A situação das trabalhadoras da COFACO volta a estar na ordem do dia depois de a empresa e o Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Alimentação, Bebidas e Similares, Comércio, Escritórios e Serviços, Hotelaria e Turismo dos Açores (SITACEHT/AÇORES) não terem conseguido alcançar um acordo. Numa conferência de imprensa realizada em Ponta Delgada, Vítor Silva, porta voz da CGTP, denunciou o facto de “85% dos trabalhadores da COFACO não terem aumento por via do Acordo de Empresa, ou, se preferirem, só tem aumentos salariais quando o salário mínimo é actualizado” e explicou que o Acordo de Empresa pretendido tinha como meta consagrar “a possibilidade de progressão na carreira de profissional”.
“Esta é uma carreira profissional de escravatura”, denunciou antes de destacar que o Sindicato sugeriu que essa categoria fosse dividida em “três níveis para que as trabalhadoras possam beneficiar de distinção e aumentos salariais, uma vez que os únicos aumentos que estas trabalhadoras têm são os decorrentes do aumento da retribuição mínima regional”.
“Não é digno que uma pessoa trabalhe 30, 40 e 50 anos, auferindo sempre o salário mínimo”, reforçou.
O sindicalista considera que “esta é uma situação discriminatória e inconstitucional”, numa região em que se “tenta impor o salário mínimo como salário padrão para todos os trabalhadores”.
O porta-voz da CGTP Açores referiu ainda que por falta de resposta da COFACO às reivindicações apresentadas, “o Sindicato desenvolveu um processo de conciliação junto da Direcção Regional dos Serviços de Trabalho, com um conjunto de reuniões que se realizaram a 1 de Abril, 4 de Maio e 28 de Junho do corrente ano, e onde não foi possível chegar a acordo”.
Vítor Silva não tem dúvidas de que o “caminho para combater a pobreza, para combater as desigualdades sociais, para melhorar a vida das famílias, é inseperável da valorização dos salários, das reformas, das prestações sociais, da defesa e do reforço dos direitos laborais”.
Denunciando que “o que se aplica à COFACO, aplica-se a toda a indústria conserveira nos Açores”, o porta-voz da CGTP lembra igualmente que os actuais baixos salários destas trabalhadoras “terão consequência nas suas reformas”.
Alertando também para o facto de muitas destas trabalhadoras serem o único vencimento fixo de muitas famílias em Rabo de Peixe, Vítor Silva acusa mesmo a COFACO de ‘jogar’ com essa situação para ir mantendo os baixos salários destas trabalhadoras.
“Percebe-se porque razão a fábrica está instalada exactamente no local onde está. Tem também um pouco a ver com a própria situação social e, se queremos alterar esse paradigma, temos de começar a valorizar as pessoas do ponto de vista dos salários, mas até do ponto de vista da própria dignificação”, salienta.
Perante este cenário, Vítor Silva garante que irão ser delineadas “acções de luta” juntamente com as trabalhadoras e explica que existem muitas formas de causar danos na empresa.
“Perder um ou dois dias de trabalho significa perder 50 ou 60 euros e isso é um rombo significativo para o orçamento familiar. Vamos ter de criar as formas e criar as condições para que a COFACO sinta a importância que estas trabalhadoras têm e sinta as consequências que podem resultar das tomadas de posição destas trabalhadoras sem que isso penalize o seu orçamento”, afirmou.
Reforçando que “estão em cima da mesa todas as formas de luta”, o sindicalista explica que “cada vez que antecipamos, a outra parte estará preparada para responder e por isso vamos ter de intervir cirurgicamente e em situações pontuais onde ninguém esteja à espera”.
Vítor Silva anunciou ainda que, apesar de esta não ser uma situação de resolução do ponto de vista política, “vamos falar com todas as forças políticas”.
“Os políticos não podem intervir directamente mas por via indirecta podem, ou seja, pode fazer depender-se os apoios às empresas tendo em conta as condições de trabalho e das relações e tratamento social que as empresas dão aos seus trabalhadores. Isso faria toda a diferença”, realça.
Luís Lobão *