19 de julho de 2022

Esquerda Vs Direita


Fará sentido ainda hoje utilizar esta terminologia?
Sobreviverão os valores liberais da Democracia sem esta concepção?
Liberdade e Igualdade, será possível, ainda, recuperar o seu equilíbrio?
Não será possível que estes dois conceitos possam prosseguir em simultâneo?
Perante estas interrogações, existem cada vez mais correntes afirmativas, não permitindo contraditório, que, entre outras proclamações inflamatórias, exibem estas:
Nem esquerda, nem direita.
Politica e ideologia, jamais.
Mudar o sistema, já.
Nova república. Nova constituição.
Regime presidencialista e nacionalista.
Recuperar os valores de Deus, Pátria, Família e… Trabalho.
Culpam a globalização e a falta de regulação dos mercados pelas desigualdades.
Depois de terem sido os seus maiores beneficiários directos.
Muito deste pensamento é oriundo dos que mais defenderam as doutrinas neoliberais, fazendo com que a liberdade se tivesse sobreposto à igualdade.
Com um oportunismo despudorado, colocam-se ao lado dos que são as principais vitimas dessas políticas, arrastadas para a pobreza extrema.
Conspiram contra a democracia e a liberdade, de forma dissimulada, nem hesitando, quando dá jeito, em apelar às amplas liberdades democráticas.
Cinismo e contradição até à exaustão.
Daí o se tornarem potencialmente perigosos.
Exemplo mais acabado é o do nacionalismo exacerbado de Putin e dos seus fiéis seguidores no ocidente.
Esses sim é que são homens às direitas e de direita, para meter os corruptos na cadeia e obrigar os malandros a trabalhar.
 Baixar os impostos aos mais ricos, porque esses é que criam empregos.
Dar mais autoridade à tropa e às polícias.
Os padres só para pregar dentro das igrejas.
Mulheres querem-se em casa. 
Porque era assim no “meu tempo”. 
O que tenho é o suor do meu rosto…
E o discurso continua… 
A culpa é dos comunistas e dos políticos. 
Isto está a precisar é dum novo Salazar…
Não será China excepção?
É comunista e de esquerda?
Não! Não é.
Rematam dando a conversa por concluída.
O dinheiro e os negócios é que mandam. 
E o segredo “a sua alma”. 
Quem não perceber isto, não entende nada da vida.
Ainda se pergunta.
 E os chineses são da direita? 
Claro que são. 
A direita é que faz mover o mundo. 
O resto é conversa fiada de grupelhos radicais de esquerda e da maçonaria.
Que senão volverem estão “lixados”. 
Nos Açores “isto” têm de dar uma grande volta.
Senão… a gente vem para a rua …  
Isto está a precisar é duma revolução. 
Era a segunda vez que a repetia. 
E quantas foram nas redes sociais…
E assim se ganham eleições. 
É o digital a dar um jeito e algumas televisões que lhes dão palco.
Enigmática e ambígua esta vociferação.  
As alternativas esquerda/direita, no pós segunda guerra mundial, garantiram um conjunto de valores de justiça social, fiscal e equidade, sem descurar princípios morais e éticos.
Permitindo décadas de estabilidade e progresso.
Que se têm vindo a desmoronar.
A ausência de regulação dos mercados, facilitada pelo fenómeno da globalização, potenciou que a igualdade fosse preterida e a liberdade virasse o alfa e o omega do crescimento económico.
Analistas políticos de renome advogam que tal circunstância levou a que as elites se afastassem das populações trabalhadoras e de certa classe média.
Que em desespero se têm tornado presas fáceis dos extremos populistas. Que as recentes eleições em França são exemplo. Toda esta situação tem conduzido a uma grave crise dos regimes democráticos.
Pressupondo que:
- Os conceitos de esquerda e direita já não fazem sentido;
 -E já não são definidores das convicções que separam as populações.
Como se irão encontrar alternativas, sem desvirtuar o sistema democrático?
Neste tempo de incertezas e com líderes mundiais imprevisíveis, mais preocupados em destruir as instituições e os princípios da democracia, continua a existir quem esteja pela Democracia Liberal. Desde sempre tem existido quem deteste a democracia, mas nunca como agora. Seja como for, na Ucrânia continua a morrer-se pela Democracia e pela Liberdade. Joga-se o futuro da Europa.
O sucesso deste país é essencial, dir-se-ia mesmo crucial, para que Putin e os seus indefectíveis apoiantes espalhados por esta Europa fora, alguns sob hediondos disfarces, sejam derrotados.Que toda a cidadania moderada e de bom senso, onde a razão prevaleça sobre a emoção, a verdade sobre a mentira, esteja unida e resistente, por uma Europa Unida e mais Social. Que os partidos políticos respectivos, sustentáculos duma Democracia madura, quando governo, deixem de trilhar caminhos diversos das ideologias que os enformem.
Tais posturas não só inviabilizam alternativas credíveis, como, para além de contribuírem para a pulverização dos partidos moderados, minam os alicerces da Democracia, abrindo caminho às ditaduras.
 

António Benjamim

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Categorias: Opinião

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