Correio dos Açores: Como é que um jovem da Praia da Vitória se sente em Londres?
Pedro Fernandes: Eu nasci em Ponta Delgada, mas cresci na Praia da Vitória. Inicialmente houve pequenas diferenças com que tive que me adaptar, como é óbvio. Principalmente o frio (risos). Actualmente já não me faz confusão. Sempre vi mais além, e estar num meio grande e repleto de criativos e visionários é algo muito inspirador e motivante, pessoas com uma mentalidade realmente fora da caixa, que nos fazem crescer e evoluir é o que sempre rascunhei, desenhei e pintei para a minha tela futurística. Digamos que tem sido uma bênção com muitos pontos altos e baixos. Faz parte.
O que mais gosta no seu trabalho?
Sempre gostei de criar, o que mais gosto são shootings onde a liberdade artística do modelo e o fotógrafo estão em pé de igualdade. Captar a essência, a emoção e a identidade sem máscaras e tabus. Arte. No entanto também tenho prazer em trabalhos onde tenho que encarnar um personagem.
O que mais o encanta no Reino Unido?
Liberdade em todos os aspectos.
Qual a fórmula para conciliar a vida de modelo e sua vida pessoal?
Não existe poção mágica, apenas luta. Existem períodos bons e maus como tudo na vida. Pode ser algo muito instável. Mas se tivesse uma fórmula seria a junção de persistência, paciência e disciplina.
Quais os trabalhos mais importantes e suas respectivas marcas?
Campanha mundial para a marca de carros Jaguar, Carolina Herrera e Pro: direct soccer que é o maior site de futebol do mundo, com as 3 principais marcas (Nike, Adidas e Puma).
O que podemos esperar da sua vida profissional daqui para frente?
Neste momento estou com um novo agente em Portugal, Rodrigo Nabarros, que tem um percurso incrível e já fez parte da equipa de elite da icónica Gisele Bündchen. Actualmente divido a mesma agência (Sea Agency) com grandes talentos, actrizes e actores brasileiros e nacionais, num futuro próximo pretendo deixar a minha marca nessa área também.
Como lida com a distância dos Açores?
Posso dizer que agora lido extremamente bem. Zona de conforto é onde os sonhos morrem. E sou um sortudo pela mãe que tenho e que me apoia incansavelmente. Obviamente que depois de muito tempo fora sabe bem regressar a casa para limpar a alma, renovar energias e estar perto da família. É sempre bom sair da agitação e estar na ilha e desfrutar de toda a paz e tranquilidade existente. Faço esses pequenos breaks desde sempre e são mágicos.
O que aprendeu de mais valioso nestes anos como top model?
Que nada é impossível quando a força de vontade é gigante.
Como é estar ligado à promoção do Jaguar?
Gratidão como é óbvio. E o mais engraçado é a ironia do destino que apareceu, porque lavei carros durante um ano, em modo de sobrevivência, para uns anos mais tarde ser o rosto de uma marca de carros de renome mundial.
Até agora qual foi o ponto mais alto na sua carreira?
Campanha mundial da Jaguar.
Como foi passar da rua para o mundo da moda?
Como já referi em outras entrevistas foi um processo doloroso, mas em nenhuma situação olhei para baixo ou pensei em desistir. Os meus olhos sempre estiveram na lua. Repetia tudo, pois tudo isso me fortaleceu em todos os campos.
Conta-nos como foi trabalhar em lavagens de carros?
Algo normal. Todo o trabalho tem o seu valor. O que importa é o que fazes com o pouco que tens. Se existe um objectivo maior e tens que passar por pequenos caminhos onde tens que inserir a palavra sacrifício no teu quotidiano para alcançar algo que desenhaste na tua mente, vale a pena. Ninguém constrói uma casa sem sangue, lágrimas e suor e sem uma base sólida. Quando a ambição é muita e sabes o teu valor e és fiel aos teus valores e ideais e não vendes a tua alma ao diabo há que estar preparado para os obstáculos que vão aparecer pelo caminho.
Tem sido uma viagem e ela não acaba aqui e eu ainda não construí a casa, fiz a base e fortaleci os alicerces.
O que é um dia perfeito para ti?
Música, praia, cinema, boas vibrações e família.
Quais são as principais lições que aprendeste estando sob os holofotes?
Do nada se sobe e do muito se cai. Pés assentes na terra e continuar a semear para colher os frutos. Nada dura para sempre e o meu propósito é deixar algo que fique para sempre com as minhas artes.
A partir dessas lições, que conselhos dá aos jovens que querem iniciar-se no mundo da moda?
Que não desistam. No primeiro ano fui rejeitado em 9 agências em Londres, e não baixei os braços, e no ano seguinte assinei por três no mesmo país. Persistência é a chave. Toda gente tem falhas e existe sempre espaço para melhorar os pontos fracos.
Quais são seus projectos no momento?
Neste momento estou nos Açores, o meu pai faleceu em Junho e tenho estado mais perto da minha mãe, que é a minha maior fonte de inspiração e motivo da minha luta. Estou a trabalhar no meu primeiro álbum, a música sempre foi a minha maior paixão. E continuo a fazer castings por self tapes ao mesmo tempo.
Já tens planos para os próximos anos?
Sim, muitos. Queria passar uma temporada em Tóquio e Brasil. Mas o meu maior objectivo para o próximo ano é mudar-me para os Estados Unidos e dar o último e maior passo na minha carreira. Quero explorar a representação, aprender e evoluir. Sempre sonhei com Hollywood. E o que existe na mente pode tornar-se realidade. Quero inspirar pessoas com a minha música e crescer mais na minha carreira como modelo internacional. Lançar um perfume e um livro.
De certa forma tudo isso será uma forma de homenagem ao meu pai e à minha mãe, visto que luto em busca de uma assinatura intemporal.
António Pedro Costa *