8 de julho de 2022

Opinião

A degradação política nacional e a ausência do PSD

A jornalista Teresa de Sousa escrevia em outubro de 2017, num texto assinado no Público, que os comunistas «perderam 40 anos a fazer do PS o inimigo principal. Voltar à mesma conversa é hoje muito mais difícil.
Ao contrário do PSD, que tem futuro, os comunistas não têm». Guardarei a referência ao pouco futuro que augura ao PCP para outro tempo – com desgosto, a realidade tem-lhe vindo a dar razão – tentando nesta fase em que Luís Montenegro se torna presidente social-democrata, entender se será, de facto, possível o ressurgimento deste partido como fator preponderante do exercício do poder, à imagem dos socialistas, ou se a curva descendente de resultados, de eleitos e de representação social continuarão o seu inglório caminho.
A generalidade dos comentadores traçou como surpreendente pela positiva o congresso que entronizou o antigo autarca de Espinho e ex-líder parlamentar do executivo de Passos Coelho.
Montenegro fez por isso: aglutinou em todos os órgãos nacionais os melhores quadros partidários, muitos com passado no governo que teve de gerir os destinos do país durante e intervenção decidida por José Sócrates poucos meses antes. Juntou nomes, alguns com egos que o poderiam engolir, dando assim um sinal claro não só de humildade, mas principalmente da capacidade de um líder aceitar que outros possam ter mais mundo e mais pensamento, e que isso não é um mal em si mesmo, a não ser que quem comanda seja fraco.
Não parece ser o caso.
Talvez por isso enunciou, com uma dureza pouco habitual, e logo na intervenção de abertura, que os sociais-democratas não vencem eleições porque têm falhado. E se o povo dá uma maioria absoluta aos socialistas, então é porque quem está mal é o PSD.
Teve ainda tempo de fazer um importante reposicionamento do partido, e puxou pelos galões da governação para lembrar o legado de Cavaco Silva – o único primeiro-ministro com duas maiorias absolutas – e, mais recentemente, a saída limpa após a conclusão do memorando de entendimento com a troika, e a consequente vitória minoritária.
E se a lembrança de vitórias passadas era fundamental para avivar a memória dos portugueses dos tempos em que o PSD governou, o reposicionamento ideológico e programático do partido não deixa margens para dúvidas. Um partido moderado, do centro, popular, liberal e social-democrata.
Traçou um claro afastamento dos radicais de direita e de esquerda, e com este regresso ao liberalismo enquanto doutrina política e económica, irá certamente recuperar eleitores ao partido de João Cotrim de Figueiredo.
A reunião magna no Porto acabou por lhe correr melhor do que a opinião publicada aguardava, e na vida política as baixas expetativas são sempre um bom ponto de partida quando se é competente. Terá ainda de contrariar o facto de não ser deputado, não podendo assim confrontar o primeiro-ministro nas escassas vezes que este se desloca ao parlamento, depois do erro que foi terem acabado os debates quinzenais.
No Reino Unido, o líder do executivo presta contas ao poder legislativo todas as semanas.
E que importante é a prestação de contas de quem governa. Veja-se o caso britânico por comparação com as recentes ações do governo português. Temos ministros e secretários de estado a demitir-se em catadupa para forçar a demissão do líder conservador, após uma comissão independente liderada por uma funcionária pública sénior ter confirmado que houve festas na residência oficial, e que Boris Johnson esteve presente.
Por cá, começam a faltar razões para um ministro sair ou pedir a demissão.
O caso de Pedro Nuno Santos é de bradar aos céus. Ao nível do processo “irrevogável”, mas com dois aeroportos às costas, num processo no qual tudo ficou à vista e não foi um erro de comunicação.
António Costa não terá tido coragem de demitir o ministro pois poderá ter sentido um princípio de rebelião no partido e no governo.
Pedro Nuno Santos, se algum dia vier a assumir as funções de primeiro-ministro, sabemos já com o que podemos contar. Ficaram os dois enfraquecidos, com a pouca áurea de estadistas que tinham a roçar a lama. E recordaram-me Robert Michels, que se refere à democracia dizendo que «há nela uma sede simultânea pelo brilho e pelo poder».  

 

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Categorias: Opinião

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