27 de julho de 2022

De Vez em Quando

O Congresso auto-comprazimento

“A estratégia sem tática é o caminho mais lento para a vitória. Tática sem estratégia é o ruído antes da derrota.”
                                                                       (Sun Tzu)

Realizado que foi o último Congresso do PSD-Açores, o que pensar, o que dizer?...
Qual a perceção de quem não viu e ouviu, in loco, como acontece com a maioria dos militantes e dos eleitores?...
O que se sabe de um congresso partidário, aonde não se esteve, é sempre filtrado pelas impressões e imprecisões de outrem, sejam companheiros, amigos, comentadores ou jornalistas.
Tratou-se de uma reunião magna que serviu para algum compreensível auto-comprazimento do Partido, entretanto regressado ao Governo Regional dos Açores, após longuíssima e penosa travessia daquele inóspito deserto a que, no mundo da política, se costuma chamar de oposição.
Um regresso com pressupostos diversos de tudo quanto era usual no período fundacional da autonomia político-administrativa dos Açores, a nova autonomia democrática.
Um regresso que, pela natureza das pessoas e das coisas, permitiria entrever o modo como este congresso viria a desenrolar-se.
Um regresso que, pela sua inusitada peculiaridade, só se poderia apresentar com as diferenças próprias das ambiências matizadas pelo poderoso cimento que o poder empresta aos protagonistas porque, inevitavelmente, os molda e os muda.
Um regresso que, nesta fase do mandato obtido em 2020, mediante a teia de acordos e compromissos firmados, bem assim de enriços não evitados, faria supor esta trégua para retemperar ânimos e prevenir enfermiços desempenhos.
Um regresso exigente também pelo modo, relativamente inesperado/impreparado, como se concretizou.
Um regresso em que era forçoso sublimar os traumas dos tempos de oposição.
 Um regresso com alguns desempenhos diametralmente opostos quanto à sua qualidade/oportunidade, uns preocupantes, outros brilhantes, embora estes, reconheça-se, menos frequentes.
Um regresso em cujos meandros medram aqueles que, invariavelmente, estão sempre próximos dos líderes, desde que estes estejam no poder (ou apresentem credenciais para lá chegar).
Um regresso para o qual muitos e fortes foram os que, com denodo, se bateram na refrega política e na participação cívica.
Um regresso onde a previsibilidade escasseia, se a habilidade política não se superar a cada momento, em cada acontecimento.
Um regresso em que o excesso de confiança não pode casar com a conduta política, pois saber escutar e ouvir tem toda a relevância, embora, evidentemente, possa ser ainda mais avisado na atual solução governativa.
Um regresso, contudo, em que a estratégia só pode ser bem definida e melhor respeitada, sendo que, para tal, deve libertar-se das táticas de ocasião, das soluções de pacotilha, das fulanizações doentias, do desenrascanço crónico, enfim, das sempre insuportáveis chico-espertices.

Angra do Heroísmo, 19 de julho de 2022

José Gabriel da Silveira Ávila *

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Autor: CA

Categorias: Opinião

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