Correio dos Açores - Os vossos nomes estrangeiros vêm de onde?
Jason Santos - Nascemos nos Estados Unidos e viemos para São Jorge com um ano e meio, onde vivemos toda a vida. Só saímos para estudar na ilha de São Miguel em Ponta Delgada. Eu tirei o curso de Multimédia e o Keven tirou o curso de História. Actualmente, vivemos em São Jorge. É a nossa base.
Em que consiste o vosso trabalho?
Jason Santos - Trabalhamos nas redes sociais com muitas marcas, nacionais e internacionais. Recentemente, fizemos uma participação numa série, numa plataforma de streaming, mas não posso falar muito sobre isso, pois ainda é secreto. O meu irmão Keven tem um papel mais importante, o meu é elenco adicional. Às vezes, participamos em telenovelas, em elenco adicional também. Portanto, fazemos vida das redes sociais e de participações em televisão.
Como entram nas redes sociais e se tornam influenciadores?
Jason Santos - Entrámos nas redes sociais por acidente. Começámos a trabalhar com marcas conhecidas e o público foi aumentando. Além do Instagram, fazemos vídeos para o Youtube.
Além de influenciadores no Instagram, têm um canal no Youtube e são actores…
Jason Santos - Trabalhamos sempre em conjunto. Começámos através de curtas-metragens e depois surgiram convites. A partir daí, começamos a entrar cada vez mais no mundo da televisão.
Além das curta-metragens, já fizemos podcasts e webseries. Em 2014, fizemos a webserie “The Secret Liars”, em 2015, a curta-metragem intitulada “Deixar tudo para Trás”, em 2016, a webserie “Mists”, em 2017, as curta-metragens “Rock Paper Scissors” e “Dark Sand”, em 2018, a webserie “Lost Woods” e as curta-metragens “A Christmas Story” e “Paint the Picture”, em 2019, as curta-metragens “The Coven” e “Ser Ilha”, em 2020, a curta-metragem “Casteletes”, em 2021, a curta-metragem “Little Trees Everywhere” e a série podcast “Nevoeiro” e, por fim, este ano, a curta-metragem “Ilhas do Triângulo”.
Destas plataformas, o que vos dá mais gozo fazer?
Jason Santos - O Instagram. Estou mais focado nas redes sociais, mas não ponho de parte a televisão.
Keven Santos - Eu prefiro a representação. Já fizemos algumas formações em Lisboa inclusive. Estou nas redes sociais para sustentar a ambição que tenho de ser actor. Fiz recentemente o meu primeiro trabalho mais profissional, em elenco adicional, numa plataforma de streaming conhecida do público. Para já, não posso adiantar mais nada.
Têm parcerias com várias marcas reconhecidas… São abordados pelas marcas?
Keven Santos - Temos marcas que nos contactam e existem marcas nas quais temos interesse, pelo que somos nós a contactá-las. Posteriormente, estas respondem se querem ou não preencher os contratos e é acordado um valor por cada parceria. Às vezes, há marcas que querem apenas os vídeos ou os stories. As marcas nacionais preferem de uma maneira, as internacionais preferem de outra. Isto depende da marca e varia muito. Depois de o conteúdo estar criado, temos que enviá-lo por e-mail ou WeTransfer e as marcas fazem a validação. Após isto é que podemos publicar.
Conseguem viver apenas do rendimento que tiram do Instagram?
Keven Santos - A base do nosso rendimento são as redes sociais. Algumas participações extras dão igualmente uma boa quantia de dinheiro, mas não tanto como as redes sociais.
São os influenciadores com maior número de seguidores nos Açores?
Keven Santos - Penso que sim. Não quero afirmar com toda a certeza, de forma absoluta, mas creio que sim.
Sentem o peso da responsabilidade por serem um modelo a seguir para tantas pessoas, na sua maioria, jovens?
Keven Santos - Em todos estes trabalhos sente-se uma certa pressão, mesmo em termos das marcas. E claro que é uma responsabilidade ser seguido por tanta gente, especialmente pelos jovens. O nosso público-alvo é o público mais jovem, da faixa etária dos 18 aos 25 anos.
Ficam receosos com o feedback das pessoas, antes de publicarem algo?
Keven Santos – Claro que surge um certo receio e um sentimento de incerteza. Este meio é muito incerto, mas faz parte. Estamos a arriscar e a investir em material para melhorar o nosso conteúdo.
Houve alguma situação marcante, tanto pela positiva como pela negativa?
Keven Santos – Há sempre os haters, mas sabemos lidar bem com isso. Não nos afecta muito. A estratégia é não dar importância nem protagonismo a essas pessoas, pelo que bloqueamos ou apagamos os comentários. É como tudo, há o lado positivo e o negativo.
As pessoas abordam-vos na rua?
Keven Santos – Depende do sítio. Em São Jorge não nos abordam muito, porém quando vamos a São Miguel ou Lisboa, as pessoas abordam-nos mais. É sempre bom ser abordado e reconhecido.
Como é trabalharem com o vosso irmão?
Jason Santos - Trabalhamos em conjunto e ajudamo-nos muito um ao outro. Isso é importante para nós. Às vezes há uns atritos, porém não é nada de especial e que não se resolva. Há coisas que um sabe fazer melhor que o outro. Por vezes, depende da marca.
Que conselhos dão a quem tenciona entrar nesse mundo e que cuidados deve ter?
Keven Santos - Tem que haver muita paciência e persistência. Há pessoas que começam a fazer as coisas e desistem logo. Nós nunca desistimos. Estamos nesta área há 10 anos e fomos sempre lutando para conseguir. Melhorámos o nosso conteúdo, à medida que o tempo vai passando. Isso é importante. Com o passar do tempo começam a surgir outras maneiras de trabalhar e de criar conteúdos.
O que acham de comprar seguidores e gostos?
Jason Santos – Isso é um pouco mau, até porque o Instagram detecta essas compras. As pessoas acabam por ser apanhadas e perdem a credibilidade. Já aconteceu pessoas perderem as suas contas por causa disso e é o próprio Instagram que as apaga. Em Portugal não acontece muito, mas nos Estados Unidos sim.
Keven Santos - Hoje em dia, as plataformas das marcas conseguem ver tudo, através das estatísticas. Portanto, isto é algo facilmente detectável.
Conseguiam viver sem telemóvel e sem internet?
Jason Santos - Não. Ia ser um bocado complicado. Tivemos um convite para entrar no Big Brother e recusámos por causa disso.
Hoje em dia que impacto têm as redes sociais na vida das pessoas?
Keven Santos - Actualmente, as redes sociais têm grande importância na vida de muitas pessoas. Podem ter impactos positivos a vários níveis e, como tudo na vida, podem ter um lado mais negro. As redes sociais podem tornar-se num grave vício e, da mesma forma que as drogas e o álcool são prejudiciais para a saúde, as redes sociais também podem ser.
Jason Santos - Hoje em dia, existem muitos jovens que passam várias horas do seu dia agarrados ao telemóvel, nas redes sociais. Ora, esta dependência pode ser prejudicial. Tem que haver um equilíbrio e especial atenção dos pais, não só para o uso das redes sociais, como da internet em geral.
Vive-se muito em função das redes sociais…
Keven Santos - Cada vez mais é uma ferramenta do dia-a-dia. Muita gente não passa sem isso. Há pessoas que passam mesmo a vida nas redes sociais. É importante que haja um equilíbrio. Não pode ser nem muito ao mar, nem muito à terra.
Uma vez que trabalham com as redes sociais, o que fazem para estabelecer esse equilíbrio?
Keven Santos – Tentamos fugir disso, mas é quase impossível. Passamos muitas horas nas redes sociais, porque é o nosso trabalho. Temos a nossa rotina.
Habitualmente, dedicamos uma a duas horas para treinar, de manhã, pois temos uma certa flexibilidade horária. Tem esse lado positivo. Contudo, também já aconteceu ficarmos até às três ou quatro horas da manhã a fazer um projecto. Temos prazos, impostos pelas marcas, para entregar determinados trabalhos.
Onde se vêem daqui a cinco anos?
Jason Santos – Talvez em Lisboa, onde há mais trabalho e oportunidades. A verdade é que em São Jorge não há muitas oportunidades para este tipo de trabalho. De facto, este trabalho permite-nos trabalhar em vários sítios, sem ser presencialmente. Por exemplo, com a questão dos sismos em São Jorge, tivemos que ir temporariamente para o Pico e continuámos a desenvolver o nosso trabalho lá. Todavia, já nos aconteceu perder muitos trabalhos para o Instagram, devido ao facto de vivermos nos Açores.
Carlota Pimentel