Já na vizinha freguesia dos Mosteiros, que acordou sobressaltada a 27 de Setembro pela força da água que galgou os muros da ribeira, conversamos com Francisco Ferreira, de 40 anos de idade. Este homem, que sofreu avultados prejuízos na sua habitação e viu as duas viaturas da família completamente destruídas, manifestou a sua revolta pelo excesso de tempo na resolução dos prejuízos.
“A Junta deu a ajuda que deu, o povo ajudou bastante, a Segurança Social deu uma sala e um quarto de cama para a bebé e para nós, no valor de 1000 euros, e até agora o Governo não resolveu mais nada. Acerca dos carros ainda não deu qualquer resposta e andamos há 9 meses à procura de saber alguma coisa”, lamenta.
Ainda a este propósito, Francisco Ferreira destaca que teve de “comprar duas viaturas novas porque trabalhamos na cidade de Ponta Delgada e a creche da minha filha também é em Ponta Delgada”.
“Claro que estou revoltado, mas não lutamos com aqueles que são mais fortes. Eles é que mandam e fazem aquilo que querem e bem lhes apetece. Da minha parte, tenho é que ir trabalhar e pagar as minhas dívidas”, afirma este morador que, após a destruição da sua habitação, teve de contrair uma dívida bancária de 30 mil euros “quando não tinha qualquer outra antes”.
“Devo ter perdido à volta de 50 mil euros com os estragos”, atira Francisco Ferreira, que lamenta ainda o facto de no “dia da desgraça terem prometido tudo (…) Estive calado até agora, mas não fez grande diferença”, afirma.
O morador ainda tem bem presente a madrugada do dia 27 de Setembro em que foi obrigado, “quando comecei a ver a água a chegar ao balcão, a fugir pela parte de trás. Com um bebé de 6 meses nas mãos ainda foi uma grande proeza”.
Francisco Ferreira admite que continua “com o coração nas mãos” e que, “mesmo de Verão não dormimos descansados e sempre que chove temos logo a preocupação de ver como está a ribeira”.
“Disseram que iam subir os muros da ribeira e não fizeram nada. Passaram só um bocado de tinta branca para ficasse mais bonito para as festas de Verão”, critica.
“A Câmara acha que não vale a pena levantar 50 cm o muro da ribeira”, diz Presidente da Junta de Freguesia
Precisamente sobre o muro, o Presidente da Junta de Freguesia dos Mosteiros avança ter pedido reiteradamente o aumento do mesmo em 50 cm. Carlos Cabral lamenta que a Câmara Municipal considere “que não vale a pena levantar o muro, mas não me deram nenhuma explicação sobre essa decisão”.
O autarca chama ainda a atenção para o facto de a ribeira ter ganho o triplo de largura na sua zona superior.
“Quando vier o Inverno, a água virá com mais largura, com mais força e irá apanhar aquela parte mais estreita em baixo. Por isso, estive sempre a pedir o levantamento dos tais 50 cm para que nunca mais tenhamos problemas naquela zona de habitações. Penso que a Câmara deveria estudar melhor este problema e resolver levantar os tais 50 cm”, reforça.
Carlos Cabral lembra que, mesmo depois de 27 de Setembro, já presenciou a ribeira, que até estava limpa, “a apenas 5 cm do muro”. O Presidente da Junta de Freguesia adianta ainda não ter recebido qualquer resposta, por parte da Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, sobre o início das obras na parte superior da ribeira.
“Estamos a 2 ou 3 meses do Inverno e não tenho respostas (…) Foi um grande susto e a população continua muito preocupada”, realça.
O autarca lamenta igualmente a demora na resolução do problema das viaturas destruídas que ainda se encontram no parque de estacionamento. Por tudo isto, Carlos Cabral entende que “a população merecia outras explicações, quer no caso das viaturas quer relativamente à ribeira”.
Luís Lobão *