A Região Autónoma dos Açores tem menos de 250 mil habitantes, distribuídos em quantidades desiguais por nove ilhas que se estendem por cerca 600km de mar. Quatro das suas ilhas têm menos de 5.500 habitantes, e uma menos de 500. Mas nenhuma delas é menos importante ou menos aprazível, e, por todas, a pérola do próprio mar que é a ilha do Corvo. O PIB dos Açores em 2019 não excedia muito os 4.500 milhões de euros, ano em que foi registado um crescimento de quase 5%. Os Açores dispõem de 9 aeroportos, dois construídos pelas, então, potências marítimas, um outro presumivelmente pela França quando sonhava ser a nova potência europeia. Os portos são também, pelo menos em número de nove. O distanciamento das ilhas entre si e entre o arquipélago e os continentes europeu e americano constitui um fator geográfico de perturbante e constante relevância que condiciona o desenvolvimento social e económico da Região Autónoma. Só um sistema de comunicações integrado – cabo submarino, satélite – e de transportes marítimos e aéreos – aeronaves, navios, barcos e infraestruturas terrestres - permite ultrapassar de modo apropriado (ou tendencialmente) o constrangimento geográfico. Felizmente, a natureza ao isolar e separar as ilhas açorianas não foi madrasta. A extensão do mar dos Açores - a sua superfície e os seus fundos - constitui uma verdadeira riqueza cientifica que em conjunto com a localização geográfica justifica a fundação de uma Universidade do Atlântico, como ainda esta semana se ouvia, dito por quem representa o Governo, ao qual pertencem 4 dos nove aeroportos, o de Ponta Delgada, de Santa Maria, da Horta e das Flores. Falava o governante precisamente num Fórum internacional organizado por investigadores e cientistas. Mas não só, porque acrescenta muita superfície marítima à de Portugal que de si é já significativa.
Também num destes dias, na Assembleia da República foi ouvido o Presidente Executivo da ANA, S.A, cujo capital é detido a 100% pela VINCI Airports, SAS, sobre a caótica situação atual de congestionamento e cancelamento de voos nos aeroportos portugueses. A verdade é também que não é caso único na Europa. Resulta tudo da tão desejada retoma da atividade económica que aconteceu em tempo de férias e encontrou ainda as companhias aéreas em atrasada fase de recuperação do seu estado de normalidade. Interrogado o sobredito Presidente Executivo da ANA, SA por um deputado à Assembleia da República pelo círculo político dos Açores sobre estado de funcionamento do Aeroporto de Ponta Delgada nestes dias problemáticos não relacionou ele, separando águas suas, a devida explicação com o inesperado ritmo da retoma económica.
Nos Açores é diferente, a SATA culpada.A mais antiga companhia aérea, tendo a TAP a seu favor a vantagem de ter começado a voar ainda antes da pequena e regional SATA que até hoje sobreviveu à hegemonia da TAP… e foi a única das constituídas em Portugal que tentaram operar no País. Acusou - termo que me empresta a imprensa, - a SATA de dois maus comportamentos para com a ANA, SA: primeiro, de não respeitar os “slots”, que a imprensa traduz por “faixas horárias”, e de ao proceder assim concentrar a chegada simultânea de aviões e a consequente acumulação de passageiros em certos momentos do dia; segundo, a SATA deve há ANA, SA 11 milhões de euros. Sublinhou que seria bom que a ANA, SA fosse remunerada pelos serviços que esta presta no aeroporto de Ponta Delgada.
Sem cuidar da descortesia da resposta que não dignifica, quis o Presidente Executivo da ANA, SA, partilhar para obter aliados ocasionais ou cobrar no impróprio e inoportuno “palco” parlamentar um crédito sobre a SATA, comportando-se como um “cobrador de fraque”. Talvez fosse bom o Presidente Executivo da ANA,SA observar melhor a realidade insular açoriana. A ANA, SA, nos Aeroportos dos Açores, em alguma ocasiões relevantes, não faz parte das soluções, mas dos problemas. E se o mesmo não aconteceu na ampliação da pista do aeroporto de Ponta Delgada foi pela simples razão de que a obra era “obra” do Governo Regional e seu o investimento que seguramente contribuiu para a melhoria receita da ANA porquanto as maiores e mais pesadas aeronaves pagam mais do que as pequenas e mais leves. O mesmo já não aconteceu em relação à nova aerogare obra da ANA, EP e que foi um verdadeiro “bico de obra”. Será bom que não volte a acontecer com a mera abertura de mais portas de embarque porque são necessárias e não é SATA que as paga.