“Quem com ferro mata, com ferro morre.”
(popular)
Tanto quanto se vai observando as sanções aplicadas à Rússia e à satélite Bielorrússia não estarão a ter impacto tão sensível como as dificuldades advenientes da guerra na Ucrânia, que se vêm constatando nos países da União Europeia (UE).
Para este fenómeno, certamente, concorrem a natureza dos regimes políticos vigentes, bem como os diferentes graus de liberdade de expressão, de padrões de consumo e de indicadores sociais associados.
Enquanto na Rússia e na Bielorrússia o descontentamento é abafado com recurso a práticas dissuasoras a coberto da intimidação ou, pura e simplesmente, da proibição, nos países da UE a imprensa, em vez de esconder os constrangimentos, divulga-os e procura determinar-lhes as causas.
Claro que para tal contribui a confusão, provocada ou manipulada, entre as consequências das sanções à Rússia e à Bielorrússia, cujos efeitos, localmente, só podem ser reais por mais ignorados ou disfarçados em que os queiram transformar, do mesmo modo que as sequelas da guerra na Ucrânia nos mercados financeiros e, simultaneamente, nas cadeias de produção e distribuição de bens e produtos de primeira necessidade.
Ninguém duvida do peso das sanções decretadas pelo Ocidente em relação à Rússia e à Bielorrússia, mas quase toda a gente começa a aperceber-se da larga amplitude das consequências que uma guerra como a que ocorre na Ucrânia pode provocar - e está a provocar - no dia-a-dia dos países da UE.
Os casos dos juros das dívidas públicas e dos juros do crédito à habitação podem constituir um dos melhores exemplos de preocupação, tal como o aumento da inflação com todas as implicações inerentes, designadamente no custo de vida à escala da sociedade global.
Evidentemente, que ao fazer perigar o nível de vida das pessoas e os seus hábitos de consumo se atiça um rastilho social de difícil controle em países democráticos.
O discurso de Putin, em São Petersburgo, no dia 17 de junho corrente, acaba por fazer o que não é impossível, pois trata-se da quadratura de um círculo por ele desenhado.
Putin não se cansou de evidenciar quem, segundo ele, sai a perder na melhor ponderação possível do binómio sanções impostas pelos países ocidentais / guerra desencadeada pela Rússia e que, obviamente, só poderá ser o Ocidente.
Com mais esta fundamental achega tende para a generalidade - e para uma autoproclamada genialidade - a ideia que o Ocidente se sujeita a um efeito bumerangue.
P. S. A par de tudo isto - e de quem mais sofre, a extensa Ucrânia - paira o respetivo processo de adesão à UE, cujo desfecho será mais complicado do que facilitado, pois o chamado eixo franco-alemão não quererá ver beliscada a sua hegemonia, inclusive a nível territorial.
Angra do Heroísmo, 19 de junho de 2022
José Gabriel da Silveira Ávila