21 de agosto de 2022

Opinião - Dos Ginetes

Os Padrinhos

Há um velho ditado português que nos recorda, e com razão,” quem não tem padrinhos não se baptiza”. Sempre foi assim um pouco por toda a parte e evidentemente neste país das maravilhas não poderíamos ser excepção. Terra de gente inteligente, sábia e competente em todas as áreas praticamente é necessário “ser um pouco mais para conseguir precisamente esse pouco mais”.
Já no meu tempo de jovem à procura do primeiro emprego tive que encontrar um padrinho, que na realidade não o era, mas o desejo de conseguir uma pequena independência financeira antes de “cumprir o serviço militar obrigatório” levou-me a solicitar a um velho amigo que conhecia praticamente todas as Instituições governativas em Ponta Delgada que “desse uma palavrinha” para conseguir concretizar o meu legítimo desejo que não era mais do que trabalhar. Devo dizer, mesmo se consegui, que não foi tarefa fácil porque “eu não possuía experiência” na área disponível. Foi esta a primeira razão que me deram para não ser admitido. O mesmo sucedeu com outros da minha idade e situação semelhante à minha, demasiadas vezes brindados com tão ingrata resposta. Valeu-me o dinamismo do “padrinho” que conseguiu fazer mudar de ideia um senhor que não era mais que um funcionário chefe de gabinete do qual se sentia dono e senhor absoluto. Devo dizer que, graças ao meu padrinho adoptivo, foi obrigado a admitir-me por ordem de um outro “superior hierárquico” e que passado algum tempo até ficámos muito bons amigos. Após o cumprimento do serviço militar obrigatório fui readmitido, cessando as minhas funções definitivamente quando decidi emigrar tendo com algum orgulho recebido do mesmo senhor que no início “não me ligou” um agradável e surpreendente convite de “ser sempre bem-vindo à casa” se decidisse voltar definitivamente aos Açores.
Já regressei à minha terra há perito de vinte e seis anos conseguindo ainda com cinquenta e um de idade, e um jovem padrinho, encontrar emprego.
Em razão da idade é evidente que hoje o mercado do trabalho não me abrange nem me seduz. Vou passando o tempo com todas as “mazelas” muito próprias da idade, ocupando as horas a fazer praticamente o que me apetece, mas penso muitas vezes nos jovens que hoje olham para o futuro com uma esperança que direi assustadora.
Não tenho dúvidas de que os padrinhos continuam sempre, basta um pequeno olhar para o mundo da política e das grandes empresas cujos funcionários se vão familiarmente substituindo de “geração em geração”.
Mesmo se os concursos públicos “fazem parte da lei” ao que me tem sido dado conhecer nem sempre são totalmente transparentes e tal não é uma situação recente. Um outro velho ditado português: “São Mateus primeiro os teus” esconde igualmente tremendas injustiças.
Para projectar uma imagem, em minha opinião, apenas para melhorar estatísticas inventaram-se programas que não resolvem absolutamente nada para a criação de empregos. Seis meses, ou mesmo um ano de trabalho, e vão para casa. Não importa se és bom ou não no desempenho das funções que te foram confiadas, excepção feita no caso de possuíres um bom padrinho que consegue dar a volta e assim estás salvo.
Quanto à maioria dos infelizes que provavelmente não caíram em graça, terão uma vida sem grande esperança porque ao chegarem ao tempo que lhes permitirá um confortável e merecido descanso como consequência  da idade terão reformas mínimas que podemos chamar vergonhosas.
É por tal que grande parte dos idosos deste tempo não se pode permitir viver tranquilamente, até porque muitos são do tempo de um mercado do trabalho onde o sistema de Segurança Social não estava ao alcance de todos. Melhor dizendo era muito desorganizado.
É verdade que ainda existe gente que se habituou a “fazer nada” preferindo viver com pouco, por vezes rejeitando trabalhar porque o governo “não deixa passar fome”. É a sociedade que ao longo dos anos se tem construído e não vejo absolutamente vontade política para realizar mudanças.
Infelizmente como está parece surpreendentemente servir um pouco a todos.
 

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Categorias: Opinião

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