Vítor Sousa, sócio da Quinta do Além na Fajã de Cima

“Somos, provavelmente, os mais antigos produtores em continuidade de maracujá na Europa”

Na Fajã de Cima, a Quinta do Além, propriedade de Vítor Sousa e de Edgar de Melo, completa este ano 33 anos de existência. Apesar de se dedicar actualmente à fruticultura e à apicultura, esta última foi a ideia inicial para a instalação deste projecto, “o primeiro de apicultura cá nos Açores”, afirma Vítor Sousa. Este proprietário conta ainda a forma, algo invulgar, como surgiu esta iniciativa.
“Curiosamente isto tudo começou através de um programa da RTP Açores onde ouvi falar sobre a sericicultura, do bicho da seda, e tinha chegado recentemente da Bermuda onde trabalhei no consulado de Portugal durante 3 anos. Depois de ver esse programa, dirigi-me ao local onde se encontrava sediada a sericicultura, que era o mesmo onde se encontrava o da apicultura”, lembra.
Dedicada à produção de vários frutos, como o ananás, anona, araçá ou o maracujá, Vítor Sousa diz com orgulho que “estamos a produzir maracujá desde sempre e somos, provavelmente, os mais antigos da Europa a produzir em continuidade”. Com 1 hectare de área direccionada para este fruto, o produtor admite que “nunca atingi a produção máxima” e avança que esse é um dos objectivos em mente para o futuro.
“Tenho intenções disso (…).Estamos à espera da entrada em vigor do Quadro Comunitário de Apoio (QCA) para que os meus filhos possam apresentar um projecto para um terreno aqui ao lado”, afirma.
Para além da venda do fruto, Vítor Sousa destaca ainda a intenção de apostar mais na “polpa de maracujá para a restauração”. Para isso, admite, são necessárias “outras condições e outras estruturas porque a legislação é cada vez mais exigente. Estamos à espera do novo QCA para podermos crescer ao nível de concentrados”, reforça.
Ainda sobre o maracujá, este produtor lembra que “tivemos uma quebra enorme e deixamos de produzir como anteriormente porque surgiu um insecto que se chama tripes. Víamos a pouca produção, mas não percebíamos a razão e a ilha até deixou de poder satisfazer os clientes locais”. Vítor Sousa explica, ainda a este propósito, que o maracujá “produz-se duas vezes por ano, de Verão e de Inverno, e tivemos 7 ou 8 anos em que não se conseguia produzir de Inverno”.
Também no caso do araçá, onde estão plantadas “à volta de 1800 arvores”, este produtor admite não conseguir explorar este fruto “a 100%, porque preciso de condições físicas que o permitam conservar ao longo do ano”.
Vítor Sousa realça que estas até são “frutas que se vendem muito bem, mas que têm os seus problemas. Um deles é a mosca mediterrânica e é por isso que opto por fazer uma poda tardia para evitar o calor e a mosca. Quando vem o frio ela desaparece”.
Apesar de admitir alguma preocupação com questões relacionadas com o aumento dos custos de produção e da falta de mão-de-obra, este produtor realça a existência de “problemas gravíssimos ao nível de insectos e de fungos. Não estamos só a importar frutas e legumes do exterior, por vezes, também importamos insectos e fungos”, avisa.
Este agricultor entende, olhando para o cenário geral, que é necessário implementar uma estratégia a longo prazo para recuperar a produção frutícola em São Miguel.
“Não me refiro a Governos porque acho que isto deve passar por todas as forças políticas no sentido de se planear uma estrutura de produção, algo que poderá levar 10 ou 15 anos (…) Podíamos produzir limão, como também recuperar a laranja, a tangerina ou a mandarina só que para isso é necessário um plano a longo prazo. Nunca se teve essa iniciativa e tenho sido sócio da Terra Verde, tenho-me aproximado dos nossos representantes e por enquanto não vejo isso”, lamenta.
Vítor Sousa até dá o exemplo de Israel “onde, por exemplo, os Governo entram com 80%, os agricultores com o restante e inicia-se a produção. Ao longo dos anos o Governo vai cedendo a sua quota aos agricultores. Não quer dizer que façamos igual, mas ainda não criamos o nosso modelo”.

Na apicultura: Exploração
com mais de 300 enxames
Referindo-se à apicultura, Vítor Sousa adianta que “o nosso efectivo ronda os 300 a 380 enxames. Aqui é o nosso centro e onde fazemos as nossas rainhas”.
O empresário destaca ainda que “temos 18 apiários na ilha”, que se encontram espalhados pelas Furnas, Povoação, Faial da Terra ou Nordeste. Vítor Sousa explica que esta dispersão ocorre porque “temos autorização para ter apenas 25 colmeias em cada local”.
“Quando iniciamos estávamos a rondar as 8 ou 9 toneladas por ano, agora estamos nas 3 toneladas e ultimamente tem decaído imenso porque perdemos muita área de pasto ao nível do trevo. A ilha virou-se muito para os milhos e para o crescimento rápido das ervas onde se utiliza muito o azoto que inibe o trevo e por isso perdemos muita flora”, lamenta, apesar de salientar que os apicultores já começam a ficar mais sensibilizados para este problema.
Já relativamente à produção de mel, o empresário refere que “este ano foi muito mau por causa da chuva e do nevoeiro”.
Os produtos da Quinta do Além podem ser encontrados no Mercado da Graça, sendo que a empresa tem agora a intenção de começar a apostar na venda directa online.  
                                 
Luís Lobão *

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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