27 de abril de 2022

Autofagia e antropofagia políticas


As posições do PCP-partido comunista português, em relação ao conflito na Ucrânia, só vêm acentuar a insignificância eleitoral e política.
O processo de autofagia em curso fragiliza a célula militante.
 Ou, no limite, conduzir à sua destruição.
Continua a não condenar a invasão russa.
Ao opor-se ao discurse de Zelensky no Parlamento, só veio confirmar a tendência suicidária. 
Tudo isto ocorre no seguimento do recente desaire eleitoral, onde viu o seu grupo parlamentar reduzido a apenas seis deputados.
Por outro lado o partido populista Chega, conotado com a extrema-direita europeia, de quem recebe apoio, tem vindo a subir eleitoralmente.
Já é a terceira força política no espectro partidário português.
Tendo passado dum deputado para doze. 
Os dirigentes do Chega, têm vindo a proclamar ser a única oposição credível à maioria socialista.
Ameaçando que nas próximas eleições passarão a ser a segunda força política, quando não a primeira, e governar Portugal.
Um novo sistema.
Com nova constituição e regime políticos.
Revêem-se nos êxitos eleitorais dos seus “amigos” por essa Europa fora.
De Le Pen em França, de Salvini na Itália, Abascal em Espanha ou ainda agora de Viktor Orbán na Hungria.
Todos eles apoiados e instrumentalizados por Putin.  
Poder-se-á considerar este fenómeno de antropofagia política?
Principais vítimas. Os partidos da direita democrática.
O CDS não conseguiu eleger nenhum deputado.
Têm vindo a ameaçar que a próxima vítima da sua voragem canibal será o PSD.
Existem muitos comentadores e politólogos que procuram subestimar a vertigem populista em Portugal.

Mas a verificar-se ao que tem vindo a acontecer na Europa, seria de todo aconselhável uma análise mais fina do fenómeno.
Exemplo. A recente eleição na Hungria.
Onde o partido populista Fidesz de Orbán voltou as ganhar as eleições com maioria absoluta.
É a quarta vitória consecutiva.
Para o conseguirem têm vindo a tomar medidas de retrocesso do Estado de direito e da democracia.
Entre outras têm levado a cabo as seguintes medidas:
. Restrições da liberdade de imprensa;
. Condicionamento da independência do poder judicial;
.Controlo do sistema multipartidário.
Não só recebeu felicitações de Putin, assim como de toda a extrema-direita populista europeia, incluindo da portuguesa.
Conseguiram com mestria hipócrita contornar a invasão da Ucrânia pelo amigo Putin.
Marie Le Pen da União Nacional conseguiu ir à segunda volta das eleições presidenciais em França, não obstante a sua proximidade a Putin.
Por alguma razão é que são populistas. Defender determinado discurso hoje e o seu contrário amanhã.
Ao contrário da autofagia que corre o secular PCP, pela sua posição em relação à crise ucraniana, mantendo-se uma vez mais do lado errado da história.
 O Chega, situado no lado oposto, não tem qualquer pudor em alterar a sua posição pró Putin.
Sente-se mais confortável na sua posição antropofágica. 
Os comunistas do PCP, batem-se por uma ideologia, pela qual são capazes de serem perseguidos, presos e mortos, como aconteceu durante o Estado Novo.
A continuada não condenação de regimes políticos totalitários, onde as liberdades e garantias, igualmente não são respeitadas, neutraliza todo esse passado.
Seja como for, de populistas é que não podem ser apodados.
Daí que em democracia podem ser com mais eficácia combatidos.
O mesmo não acontece com os populistas.
Vão mudando de fatiota conforme as conveniências.
Talvez aqui a razão dos sucessos políticos e eleitorais que têm vindo a somar.
Não obstante a onda anti Putin que varre a Europa e o mundo democrático, conseguem acompanhá-la com descarada hipocrisia, não deixando de manter a janela aberta ao autocrata russo.
Quando a oportunidade chegar.
Poderem continuar a beneficiar dos favores do seu aliado.
Esta perversa duplicidade destes inimigos da democracia não vem de agora.
Sempre aí estiveram.
Pelo menos na última década, tiveram novos e fortes aliados.
Para além de Putin, que os financiava, contaram com a solidariedade de Trump e Bolsonaro.
A União Europeia desvalorizava e negligenciava.
 A invasão da Ucrânia pela Rússia, veio tornar tudo mais claro.
Enquanto a Polónia, cujo governo partilhava muita da ideologia nacionalista de Orbán, já se veio descolar desse alinhamento.
Em face do esperado aumento do custo de vida, com uma inflação e taxas de juro a crescerem, os extremistas populistas de direita, tanto na Europa como em Portugal, irão não só acompanhar o discurso da esquerda, como até ultrapassá-los no clamor das massas populares.
A autofagia e a antropofagia políticas irão estar ao rubro.
Cabe às democracias anteciparem-se ao populismo e à demagogia, resolvendo os problemas concretos das populações, incrementando políticas de desenvolvimento económico, acompanhadas de medidas eficazes de distribuição da riqueza e de justiça social.
António Benjamim

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Categorias: Opinião

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