No passado dia 29 de junho, a Junta de Freguesia de S. Pedro, a Câmara Municipal de Ponta Delgada e o Instituto Cultural de Ponta Delgada abriram as festas em honra de S. Pedro com uma admirável “Exposição Fotográfica” intitulada, “Tradições & Distinções, São Pedro Gonçalves, patrono dos mareantes”.
As bonitas e históricas imagens fotográficas nesta “Exposição” oferece-nos a visão da grandiosidade da festa anual, secular, promovida pela Confraria de S. Pedro Gonçalves, em louvor e agradecimento ao seu Santo Padroeiro – S. Pedro Gonçalves.
Desde o povoamento desta ilha, século XV, que os pescadores sentiram a necessidade de se unirem em fé à volta do Santo de Tuy - S. Pedro Gonçalves, devoção que trouxeram para estas terras insulares e muito os ajudou nas mais diversas dificuldades sentidas quer em terra, quer no mar, meigo ou tempestuoso.
Calcula-se que desde sempre praticaram a piedade popular, a sociabilidade e evangelizaram, ainda a Diocese dos Açores não estava criada. O cronista do Século XVI, Dr Gaspar Frutuoso, identifica a sua presença em Ponta Delgada, no Corpo Santo, atual Cais da Sardinha, com a existência de uma Capela dos mareantes bem fabricada e provida.
Alan Villiers, oficial da Marinha Australiana, um afamado repórter de temas marítimos, acompanhou e imortalizou os Pescadores Portugueses no seu livro: “A Campanha do Argus” na pesca ao bacalhau à Terra Nova e Gronelândia, em 1950. A bordo do “Argus” estavam vinte e cinco pescadores e dois moços da Calheta Pêro de Teive, que foram referenciados pela sua fé, arte de pescar, profissionalismo, coragem e honestidade! Estão lembrados e homenageados em diversos locais e museus espalhados pelo mundo. Em Portugal, no Museu Marítimo de Ílhavo!
A imagem, muito feliz do painel que promove este evento apresenta-nos a gravura de uma “Nau”, símbolo da Confraria de S. Pedro Gonçalves, a “Insígnia própria e peculiar do seu mester”. Nau esta, uma obra de arte que, afortunadamente, a podemos apreciar na ermida da Mãe de Deus nesta cidade. Infelizmente, em estado avançado de degradação e em risco de se perder, se nada for feito, na sua restauração!
Estatutariamente, realizavam esta grande e honrosa festa, na segunda dominga depois da Páscoa, tendo como um dos pontos principais, a procissão em louvor e agradecimento ao Santo Padroeiro, onde incorporava S. Pedro Gonçalves e a “Nau”. Por razões desconhecidas, no século XX, este evento foi alterado para o dia do Santíssimo Sacramento, na paróquia de S. Pedro onde tinha sediada a sua Sede.
O percurso da procissão era feito pelas ruas principais da freguesia, com o ponto alto, esperado, ansiosamente, pelos pescadores, na Calheta Grande, onde os barcos, devidamente engalanados e, os pescadores em traje dominical, esperavam a chegada do seu Padroeiro - S. Pedro Gonçalves, que ali se deslocava, para a bênção dos barcos e pescadores. Esta cerimónia era complementada com sermão, normalmente, efetuado por um sacerdote convidado para o efeito. Ocorriam a esta procissão, povo dos mais diversos locais da ilha.
Nesta ocasião, também, era organizado pelos pescadores o “Império dos Pobres”, onde eram distribuídas pensões à comunidade mais necessitada.
É esta a nossa identidade Histórica, o nosso património material e imaterial, que nos legou esta Brava e Corajosa classe Piscatória. Não podemos deixá-lo soterrado, tem de ser recuperado e preservado em museu, para conhecimento das gerações futuras!
É esta “Exposição” um passo muito significativo nesta briosa caminhada. Está de parabéns a Câmara Municipal de Ponta Delgada e o elenco que compõe a Junta de Freguesia de S. Pedro, especialmente, o seu Presidente Dr. José Manuel Leal, pessoa que tem uma enorme sensibilidade na preservação da História da sua freguesia.
Estamos todos de parabéns!