Depois de dois anos sem a habitual celebração da festa do Corpo de Deus, conhecida por ser a maior festa religiosa que acontece no concelho da Povoação e que antecede o feriado municipal, toda a vila se preparava já há uma semana para o reemergir desta grande celebração, com os seus grandiosos e detalhados tapetes ornamentais feitos a partir de flores, verduras e outros materiais repletos de cor.
Este ano, explica Rui Melo, a Câmara Municipal da Povoação é responsável por cinco tapetes ornamentais, de seis por doze metros, que ao longo do dia de hoje, devido ao seu carácter único, irão surpreender os visitantes que escolherem fazer parte destas festividades que, na sua maior parte, são organizadas pela autarquia.
Nestes tapetes ornamentais, da responsabilidade de Alberto Ferreira e de vários outros funcionários da autarquia, são recriadas “cenas associadas àquilo que á a celebração religiosa”, o que, para muitos, se apresenta como uma novidade.
Tendo em conta estes factores, e sem esquecer o crescimento que a festa registou nos últimos anos – anteriormente à pandemia –, o vereador responsável pela área da cultura na Câmara Municipal da Povoação adianta que as expectativas para o dia de hoje e para os dias que se seguem são elevadas, contando com visitantes de toda a ilha de São Miguel e, também, com vários emigrantes que regressam à sua terra de propósito para esta festa.
“Contamos basicamente com visitantes da ilha. Acredito que não haja muita gente que venha de propósito para ver só os tapetes, com excepção da nossa comunidade emigrante, pois sendo esta a festa do concelho, é também um atractivo para a nossa comunidade emigrante que regressa à sua terra natal nesta festividade, tal como acontece nas festas de freguesia”, diz Rui Melo.
No que diz respeito ao turismo, o vereador salienta que este é importante para a vila e para o concelho, sobretudo devido ao impacto que estes podem gerar na economia local, esperando por isso que o investimento feito “não só nos tapetes ornamentais mas também na animação profana” ajudem a agitar a economia povoacense neste fim-de-semana prolongado.
Quanto ao ambiente vivido na vila nos últimos dias em torno da preparação desta festa, Rui Melo confessa que é “das fases que mais aprecia”, e na qual ocorre a montagem das estruturas, o pintar das aparas e o picar das verduras que encheu de criptoméria a antiga sede dos Bombeiros Voluntários da Povoação, dando assim continuidade a uma tradição já antiga, que se faz acompanhar por um nervoso miudinho para que tudo fique perfeito.
“A ansiedade que se cria nos povoacenses e a alegria de se participar na festa nesta altura do ano é contagiante. Já desde a semana passada que vemos as pessoas a conversar umas com as outras e os moradores a combinar qual o desenho que vão pôr na rua. (…) No dia em que as pessoas saem das suas casas para enfeitar as ruas, é muito agradável ver a alegria e a felicidade das pessoas a decorar o caminho e a sua rua para a maior festa do concelho”, acrescenta. Aproveitando também o feriado municipal, assinalado amanhã, e depois de consagrada a sua vertente religiosa, a festa prolongar-se-á até Domingo, colocando assim a Povoação no centro do mapa este fim-de-semana e dando uma “maior disponibilidade às pessoas para poderem aproveitar esta importante celebração para o concelho.
Para marcar a parte profana das festas, que irá decorrer no Jardim Municipal, explica Rui Melo, a autarquia optou por valorizar a cultura local, iniciando assim o fim-de-semana prolongado de festa com cantigas ao desafio, contando assim com Vasco Daniel, cantador natural da ilha Terceira, com Luís Mariano, um cantador que tem vindo a participar nos últimos anos desta festa, Paulo Miranda e Carlos Sousa, acompanhados por tocadores da Povoação.
“É na realização da missa que está o ponto alto da festa”, afirma o padre João Ponte
Com o regresso das comemorações do Corpo de Deus à vila da Povoação, também o padre responsável por esta paróquia se revela expectante quanto à quantidade de pessoas que irá fazer parte desta grande festa religiosa, uma vez que “nos últimos dois anos, devido à pandemia, não foi possível fazer as festas nos moldes habituais”.
“Há grandes expectativas no retomar das festividades. Esta Quinta-feira creio que a nossa adesão será grande, pois serão muitas as pessoas a virem à vila da Povoação para participarem nas festas do Corpo de Deus. Nos últimos dois anos não houve a procissão, embora houvesse alguns tapetes decorativos, pontos de atracção para muitas pessoas e que são elaborados pela Câmara Municipal com o auxílio de muitas pessoas da comunidade”, diz João Ponte.
Porém, mesmo sem a procissão ou sem a totalidade das decorações características do dia do Corpo de Deus nas ruas da Povoação, o padre revela que assistiu à vinda e permanência de pessoas de toda a ilha de São Miguel na Igreja de Nossa Senhora da Mãe de Deus, que ali foram entregar as suas orações a Jesus.
Dentro de portas, a igreja procurou celebrar sempre a Eucaristia própria destas festividades, suspendendo-se apenas a realização da procissão e do arraial, uma vez que é na realização da missa que, para os Cristãos, está “o ponto alto da festa”. Isto porque, “sem a missa, não teríamos a hóstia consagrada a percorrer as ruas da Povoação”, assinala o padre, reforçando que “tudo parte da celebração da missa”, incluindo a procissão.
Para este grande momento, que inclui também a realização das primeiras comunhões das crianças do concelho, prepara-se também a igreja para acolher os seus visitantes para este dia especial, vestindo-se essencialmente de flores brancas que chegam através de doações feitas pelos paroquianos, tradição esta que começou durante o período de pandemia.
“As pessoas começaram a trazer flores para a Igreja. Temos a colaboração da autarquia para a compra de flores, mas nos últimos dois anos intensificou-se muito a dádiva das pessoas através de flores. Sobretudo no primeiro ano de pandemia, quando não existiam muitas possibilidades financeiras para encomendar flores, lançou-se este apelo às pessoas, para trazerem uma flor para enfeitar a igreja, e a adesão foi impressionante e na entrega da flor as pessoas vêem muito a entrega da própria vida. A flor é sinal de festa e de alegria, e as pessoas partilham com Deus a sua vida e a sua alegria”, explica o pároco João Ponte.
Hoje, ao meio-dia, ocorrerá a missa com a participação das crianças que fazem a sua primeira comunhão, adianta o pároco. Às 17h00 haverá outra celebração com a presença das várias paróquias da Ouvidoria da Povoação e com os vários padres desta Ouvidoria, sendo presidida pelo Administrador da Diocese de Angra, padre Hélder Fonseca Mendes.
Povoacenses desejosos pelo retomar da “maior festa religiosa do concelho” e por voltar a receber grande número de visitas
Helena Soares e Graciete Sousa são duas funcionárias da Câmara Municipal da Povoação que já perderam a conta aos anos em que auxiliam na confecção dos tapetes ornamentais que enfeitam os caminhos da vila pela ocasião das festividades do Corpo de Deus.
Para Helena Soares, natural da vila, esta é uma festa que adora desde sempre, e que todos os anos a “choca imenso”, chegando mesmo a chorar sempre que ouve a música que marca o passo da grande procissão que rasga caminho entre os tapetes de flores e verduras feitos pela população com enorme devoção naquela que considera “a segunda maior festa religiosa da ilha”, sem tirar lugar ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Depois de dois anos de pandemia, esta funcionária da autarquia irá rever muitos dos familiares que acabaram por emigrar para os Estados Unidos da América e para o Canadá, uma vez que estes, à semelhança do que antes acontecia, voltaram à ilha de São Miguel por altura destas festas para as saborearem em família.
Festa do Corpo de Deus marca
reencontro dentro das famílias
A mesma coisa acontecerá com Graciete Sousa, que irá rever familiares que actualmente vivem em Lisboa e que chegaram entretanto a São Miguel por ocasião destas festas, garantindo por isso que a sua casa terá alegria a dobrar, tanto por ocasião da celebração religiosa que acontece hoje, quer pelo facto de ver reunida a sua família.
Apesar de esta povoacense não fazer questão de participar em todos os momentos da festa, adianta que tem sempre um gosto enorme ao colaborar com a preparação da mesma, salientando que este ano tem ainda um gosto diferente devido às expectativas depositadas no regresso de uma festa tão acarinhada pelo povo que a compõe, embora a alegria seja constante de ano para ano, ressalva.
“Uma festa grandiosa com
tapetes maravilhosos”
Lucélia Duarte, também natural da Povoação, é a proprietária de um salão de cabeleireiro e desde cedo que acompanha também esta “festa muito grandiosa com tapetes maravilhosos que chamam muita gente de fora”, salientando que entre a azáfama dos locais, são frequentemente vistos turistas curiosos com tudo o que estava a acontecer no centro da vila.
Tendo em conta a parte religiosa desta festa, onde se inserem comunhões e crismas, a cabeleireira afirma que teve, nos últimos dias, e inclusive hoje, “uma agenda completamente maluca”, na qual terá também arranjado tempo para fazer, como habitual, os seus dois tapetes, um à porta do salão, e outro à porta de casa, o que faz parte da forma de viver, em conjunto com a sua filha, estas festividades.
Centenas de flores brancas
reflectem “o melhor para Jesus”
Na Igreja de Nossa Senhora da Mãe de Deus encontrámos Cândida Francisco, membro da Comissão Fabriqueira, responsável por vestir de branco os espaços dedicados à decoração da igreja que será palco do maior evento deste dia, onde foi preparado o melhor para Jesus por intermédio de centenas de flores diferentes, adianta.
“Temos as melhores flores, os melhores arranjos, a maior quantidade, tudo com a doação das pessoas que têm vindo trazer as flores à Igreja com a colaboração da Câmara Municipal”, afirma ainda, expectante por ver o regresso das pessoas à igreja neste dia.
Mais 200 fofas da Povoação para
fazer chegar este doce tradicional
até mais pessoas
Do lado mais profano da festa encontrámos Antoma Sousa, funcionário do snack-bar Pic Nic, que não hesita em dizer que os dias que antecedem a festa do Corpo de Deus são mais alegres quando em comparação com outras alturas do ano, referindo também que é uma altura onde se vêem muitos emigrantes açorianos, sobretudo dos Estados Unidos e Canadá.
Para acautelar os desejos gulosos dos visitantes da Povoação nestes dias de festa, Antoma Sousa adianta que serão asseguradas pelo menos 200 fofas da Povoação por dia, para que mais pessoas possam conhecer ou voltar a saborear este doce tradicional.
Restaurante aberto há pouco
mais de uma semana lotado para
as festas do Corpo de Deus
Também nas proximidades do Jardim Municipal encontrámos Nuno Câmara, proprietário do recém-aberto restaurante O Riquim, que embora tenha pouco mais de uma semana desde a sua abertura, está já lotado para esta festa, entre crismas, comunhões e a missão de alimentar a orquestra que ali irá fazer as suas refeições durante estes dias de festa.
“Existe uma sede enorme das pessoas por uma festa, por isso a expectativa é muito alta neste momento para a festa do Corpo de Deus”, diz ainda este empresário, ansioso pela época alta que se adivinha positiva apesar dos desafios actuais.