Domingos Cabral, Presidente da Junta de Freguesia do Faial da Terra

“A habitação degradada é um problema gravíssimo no Faial da Terra”

 Que retrato nos pode dar do Faial da Terra nesta época do ano?
Principalmente nesta altura do ano, a freguesia do Faial da Terra, está cheia de vida e consegue-se perceber a afluência cada vez maior de pessoas que nos procuram, quer pelos trilhos quer pela zona balnear ou até para visitarem amigos e familiares. É também uma época em que a chegada dos emigrantes enche a freguesia principalmente no convívio nocturno, porque somos uma freguesia que tem uma vida social entre os habitantes, os emigrantes e as pessoas que vem passar férias ou nos visitar, muito grande. Somos muito sociáveis e essa é uma característica que nos é reconhecida.

A população duplica?
A população aumenta exponencialmente e, felizmente, há algo que se tem notado nos últimos anos; já não são apenas os emigrantes de 1ª geração que cá vem e cada vez mais os de 2ª e 3ª geração começam a regressar com mais frequência. Excluindo os anos da pandemia, temos notado que os nossos emigrantes têm vindo em massa, mas já não vêm sozinhos e até em certas alturas do ano, até já só vem apenas os da 2ª ou 3ª geração. Isso acaba por ser muito bom porque as pessoas também vêm conhecer as suas raízes e algumas acabam por investir ou requalificar as casas dos familiares evitando que elas fiquem devolutas ou em piores condições do que já estão. A habitação degradada é um problema gravíssimo que temos.

A habitação é mesmo uma das suas maiores preocupações?
Sem habitação não conseguimos fixar as pessoas, principalmente os casais mais jovens. Temos um parque habitacional muito antigo, a maior parte dele devoluto e há algumas ruas em que, por exemplo, em 20 casas, apenas 2 ou 3 são habitadas. Infelizmente, a lei portuguesa não permite a aquisição de casas devolutas para recuperação e para fins habitacionais. Este seria um instrumento que podia ser desenvolvido principalmente para meios mais pequenos de forma a que fosse possível tomarmos posse administrativa de um imóvel que esteja devoluto, recuperá-lo e, no caso de aparecer alguém que futuramente se apresentasse como herdeiro do imóvel e quisesse reavê-lo, teria porventura de pagar o investimento feito e a casa passaria para os antigos proprietários. Poderia igualmente ser uma forma de obrigar quem tem casas devolutas a recuperá-las. A freguesia é praticamente toda classificada como zona de risco e não temos forma de construirmos em zonas novas. A Câmara está a proceder à revisão do PDM com o intuito de libertar algumas zonas para se poder aumentar o parque habitacional porque, não podendo construir, torna-se muito difícil conseguir manter as pessoas cá.

Existe algum outro assunto ou matéria que também mereça preocupação?
Aliada à falta de habitação há também o desemprego que é o que motiva directamente a saída das pessoas da freguesia. Vivemos essencialmente da agropecuária e de alguns serviços, somos uma freguesia com um potencial turístico muito grande, mas ainda nos falta dar um salto para que o investimento nesta área seja significativo de forma a poder criar postos de trabalho efectivos.

E o que poderia ser feito nesse sentido?
Teríamos de arranjar ou convencer investidores a recuperar edifícios de um volume significativo na freguesia para transformá-los, por exemplo, em hostels ou em hotéis de charme. Temos uma procura cada vez maior e, chegados principalmente a esta altura do ano, não temos capacidade para alojar todas as pessoas. Não temos ainda ninguém interessado em investir nesse tipo de alojamento e com isso criavam-se postos de trabalho e fixavam-se as pessoas.

O Turismo pode ser uma importante alavanca para o desenvolvimento da freguesia?
O futuro da nossa freguesia pode passar muito pelo turismo. Temos uma zona balnear requalificada e com projectos de melhoramento; temos a natureza com trilhos dos mais bonitos dos Açores e podemos, mesmo através da agro-pecuária, criar circuitos turísticos de visitas complementares a explorações para que as pessoas possam passar o máximo de tempo possível na nossa freguesia.

Mas não há, por outro lado, o perigo desse turismo se tornar muito massificado em zonas como o Faial da Terra?
Esse é um risco que teremos de correr e obviamente que isso também acarreta riscos e coisas menos boas. O trilho do Sanguinho tem centenas, para não dizer milhares de pessoas, que o percorrem diariamente nesta época e a zona superior da freguesia já está constantemente congestionada com trânsito e com turistas que estacionam os carros quase até ao meio da freguesia. Os trilhos do Sanguinho e do Salto do Prego já estão a ficar bastante desgastados devido à grande afluência, mas temos de saber melhorá-los e criar mais condições para que se tornem cada vez mais atractivos. É uma responsabilidade que temos de assumir conjuntamente com a entidade responsável pelos trilhos, com a Câmara Municipal e com o próprio Governo Regional. Num outro aspecto, nomeadamente ao nível da restauração, já necessitamos de um outro espaço porque a procura é muito grande.

Iniciativas como o Festival de Blues são também outras formas de atrair mais pessoas?
Estávamos a tentar encontrar um evento que fosse diferenciador no concelho e que pudesse agregar o maior número de pessoas. Depois de várias ideias, surgiu-nos o Festival de Blues porque consideramos que era o que melhor se enquadrava numa freguesia pequena e distante. A afluência foi extraordinária e o feedback tem sido muito bom o que nos dá bastante satisfação e vontade de melhorar no próximo ano. Foi uma aposta ganha e o objectivo é torná-lo numa marca da freguesia, do concelho, da ilha e da região, sempre enquadrado na nossa dimensão de forma a que quem venha ao Festival se sinta sempre bem.

Quais são os principais projectos a desenvolver no futuro?
Um deles até já se encontra em fase de projecto na Câmara Municipal - o Museu da Baleação. Somos o único ponto a Sul de São Miguel que se dedicava à caça à baleia e até temos o antigo porto da freguesia que foi construído para esse fim e que neste momento está em mau estado. A Câmara também já se disponibilizou para elaborar um projecto para a recuperação e proetecção do Porto. Já o Museu da Baleação, será um conjunto porque vamos comprar o moinho aqui da freguesia, fazer uma extensão do espaço que lá existe e criar um núcleo museológico em que juntaremos a vertente do moinho à história da baleação no Faial da Terra. Estes são dois investimentos que, se estiverem concluídos a médio prazo, trarão uma oferta muito maior a quem nos visita e serão um marco muito importante na nossa freguesia.
                                         

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