O Teatro Faialense, na cidade da Horta, foi o local escolhido para a ante-estreia do filme ‘Entre Ilhas’ da realizadora e antropóloga Amaya Sumpsi. A apresentação que decorreu no passado dia 8 de Junho perante lotação esgotada, “correu muito bem”, revela Amaya Sumpsi que destaca desde logo o facto deste filme ter sido “feito para todos os açorianos”.
Durante 1h10m, “Entre Ilhas” retrata a importância dos transportes marítimos na história e na vivência das comunidades insulares, um aspecto que segundo a realizadora, ainda não tinha sido devidamente aprofundado.
“Já fiz trabalhos sobre o mar nos Açores, sobre a pesca e outras áreas, mas comecei a perceber que nunca se tinha dado muita visibilidade a esta estrada que é o mar e a todas as pessoas que estiveram envolvidas nesta navegação (…) Estas pessoas foram muito importantes, com gestos por vezes tão pequenos como levar um medicamento, uma carta para um familiar noutra ilha, para os jovens que estavam na tropa na Terceira ou trazer um papel de São Miguel para emigrar”, realça.
A realizadora espera que este filme “faça com que as pessoas percebam que os Açores não são apenas isolamento” e que possa contribuir para uma reflexão sobre “o presente e o futuro”.
“Actualmente não existem barcos que façam a ligação entre os Grupos, nem no Verão, e isso levanta uma discussão que deve ser aberta e transversal à população. Sabemos que o transporte marítimo é caro, mas também sabemos que faz parte da vivência das ilhas e considero que é importante, tanto politicamente como socialmente, que se discuta o que se quer”, afirma.
Amaya Sumpsi explica ainda que esta obra é parte integrante de “um projecto duplo”, que inclui também um “trabalho de investigação muito longo, parte de um doutoramento que vai ser apresentado brevemente e que espero poder vir a ser publicado em livro”.
Com as gravações iniciadas em 2016, a realizadora admite que muito do material recolhido não pôde ser incluído no filme.
“Espero que o restante material possa circular nas ilhas com exposições, livros ou workshops para as comunidades participarem. Há, portanto, ainda muito trabalho a fazer sobre estas pessoas da cabotagem”, garante.
Amaya Sumpsi salienta ainda o facto de “as novas gerações açorianas nem pensam nos Açores sem avião e os Açores sem avião eram outro mundo”, lembra, referindo-se a uma ideia vincada por um dos seus entrevistados.
“A verdade é que havia um movimento difícil, mas intenso, entre as ilhas e Lisboa com características que só acontecem nos Açores e não há mais nenhum sítio em Portugal onde este movimento de portos, de engrenagens e de pessoas, aconteça. Acho que esse caminhar pelas ondas do mar faz parte da identidade dos Açores”, reforça.
Após esta ante-estreia, ‘Entre Ilhas’ terá agora a sua estreia comercial a 30 de Junho, no cinema City Alvalade, em Lisboa. Depois disso, Amaya Sumpsi quer levar o seu filme a todas as ilhas dos Açores até porque, como diz, este “é um filme feito para vocês todos, para os ilhéus”.