Já perdemos a conta ao número de vezes em que, de uma forma ou de outra, trouxemos à liça o critério que está subjacente à atribuição, por parte da Direcção Regional do Turismo, do apoio da palavra “Açores” aos clubes que representam a Região nas competições de âmbito nacional, nas diversas modalidades.
Em Novembro do ano passado, após uma audiência do Presidente do Governo Regional dos Açores a um delegação do Marítimo Sport Clube, ficou o compromisso de Bolieiro em analisar a alteração dos critérios para a atribuição do referido apoio, por forma a eliminar tamanha injustiça. Passados 9 meses, parece que agora é que vai ser…
A chegada ao governo da Dr.ª Berta Cabral fará, certamente, toda a diferença, aliás, à semelhança do que tem vindo a acontecer noutras áreas que estão sob a sua alçada. Uma governante de créditos firmados, respeitada por todos, mesmo por aqueles que possam dela discordar em determinada situação, e cuja competência (saber o que, como, e quando fazer) é algo que poucos ousarão pôr em causa.
A propósito do apoio da palavra “Açores”, que está a marcar a agenda mediática, achamos oportuno lembrar o que então publicamos neste mesmo matutino, em Novembro passado, sob o título “Filhos e enteados”:
“Há muitos anos que grassa a injustiça no que diz respeito ao apoio concedido pela Direcção Regional do Turismo aos clubes que participam nas competições nacionais, para ostentarem a palavra «Açores», qual veículo de propaganda turística da Região no exterior.
Na altura, fizeram o «fato à medida» para apoiar, em cada modalidade, determinado clube (leia-se, albergar certos interesses) e, até agora, não houve «alfaiate» - coisa rara, convenhamos - que alterasse a legislação, para que não sejam sempre os mesmos a encher os bolsos, prejudicando os clubes que, por direito próprio (mérito desportivo) e sem os tais (significativos) apoios da Direcção Regional do Turismo, conseguem ombrear com os clubes apadrinhados pelo sistema.
O governo regional (este e os anteriores) tem dado cobertura (apenas e só) a algumas equipas, quando poderia distribuir o “bolo” da promoção turística por outras equipas, que estão em pé de igualdade, e não apenas a um só clube (protegido). O dinheiro, que sai dos cofres do erário público, rigorosamente o mesmo, deveria ser distribuído por mais do que um clube.
Ao longo dos anos, escrevemos, vezes sem conta, sobre este tema, alertando para esta tamanha injustiça que recai sobre dezenas de dirigentes desta Região que, sem ganhar um único tostão (antes, pelo contrário), se vêem proibidos de usufruir algo para os seus clubes e, por conseguinte, para a evolução dos atletas e das próprias modalidades, ao contrário do que acontece com uns quantos. Porquê sempre os mesmos, que resulta da aplicação de determinado (errado) critério? Por uma razão muito simples: se um clube, por exemplo, recebe 40 mil euros pela utilização da palavra «Açores» e outro clube, na mesma divisão do campeonato nacional (alcançado apenas, e só, através do mérito desportivo!) nada recebe, como pode este último «passar a perna» ao que sistematicamente recebe na totalidade a verba da Direcção Regional do Turismo? Onde está a igualdade de tratamento?
Durante todos estes anos impediu-se que outros usufruíssem dos mesmos apoios. Com a distribuição das verbas, a Região ganharia o dobro ou o triplo (em cada modalidade) de «figurantes» (elementos das caravanas desportivas) a publicitar os “Açores” nos aeroportos, hotéis, restaurantes e pavilhões por este país fora, sem ser preciso gastar um único euro a mais. Alguém, de boa fé, acha que seria um mau “negócio”? Duas ou três dezenas de pessoas a publicitar um destino turístico não é melhor do que apenas uma dúzia, gastando (é bom não esquecer) o mesmo dinheiro?
Qualquer pessoa percebe quão injusto é o actual critério de atribuição do apoio da palavra «Açores» aos clubes, sobretudo os que estão envolvidos em competições nacionais nas modalidades de pavilhão. Só não percebe (ou finge não perceber) quem protege(u) sempre os (seus)mesmos.
O actual governo regional está a analisar a alteração dos critérios para a atribuição do apoio da palavra «Açores».
O presidente Bolieiro recebeu em Santana um dos clubes prejudicados (há muitos anos) pela legislação ainda em vigor, e terá entendido que, de facto, o que se está a passar não só não faz qualquer sentido como é de uma tremenda injustiça.
Finalmente, parece que alguém percebeu quão aberrante é a actual legislação, altamente discriminatória, em que uns são filhos e outros… nem enteados são.
Espera-se que o compromisso do inquilino de Santana não seja apenas um «empurrar com a barriga para a frente», como quem espera que a tempestade passe, isto é, que o assunto volte a cair no esquecimento e nada se faça. Bolieiro tem aqui uma boa oportunidade para mostrar que, como repetidamente afirma, «com humildade democrática e visão estratégica» e com «a alteração de paradigma» é capaz de fazer (diferente) justiça, dando igual tratamento (apoio) a quem está no mesmo patamar da escada. Tratar igual aquilo que é igual.
A propósito ainda de apoios, uma pergunta final: qual o prémio monetário, consagrado na legislação regional, para quem sobe do «Nacional» da III Divisão ao Campeonato Nacional da II Divisão, numa modalidade tão importante e prestigiada no nosso país como é o hóquei em patins (o Campeonato Nacional da I Divisão é considerado como o melhor do Mundo, Portugal, além de várias vezes campeão mundial, tem o maior número de títulos europeus a nível de selecção, e, praticamente todos os anos, as equipas portuguesas vencem provas a nível da Europa)? Não chega aos 97 euros!...
Se o ridículo matasse…”.
Por: Óscar Rocha
Coordenador do “Correio Económico”