo que pensava, com os cuidados que toda a gente tinha na altura.
Assim, apesar de nunca me ter manifestado contra ou a favor do regime, eu também senti alegria naquele dia porque, sem saber porquê, me sentia mais leve.
Evidentemente que, quando vi os esquerdistas militantes, como por exemplo o PCP que era o único partido com historial de oposição ao regime, se apossarem, quanto a mim abusivamente, do espírito de liberdade que o golpe de Estado tinha devolvido à população, e ainda, quando vi  algumas manifestações violentas de frustração e revolta “contra tudo e contra todos”, apercebi-me que tempos difíceis viriam a seguir, até porque conhecia alguns dos frustrados que, antes, pouco tinham feito para melhorar a sua situação.
Assim, com o decorrer do tempo e com o início das organizações políticas locais, optei por me juntar a estas e defender a minha terra.
Claro que, apesar da propaganda dos “esquerdóides”  sobre as amplas liberdades – que muitos confundiram com libertinagem – o resto do ano de 1974 e até finais de Novembro de 1975, a Região viveu tempos conturbados, justamente porque o PCP e respectivos satélites se apoderaram, abusivamente, do espírito de Abril impedindo que os verdadeiros democratas – os tais que sabiam que em democracia tanto se perde como se ganha – se manifestassem em defesa da sua terra e das suas gentes.
Claro que para eles, e no meu caso pessoal, desconhecendo por completo a minha humilde origem, eu também era considerado fascista e latifundiário só porque defendia a minha terra da garra de quem a queria roubar e não admitia, como continuo a não admitir, que alguém estranho venham dizer-nos o que deveremos fazer naquilo que é nosso.
Mas, muito melhor do que eu com este arrazoado, recomendo a leitura do editorial deste Jornal do passado dia 24 assinado pelo seu director Américo Natalino de Viveiros intitulado: “A Liberdade e a Unidade Açoreana”.
Naquele texto, Américo Viveiros cita alguns exemplos da nossa importância para o país e chama à atenção da necessidade que temos em nos manter unidos, evitando os costumados bairrismos, como os que presentemente se estão a verificar entre nós, confundindo a realidade e potencialidade de cada ilha com a única condição comum que temos, e que é, a condição de sermos ilhéus.
Por outras palavras eu diria que, separados pouco valemos mas, unidos, somos aqueles que dão dimensão internacional a Portugal.
Por várias vezes tenho afirmado que Portugal sem os Açores e Madeira – mas mais os Açores do que a Madeira - não passaria de uma província de Espanha. Em certa medida até já o é porque, com a entrada de Portugal na União Europeia e com a abolição das barreiras aduaneiras, ficámos dependentes do país vizinho desde a roupa ao calçado, passando pela metalurgia e produtos alimentares porque o pouco que se produz em Portugal é muito mais caro.
Gostaria de dizer que, se não fosse o 25 de Abril de 1974, eu não teria tido a oportunidade de contribuir para que os Açores passassem a ser mais respeitados por Portugal. Isto apesar de eu não estar nada satisfeito com a autonomia que presentemente temos que é cada vez menor.
Para terminar, e com a devida vénia, transcrevo o parágrafo 16 do trabalho de Américo Natalino Viveiros:-
“Isso pressupõe encontrar um novo modelo de sociedade baseado em valores e no equilíbrio dos poderes, para o que serão precisos políticos e políticas audazes, e cidadãos exigentes e participativos na vida das instituições democráticas sem bairrismos doentios que enfraquecem um bem incalculável que é a Unidade dos Açores e a Autonomia que temos”.
Nem mais, nem menos! Digo eu!

P.S. Texto escrito pela antiga grafia

24ABRIL2022

Carlos Rezendes Cabral

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