IPMA quer instalar rede de detectores de trovoada no arquipélago dos Açores no próximo ano

Tendo em conta os alertas emitidos pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e do Serviço Regional de Protecção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA) para o passado fim-de-semana, fazendo prever a ocorrência de chuva “por vezes forte, podendo ser acompanhada de trovoada”, as ilhas do Grupo Central foram surpreendidas com os estragos provocados pelas inundações e pela trovoada que se fez sentir nas ilhas.
Na ilha Terceira, por exemplo, e conforme noticiado pela RTP/Açores, para além dos prejuízos causados pelas inundações das vias, foram registados 11 feridos, quatro deles em estado grave, devido a um raio que atingiu uma moradia localizada na Vila Nova, levando a que cinco destes feridos fossem, no passado Domingo, encaminhados para o Hospital de Santo Espírito da ilha Terceira e os outros seis para o Centro de saúde da Praia da Vitória.
Na ilha do Pico, conforme noticiado também pela estação televisiva regional, mais de 30 animais de gado morreram electrocutados devido ao mau tempo que se fez sentir, tendo em conta que os raios que caíram atingiram pelo menos sete explorações agrícolas.
De acordo com o Delegado Regional do IPMA, embora não exista uma estação meteorológica na zona da Praia da Vitória que torne possível registar a quantidade exacta de precipitação que ocorreu durante os últimos dias, os especialistas têm trabalhado os dados captados pelo Radar Meteorológico de Santa Bárbara, permitindo assim chegar a uma estimativa.
“No dia 4 de Agosto, dia em que foram provocadas inundações ao início da noite, tivemos dois episódios, na verdade: um entre as 15h00 e as 17h00, em que caíram 35mm/h, que corresponde a chuva forte mas nada de extraordinário. No entanto, entre as 19h00 e as 22h00, em menos de três horas, estima-se que a precipitação na Praia da Vitória tenha sido de 135mm/h, e aí já estamos a falar de precipitação extremamente forte, com valores muito elevados de precipitação e foi isso que, de certa forma, causou os prejuízos na Praia da Vitória, no passado dia 4 de Agosto”, explica Carlos Ramalho.
Outro episódio ainda, relata o Delegado Regional do IPMA, ocorreu também na ilha Terceira, entre 6 e 7 de Agosto, quando ali se fez sentir “muita trovoada e chuva forte”, tendo sido registada, na Base das Lajes, um total de 104 mm/h num total de seis horas, valores estes que considera “bastante elevados em três dias, na ilha Terceira, especialmente na parte Nordeste da ilha”.
Embora possam ser considerados fenómenos anormais para a altura do ano pela população de uma forma geral, Carlos Ramalho alerta que existem registos “de precipitação forte no mês de Agosto há vários anos”, fazendo com que esta “não seja uma situação inédita” tendo em conta “o ar quente e húmido” que se torna propício a contribuir para uma “situação meteorológica de alta instabilidade, como o caso de uma depressão onde as próprias montanhas das ilhas faz com que se formem nuvens de grande desenvolvimento vertical”.
“Há vários ingredientes no mês de Agosto que favorecem este tipo de situação de chuva forte e trovoada. Em situações de outros anos, em Agosto, temos situações com 80mm/h ou 90mm/h em poucas horas. Esta, de facto, foi superior, e foi coincidência de haver dois episódios seguidos a apanhar a mesma zona da Terceira”, adianta ainda Carlos Ramalho.

Rede de detectores de trovoada 
em fase de concurso

Para conseguir estudar melhor este fenómeno relacionado com a ocorrência de trovoadas na Região, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera adianta que, no próximo ano, pretende instalar uma rede de detectores de trovoada no arquipélago, sendo este equipamento que irá permitir aos profissionais da área da meteorologia “detectar com exactidão os locais onde ocorrem as descargas eléctricas”. Adianta ainda que esta rede funcionará em triangulação, de forma a detectar com exactidão o local da queda dos raios em qualquer uma das nove ilhas, porém, este é um projecto que está ainda em fase de concurso.
Actualmente, conta, este registo é feito “através dos Observadores Meteorológicos que estão nos aeroportos que têm um código especial sempre que é observada trovoada, e temos um detector de trovoadas a partir de um protocolo que existe com o Met Office, que está em Angra, mas é apenas um detector”, explica Carlos Ramalho.
No que diz respeito às trovoadas, o Delegado Regional do IPMA refere que o mecanismo que existe nos Açores é o mesmo que existe noutras partes do mundo, e que pouco há a fazer para evitar que estes caiam em terra: “A trovoada e os relâmpagos são fenómenos muito localizados, e cair-nos um raio ou não em cima pode ser uma questão de sorte”, refere.
Neste sentido, Carlos Ramalho apela para que se utilize o “bom senso” durante episódios de trovoada, nomeadamente para as pessoas procurarem zonas abrigadas, nomeadamente dentro de casa, ou para procurarem abrigo durante os momentos de trovoada: “Se não puderem estar dentro de casa, que estejam dentro de um carro, por exemplo, com os vidros fechados”.
Quanto à questão dos pára-raios, Carlos Ramalho adianta que esta não seria uma opção viável para todas as casas, e alerta para que, em situações de trovoada, as pessoas não estejam a mexer em equipamentos eléctricos ou para que não utilizem telefone com fios durante a trovoada, mantendo-se também afastados de chaminés e manterem as janelas fechadas. No ar livre, é importante garantir o afastamento de árvores ou de praias, e “não ficar nunca junto ao mar”.

Temperaturas mais elevadas 
até ao final de Setembro

No que diz respeito ao resto do Verão, apesar de, neste momento, não ser possível ainda determinar a quantidade de precipitação que deverá ocorrer no arquipélago dos Açores entre este mês e o mês de Setembro, estima-se “que tenhamos valores mais ou menos dentro daquilo que é normal” para esta época do ano, em termos de temperatura, adianta o delegado regional deste instituto, prevendo-se que esta esteja “um pouco acima do normal durante o mês de Agosto e de Setembro”, o que torna possível a existência de um Verão mais prolongado.
Em relação ao facto de este ser um Verão onde se faz sentir a elevada percentagem de humidade no ar, o Delegado Regional dos Açores do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, adianta que esta sensação de “ar abafado” é o típico no mês de Agosto, aspecto este que a população, por vezes, “esquece”.
Já no caso do mês de Junho e Julho, este último considerado o melhor mês da época de Verão, Carlos Ramalho relembra que estes não foram muito favoráveis devido à posição do anticiclone dos Açores, que “trouxe sempre uma corrente de Nordeste, ou seja, uma massa de ar transportada de latitudes muito elevadas até ao arquipélago”, sendo essa uma massa de ar mais fria que formava muitas nuvens, impedindo assim o bom tempo esperado para esses dois meses. 
Quanto ao corrente mês, salienta que é, por norma, “quente e húmido”, e que é normal fazer-se acompanhar já de alguma chuva, uma vez que “se o ar está mais quente e húmido, é por si só um factor que serve de combustível para que ocorra precipitação”.
Joana Medeiros

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Autor: CA

Categorias: Regional

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