Após mil e uma vicissitudes, a Comissão Europeia deu “luz verde” à SATA para continuar a voar. Vai voar sim, mas, com determinadas condições, as quais, ao contrário do que se pensava, não vieram aliviar os bolsos de todos os contribuintes dos Açores.
Isto porque, a “ginástica contabilística” para aliviar o défice do grupo continua a ser, em última análise, da responsabilidade do Governo Regional ou, melhor dito, do povo dos Açores.
A “sentença de Bruxelas” não foi além daquilo que muitos já tinham escrito sobre a actividade daquele grupo empresarial mas que, não vindo da União Europeia, não tinha qualquer valor para ser tomado em consideração. Ou seja, Bruxelas, é que passou a ser a mandante do que se pode, ou não se pode fazer na SATA.
Como diria um militante comunista (cheio de razão) a nossa soberania de transportes aéreos, “voou” para Bruxelas.
Mas tudo isto acontece porque se teimou em manter determinadas condutas comerciais, continuadamente lesivas do interesse económico regional.
Pese embora alguns acharem que, voar com dois ou três passageiros é normal porque o avião tem de cumprir o “horário”, comercialmente falando, é desastroso para a empresa que presta tal serviço. Diria que sairia mais barato pagar o alojamento ao passageiro retido do que pôr no ar um avião vazio ou semi-vazio.
Evidentemente que existem excepções que confirmam a regra como é o caso de uma doença grave, por exemplo.
No que à Azores Airlines diz respeito, vamos a ver se, a partir de agora, se vai deixar de ter “palpites” sobre novas rotas e mercados emissores. Após a necessária publicidade feita nos mercados emissores, voa-se uma vez ou duas e, se o mercado não corresponder com o número de passageiros suficiente para evitar o prejuízo, é partir para outra.
Poder-me-ão argumentar que os contratos firmados poderão obrigar a continuidade de voos. Neste caso eu responderia que, nos contratos, deve sempre constar uma cláusula que possibilite o cancelamento da rota, caso se verifique um número de passageiros inferior a Xis.
De resto, a Azores Airlines quando foi criada com o nome de Sata Internacional, foi para servir não só as rotas Açores/Lisboa e Açores/Porto, como também a nossa diáspora dos Estados Unidos, Canadá e, eventualmente, Bermuda.
Se, nesta companhia aérea, nos tivéssemos cingido a estes destinos e deixássemos a mania das grandezas, como foi hábito na governação socialista, acolitada por administradores “super sumos” vindos de fora da Região, dispensando gente de cá que, não só percebia da “poda” como geria com “alma açoriana” não se teria chegado à insolvência como aconteceu.
Quanto à SATA-Air Açores sempre foi considerada uma empresa doméstica para servir os Açores, os açorianos, e quem cá nos viesse visitar. Porém, como acima referi, não deveria voar com um ou dois passageiros, principalmente para destinos onde existe transporte marítimo que pode alternar com o aéreo.
Quanto ao manuseamento de cargas e bagagens (gostam de lhe chamar handling) que, embora seja da SATA, é uma empresa com personalidade jurídica própria, acho que não deve ser privatizada.
Podem achar que estou errado, mas penso que um privado não terá grande interesse nos movimentos de carga e bagagens, a não ser nos aeroportos da Horta , Lajes da Terceira e Ponta Delgada e, quando muito, o Pico. Pergunto: e o resto? Fica a cargo da Região?
Para terminar diria que a SATA ficou com asas para poder voar, resta saber se irá aproveitar para se remodelar e voltar a ser uma verdadeira SOCIEDADE AÇORIANA DE TRANSPORTES AÉREOS.
O futuro o dirá.
Carlos Rezendes Cabral
P.S. Texto escrito pela antiga grafia
12JUNHO2022