Correio dos Açores: Que balanço faz desta época?
Emanuel Simão: Faço um balanço positivo. Mais uma fez eu e a minha equipa técnica conseguimos o objectivo que nos foi proposto pelo clube, a manutenção, conseguida a três jornadas do fim do campeonato.
Começa como treinador em São Roque. Qual é a sensação de voltar a casa 8 anos depois ?
Em primeiro lugar, é sempre bom voltar aonde começamos. É sinal que deixamos uma boa imagem e um bom trabalho na primeira passagem, porque senão não existiria novo convite. E tem sido assim na minha carreira no futebol, saio por algum razão e passado um tempo voltam a fazer um convite para regressar. É sinal que deixamos uma marca enquanto ser humano e profissional.
Onde aprendeu a gostar de futebol?
Desde miúdo com o meu pai, os meus tios e jogando com amigos no bairro durante o dia todo.
Como chega a treinador?
Isso é uma história engraçada, mas ao mesmo tempo triste. Enquanto jogador nunca me passou pela cabeça ser treinador. O convite surgiu pelo Emanuel Ferreira quando estava a passar uma fase muito complicada na minha vida a nível desportivo, quando fui operado ao joelho e não consegui recuperar. Tive que abandonar o futebol enquanto jogador, que foi uma das piores decisões que tive que tomar na minha vida. Ai surgiu o convite para treinar os juniores do São Roque. Aceitei o desafio e com o passar do tempo fui notando que tinha condições para ir mais além enquanto treinador de futebol, e assim foi.
O que representa para si a sua equipa?
Para mim, a minha equipa representa carinho, amor, amizade, afecto e respeito. O significado da palavra equipa, só faz sentido se houver este conjunto de sentimentos que referi. Felizmente, ao longo dos anos, tenho sentido isso em todas as equipas que passei. Existem excepções de um ou outro jogador.
Tem sido muito ambicioso em termos de resultados desportivos? Quais os momentos mais marcantes da carreira de treinador?
Temos que ser sempre ambiciosos, tanto na vida pessoal, profissional e desportiva. Sem ambição não chegamos a lado nenhum. Claramente em 8 anos de treinador em equipas seniores, foram os títulos expressivos as 3 Taças de Honra, as 2 Taças de São Miguel, os 2 Campeonatos de São Miguel e o Campeonato dos Açores. Também as amizades que se criam no mundo do futebol, e que ficam para a vida.
Como treinador qual as qualidades que exige a um jogador?
Primeiro que tudo qualidades humanas. Depois, seja responsável, comprometido com a equipa, que se enquadre na nossa ideia de jogo e que tenha a mesma ou mais ambição do que eu e a minha equipa técnica.
Que clube mais o marcou na carreira no futebol?
Claramente o clube que me formou, o Santa Clara. Foram dez anos, em que entrei criança e sai adulto, onde aprendi muita coisa, não só no futebol em si, como para a minha vida. Não posso deixar de referir, que em todos os clubes que representei, sempre houve respeito e amizade mútua até aos dias de hoje.
Lembra-se do início de carreira no Santa Clara?
Obviamente que me recordo, como se fosse ontem e já passaram 35 anos. Foi um início com muitos títulos e centenas e centenas de golos nas camadas jovens. Na extinta Série Açores, no primeiro ano fazia parte da equipa sénior, ainda sendo júnior, vencendo a primeira edição do campeonato. Recordando o primeiro jogo que fiz pelos seniores, nas Laranjeiras e com o estádio repleto de adeptos, contra o histórico Lusitânia, em que entrei ao minuto 90 e aos 92 fiz o golo da vitória. (lágrimas). Jamais esquecerei este momento marcante na minha carreira.
Sente pressão ou responsabilidade nos jogos das suas equipas?
Pressão nunca, responsabilidade sempre. Sou um treinador muito ambicioso e para se ter ambição a responsabilidade tem que estar sempre presente em todos os momentos.
Como foi a despedida como jogador?
Como mencionei acima, foi uma despedida muito triste. Não queria acabar, mas a lesão que sofri (ainda hoje incomoda muito) obrigou-me a tomar a decisão de abandonar.
Qual foi o jogo que mais o marcou?
Foram tantos, com os meus golos eu decidi variadíssimos jogos, em que mencionar algum em concreto não seria justo. Enquanto treinador, sem dúvida os jogos que me deram os títulos.
Qual o jogador que mais o inspira no mundo do futebol?
Quando era jogador foi sem duvida alguma o Ronaldo Nazário (fenómeno), fazia coisas incríveis, infelizmente as lesões fizeram que com acabasse a carreira mais cedo. Actualmente, o Cristiano Ronaldo, é o exemplo do que tem que ser um profissional de futebol hoje em dia.
Tem algum treinador de eleição?
Emanuel Simão. (risos)
Qual o sabor em ganhar o campeonato de futebol dos Açores?
Vou responder esta pergunta em duas partes: Como toda a gente sabe, ganhei o campeonato dos Açores com o Operário, em que quando entrei mais a minha equipa técnica só nós é que sabemos a maneira como encontramos o clube. No primeiro ano foi-nos pedido a manutenção nos 5 primeiros, conseguimos, terminando em segundo lugar, o que constituiu um trabalho muito árduo.
No segundo ano foi-nos pedido o título, conseguimos, só com uma derrota na secretaria. Fizemos um trabalho magnífico, em que houve uma simbiose enorme entre equipa técnica e jogadores- uma verdadeira família. Por toda a conjuntura desde que chegamos ao clube, a forma como o encontramos, e no ano seguinte sermos campeões … Obviamente, foi um sabor muito especial.
Que mensagem tem para os jovens que pretendam enveredar pelo futebol?
Quero deixar uma mensagem de esperança, que trabalhem muito, que sejam muito responsáveis, comprometidos e que não desistam ao primeiro percalço. Que tenham a capacidade de saber esperar pelas oportunidades.