Um grupo de caçadores da ilha de São Miguel manifesta-se indignado pelo facto do Executivo açoriano, através dos serviços de Ambiente, ter interditado os Graminhais à caça, zona onde há mais abundância da narceja. “Os governantes fecharam essa zona, com o argumento de que o seu habitat é nos Açores, nomeadamente em São Miguel, mas a narceja é uma ave migratória” e é por isso que” nós, enquanto caçadores, estamos revoltados com os Serviços Florestais, com a SPEA e com as próprias associações de caça que não se manifestam sobre o assunto”, dado que se caça pouco, duas peças por caçador”.
Estudo versus narceja
Para além disso, um caçador identificado, diz que fecham mas não percebe porquê, e explica: “(…) depois querem fazer um estudo para alargar os Graminhais e fecham a caça à narceja para fazer o estudo; depois não fazem o estudo, apesar de fecharem a caça durante um ano por causa do estudo; e agora, depois de abrir a caça à narcejas com o anterior Governo, fecham a zona onde param as narcejas, que é a mesma coisa, na prática: proibir a caça às narcejas nesta ilha, com a agravante que nada dizem nem justificam para fundamentar esta decisão! Trata-se de uma ave migratória, que não está protegida nem inscrita no Livro Vermelho das aves, sendo certo que é sobejamente conhecido que o seu habitat e nidificação é condicionada pela lavoura e não pela caça, motivo pelo qual não há razão nenhuma (científica ou ética) para aplicar essa restrição aos caçadores porque não se coaduna com os princípios que regem a lei da caça, simplesmente porque a caça à narceja em S. Miguel não conduz a uma diminuição da espécie, nem afecta a conservação diversidade genética no habitat onde é caçada”
Outro caçador acrescenta que quem corta as matas também tem responsabilidade na destruição do habitat. “Retiraram as vacas dos pastos - a zona pertence aos Serviços Florestais - e a narceja é uma ave que precisa dos excrementos da vaca para comer os insectos. Mandaram tirar as vacas dos Graminhais, por isso as narcejas estão a desaparecer de lá. Estão a ir para outras zonas, porque os governantes e ambientalistas decidem fechar, e, assim, não temos onde caçar narceja”, sublinha.
Para além dessa ave, os caçadores de São Miguel também querem uma tomada de posição sobre a rola, uma espécie que se está a tornar numa praga e que afecta agricultura, tanto nos quintais como nas grandes áreas de produção, mas também há preocupação quanto ao pombo-torcaz.
A rola e o pombo-torcaz não constam do calendário de caça. São espécies que não se pode abater. “Brevemente, será uma praga. Aliás, já o é. É tudo política e a SPEA tem de tomar uma posição clara, de como controlar estas espécies. Entendemos que isso é um capricho da SPEA, que não quer abrir a caça ao pombo-torcaz e à rola, que são imensos e provocam muitos estragos. Arrancam milho e dão cabo de todas as horticolas. Quando se fala em abrir ao pombo-torcaz a SPEA não quer. O pombo-torcaz existe em abundância e já não se abre o período de caça há anos. Fazem prejuízos e ninguém olha para isso. É igualmente proibido caçar a rola e também não a querem abrir. São só proibições”.
Caçadores pedem fiscalização
para controlo dos clandestinos
Em relação ao coelho, a época de caça - batida, corricão e espera, salto e espreita- está programada entre as 8h00 ao pôr-do-sol. Mas este horário não agrada também aos caçadores. Das 08h00 às 16h00 seria o ideal, conforme referem. Já que dizem ter tanto coelhos, porque dão apenas 4 peças por caçador? Então, dessem 10 peças cada um nesse espaço temporal, sem o prolongar. A preocupação dos caçadores é que a população de coelhos, no próximo ano, vai diminuir, com as medidas tomadas com esta horário. Não há fiscalização. Não pagam horas extraordinárias, os guardas não trabalham à noite. Os caçadores clandestinos estão à sua vontade. Até já caçam de dia, de espreita, com a caça fechada de mochila às costas. Estamos no velho oeste. Caçam ilegalmente. As armas não estão legalizadas. Quem tem culpa disso é quem compra (...)”.
Entendem que a extensão prolongada para a caça não beneficia os caçadores, com licença e seguros em dia, mas sim, agrada aos caçadores furtivos. Isto é, “existe falta de meios de fiscalização por parte dos serviços florestais. Tendo em conta a falta de meios para proceder à fiscalização durante a manhã, como acontece, como vão conseguir fiscalizar os caçadores até ao pôr-do-sol, quase noite? Os caçadores vão matar os coelhos de manhã e, não sendo fiscalizados, vão para o mato novamente matar o dobro e ou o triplo dos coelhos (...) Assim ninguém controla a caça. Imagine-se que os caçadores vão todos para o mato, à espreita, até ao anoitecer, sem fiscalização, é lógico que não vão matar apenas quatro coelhos, como a lei diz. Vão matar 10, 20, 30 animais. Ao haver essa caça descontrolada, o número de baixas é semelhante ao de haver uma febre hemorrágica, pois morrem cerca de 90% da população de coelhos. Com essas medidas, vai morrer a mesma percentagem, com a diferença de que será às mãos dos caçadores, em vez de ser com o vírus hemorrágico”.
Entendem os caçadores que “essa falta de fiscalização deve-se ao facto de os guardas florestais não receberem horas extraordinárias, logo não fiscalizam após o seu horário laboral, nem ao fim-de-semana. A caça está aberta como se fosse livre. Há caçadores que vão caçar sem respeitar o limite de quatro coelhos por pessoa Também se verifica que há muita caça clandestina, o que é um disparate”. Também tem de haver fiscalização na restauração, dizem os caçadores, para que “se verifique se há compra, ou não, de coelhos bravos como se fossem de criação doméstica”. Lembram os caçadores que é absolutamente proibido vender coelho bravo e quem caça legalmente e só pode usar o produto da caça para o próprio consumo ou de familiares e amigos.
Os serviços florestais, a SPEA e outras associações dizem que existem coelhos em excesso, mas não se verifica isso na ilha toda, “só da Achada à Fazenda do Nordeste, mas as medidas são tomadas para todos os concelhos de São Miguel”.
Os caçadores entendem que Governo devia limitar as áreas. Ou seja, “onde há em excesso poderia abrir, onde há falta devia fechar, mas isso não acontece. Se não houver uma definição clara de áreas de caça, vai haver um desequilíbrio da população de coelhos. Por exemplo, existem muitos exemplares junto das vias rápidas, mas como não se pode caçar a menos de 250 metros, porque a lei não permite, a população aumenta nestas zonas, assim como não se pode caçar na mesma distância face a uma ordenha fixa, a uma casa, entre outros”.
Número de espécies baixa
devido à febre hemorrágica
Na ilha de São Miguel existem cerca de 2.000 caçadores legalizados, mas os caçadores acreditam que existe “o mesmo número de caçadores clandestinos, principalmente em na Lomba da Maia, Fazenda do Nordeste, Vila Franca do Campo, Povoação, entre outros. Se esses números tiveram alguma realidade estaremos a falar que existem “também duas mil armas sem registo”.
Este ano, a febre hemorrágica já teve lugar na ilha de São Miguel, pelo menos em metade da ilha, da Rotunda da Pérola da Ilha até às Sete Cidades. Morreram muitos coelhos. O vírus foi fabricado para matar coelhos na Austrália, há muitos anos, porque eram uma praga. Em 1988, esse vírus foi introduzido em São Miguel e nunca mais saiu de cá. Os caçadores querem um estudo, se está incubado ou se é lançado, pois em toda as ilhas o vírus existe. É muito estranho, quando há uma quantidade de coelhos elevada o vírus aparece”.
Ainda no que respeita à caça, referem que “o turismo é bem-vindo, mas os açorianos estão em primeiro lugar. Houve uma zona de caça fechada, por causa do turismo. Os caçadores pagam licenças e seguros para caçar e o turismo não (...).
Os caçadores fazem o ecossistema da caça, não é preciso o vírus aparecer. Nas ilhas todas não há coelhos por causa desse vírus. Santa Maria ia abrir a caça, mas já não abre porque o vírus limpou parte da espécie. Já não abre a caça há três anos em Santa Maria, com esse quadro parece que nem tão cedo”.
Neste ritmo, dizem, em todo o arquipélago, de 100% de população de coelhos, só temos 10%. Caminhamos para o abismo”, opinam, no que em matéria de caça desportiva diz respeito.