Correio dos Açores - Quando surgiu a paixão pela fotografia?
Eduardo Costa (Fotojornalista) - Entrei para o jornal Açoriano Oriental em Maio de 1987 e fui trabalhar para a fotografia. Tinha uma câmara fotográfica em casa, uma Minolta X-700, e comecei a fotografar. Nem imaginava o que era o mundo da fotografia e rapidamente apaixonei-me pela área.
Certo dia de 1988, o José Silva perguntou-me se queria tirar umas fotografias para o Jornal de Desporto. Então, fui para o Estádio de São Miguel fazer o Santa Clara - Nacional da Madeira. Recordo-me que a equipa do Santa Clara perdeu 2-0. A fotografia que saiu na primeira página do Jornal de Desporto, a capa toda é da minha autoria e retrata um atleta do Nacional, chamado Roldão, a marcar o segundo golo da partida. Na altura, tinha 18 anos e aquilo para mim foi o boom.
Noutra ocasião, o Sr. Gustavo Moura chamou-me e pediu-me para ir à Avenida Marginal de Ponta Delgada fotografar um desfile do Divino Espírito Santo. Foi a primeira fotografia que fiz para o Açoriano Oriental. A partir daí, nunca mais parou, tornou-se um vício.
Pode fazer uma breve descrição do seu percurso enquanto fotojornalista?
Comecei no jornal Açoriano Oriental e, a seguir à tragédia na Ribeira Quente, fiquei como colaborador da agência Lusa para os Açores, onde até hoje trabalho. Sou o fotógrafo da agência Lusa no arquipélago. Entretanto, colaborei com muitos jornais, nomeadamente, o Expresso, com o qual ainda tenho uma colaboração, o Independente, o Tal e Qual, o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o jornal A Bola. Estamos a falar nos anos 90, que foram os anos de ouro do jornalismo em Portugal.
Além do jornalismo, fazia cobertura de casamentos e outros eventos?
A minha área é o jornalismo. Penso que sou o único fotojornalista, neste país, que fez primeiras páginas em todos os jornais do país, inclusive em alguns jornais espanhóis. Fiz primeira página no El País e em outro jornal espanhol que agora não me recordo o nome.
Esteve presente na tragédia da Ribeira Quente…
Estava em casa e o jornalista João Paz telefonou-me - na altura não havia telemóveis - e disse-me o que estava a acontecer na Ribeira Quente. Pusemo-nos a caminho da freguesia e parámos o jipe muito antes de chegar ao túnel. Fizemos uma grande caminhada até ao túnel e quando lá chegámos parecia que estávamos num cenário de filme. Devia ter mais de 20 pessoas no túnel, imensa gente da RTP/Açores e outras televisões, entre as quais o jornalista Estêvão Gago da Câmara, por quem nutro grande estima e admiração.
Após algum tempo lá, só ouvíamos boatos acerca do que estava a acontecer, pelo que olhei para o João Paz, para o Estêvão e decidimos arrancar em direcção ao centro da Ribeira Quente.
Éramos cinco pessoas, apanhámos boleia em máquinas enormes que estavam lá a trabalhar e demorámos cerca de três a quatro horas a chegar à freguesia, desde o túnel. O caos era de tal ordem, a lama e as árvores eram tantas que não sabíamos onde íamos cair ou o que ia acontecer a seguir. Chegámos à Ribeira Quente todos sujos, molhados, incluindo o equipamento, e à entrada da freguesia, onde faz a curva à esquerda a descer, deparámo-nos com uma senhora, a ser resgatada por dois bombeiros, que a retiravam de uma janela. Na ânsia de captar o momento, comecei a correr e caí, ficando atolado em lama até ao pescoço e segurando as duas máquinas fotográficas no ar. A minha sorte foi que fiquei mesmo de frente para a senhora e para a janela, tendo conseguido uma fotografia que foi a primeira página do jornal Público, da Capital, que depois saiu, também, no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias. A fotografia revela bem a brutalidade que ocorreu ali e o que aquela gente passou.
Outra aventura foi chegar ao sítio onde faleceram imensas pessoas. O caminho até lá chegar estava repleto de lama, terra, árvores, carros, pedras, parecia mesmo que estávamos num filme. Se fosse hoje, pensava muito bem se me deslocaria ao local.
Entretanto, estávamos lá a trabalhar, a fotografar bombeiros a resgatar crianças, mulheres e homens, quando vemos um helicóptero da Força Aérea, do qual saiu a jornalista Maria João Ruela, com uns saltos de cerca de 10 centímetros e uma mini-saia muito acima do joelho, enquanto as outras pessoas estavam de botas de cano. Na altura, ela era pivô da SIC, salvo erro. Claro que foi motivo de chacota até dizer chega e, no dia seguinte, ela estava toda tapada.
Recordo-me que, a seguir à Ribeira Quente, tivemos outra enxurrada terrível que culminou nas cheias da Povoação. O ano em questão foi dos piores anos de catástrofes que os Açores tiveram.
Que outro acontecimento marcou a sua carreira?
A queda do avião da SATA em São Jorge foi, igualmente, terrível. Correu o boato que tinha caído um avião em São Jorge e ninguém queria acreditar. No aeroporto de Ponta Delgada estava uma grande confusão, um semblante terrível. Arranquei até São Jorge e, no mesmo avião que eu seguia, também iam o Carlos César, o José Contente e o Manuel Cansado, Presidente da SATA na altura. Da comunicação social, ia eu, o Pedro Caetano, o Manuel António, o Nuno Mendes, o Zé António Rodrigues, o Herberto da RTP/Açores e o Alexandre Jesus, salvo erro.
Já chegámos tarde a São Jorge. Eram seis da manhã quando fomos fazer um reconhecimento do local, onde se tinha despenhado o avião. Estava lá a Protecção Civil, os bombeiros e começámos a trabalhar. Contudo, ninguém fazia a menor ideia de que já estava lá em baixo um colega nosso a fotografar cadáveres. À noite, enquanto estava a jantar, começaram a chegar jornalistas de Portugal continental e um fotógrafo do Jornal Expresso aproximou-se e perguntou-me se era eu que andava a fotografar cadáveres. Foi apenas naquele momento que tive conhecimento do que o nosso colega tinha feito. Quando estamos perante um cenário daqueles, a confusão é de tal ordem que não nos preocupamos com o que A, B, ou C está a fazer. A mim, interessava-me fazer o meu melhor. A pessoa que fotografou os cadáveres, por ordem superior teve que abandonar a ilha e regressar a Ponta Delgada naquele mesmo dia.
Teve sorte de conseguir voo, pois estivemos 15 dias em São Jorge sem avião devido ao meu tempo. O rumor de que tinha sido eu a fotografar os cadáveres ainda circulou durante algum tempo, pois ninguém viu a pessoa que o fez. Naquela altura, o fotojornalista dos Açores era eu, pelo que qualquer coisa que se passava de anormal nesta terra, era o Eduardo Costa, visto que em Lisboa só se conhecia o meu nome.
Então, qualquer coisa que aqui se passava era o Eduardo Costa, quer para o bem, quer para o mal.
A meu ver, o papel de um fotógrafo é trazer informação, numa imagem congelada que, ao mesmo tempo, não seja a fotografia de um cadáver. Tem que haver bom-senso, sangue frio e um certo cuidado. Como diz um colega meu, nós vemos a preto e branco, e é verdade. Em situações como esta, começamos a perceber onde reside a fronteira até onde se pode ir e o que se pode ou não fazer. Infelizmente, nos dias que correm, é o vale tudo. Vejo coisas a acontecer que, às vezes, até me dá vontade de rir.
Existe algum episódio caricato que queira partilhar?
Houve uma altura em que o jornal onde trabalhava acompanhava muitos julgamentos. Certo dia, cheguei cinco a dez minutos atrasado ao Tribunal Judicial de Ponta Delgada e a sessão já tinha começado. Creio que era um julgamento de droga com 20 e tal arguidos. A sala estava cheia de gente, inclusive a SIC, a TVI e a RTP/Açores. Eu cheguei, tirei duas fotografias e o juiz, lá do seu lugar, apontou para mim, questionando-me se tinha pedido permissão para lá estar. Os olhos todos, na sala, caíram sobre mim. Gerou-se um burburinho colectivo. O juiz pediu-me para, no final da sessão, esperar lá fora, pois queria falar comigo. Quando terminou, fui ao gabinete do meritíssimo, que me deu um raspanete e obrigou-me a eliminar as duas fotografias que havia tirado. Até hoje, não sei se fez aquilo para brincar comigo, uma vez que já o conhecia de outras sessões no tribunal, mas foi uma situação em que fiquei “sem pinga de sangue”.
Lembro-me, particularmente, de outro episódio com o jornalista João Paz. Na altura, era proibido matar-se gado sem autorização sanitária e tivemos conhecimento que, na zona da Fajã de Baixo, estava um império do Divino Espírito Santo a matar as vacas. Dirigimo-nos ao local para fazer uma reportagem sobre isso e passou-me uma serra a centímetros do ombro.
Ainda hoje, quando me lembro disso, fico arrepiado, tendo em conta que me livrei apenas por um pouco, senão tinha ficado com o ombro todo cortado. Nesta profissão há de tudo um pouco, desde situações bonitas a terríveis, algumas engraçadas, outras de perigo…
Recordo-me de outra história, mais recente. Fiz uma fotografia, aquando das comemorações do 25 de Abril cá, de um pai com uma menina a segurar um cravo. No passado dia 25 de Abril, publiquei esta fotografia na internet e recebi a mensagem de uma pessoa a dizer que a menina da fotografia era ela. Eu ofereci-lhe a fotografia. Foi muito engraçado, nunca me tinha acontecido algo semelhante.
Como encarou a transição para a era digital?
Apanhei três fases. A transição do preto e branco para a fotografia a cores foi um choque terrível, porque levei quase 10 anos a fotografar a preto e branco. Fotografar a preto e branco é das coisas mais bonitas. Não nos preocupamos se o céu está azul. Temos três filtros, o amarelo, o verde e o vermelho, para dar tonalidades mais quentes ou não, conforme o que se pretende. Estava tão viciado naquilo que fotografava interiores e tudo sem utilizar o flash. A fotografia é um vício.
A certa altura, abandonámos o processo a preto e branco e passámos a fotografar a cor. Os primeiros filmes que fiz a cores foram quase todos para o lixo, pois estava tudo amarelo, azul. Parecia que eu não sabia fotografar.
Em 1999, sai-se do filme a cor e entra-se no digital. Foi outro susto. No digital não se toca em nada. É uma imagem fria. Tira-se da máquina e coloca-se no computador. O digital hoje é o slide de antigamente, pelo menos, é a leitura que faço. O slide era terrível, saía ou não. Ou seja, ponha-se a revelar e incorria-se no risco de sair tudo branco.
Para mim, a parte mais bonita da fotografia antes era após fotografar. A câmara escura, revelar o rolo e tudo o que este processo envolve. Era um processo muito interessante, onde havia tacto. Era um trabalho manual e muito divertido.
Quando comecei a trabalhar, tive o gosto de ter como colegas o Válter Tapia, o Ne Themudo, o João de Freitas, pessoas com quem aprendi muito de fotografia de laboratório, nomeadamente como se fazia os químicos, a revelar os filmes, a trabalhar com ampliador, a imprimir a fotografia do filme para o papel.
Hoje em dia, qualquer pessoa tem um telemóvel que tira fotografias… O que diferencia o olhar de um amador, de um profissional?
Ainda bem que actualmente toda a gente fotografa. Creio que um dos segredos da fotografia é brincar com a luz.
Um fotógrafo muito famoso, o Bresson, tem uma frase fantástica: “se não há luz, não fotografo”. E é verdade, a fotografia é luz. Mesmo não havendo luz, podemos pegar no telemóvel e fotografar. Todavia, a diferença entre um amador e um profissional reside na sua capacidade de brincar com a luz. Isto é que é difícil. Aí é que se distingue um bom de um mau fotógrafo.
Considera que a sua profissão é reconhecida?
Quando comecei na fotografia, era visto como um “pobre coitado”, um “tipo que tira uns retratos”, porque não fiz uma licenciatura, não fui para Economia, Medicina ou outro curso qualquer, que é valorizado e reconhecido. Aliás, noto que alguns amigos da primeira classe ainda hoje me olham um pouco de lado e é quase um favor para me cumprimentarem, pois não sou “Doutor”, nem uso fato e gravata.
“Há maneiras de ser para maneiras de vestir”, já dizia Benetton na campanha mais polémica que alguma vez vi na vida.
O outro dia, um senhor, que é médico, ligou-me a dizer que tinha dois apartamentos nas Furnas e queria que eu fizesse um trabalho para promovê-los na área de Alojamento Local.
Perguntou-me quanto custaria o meu trabalho. Indaguei de volta sobre o valor que ele tinha em mente, ao que me respondeu: 50 euros. Agradeci, mas disse que não estava interessado.
Ao fazer-me esta proposta, o senhor julga que a fotografia é algo que basta chegar ao local, apontar e já está. Em contrapartida, se eu for ao consultório dele vou pagar 90 ou 100 euros por uma consulta...
Dou outro exemplo: um senhor ligou-me a dizer que precisava disto, daquilo e daqueloutro, que eu era uma boa pessoa, se podia ajudá-lo. Foi aí que percebi que ele queria que eu trabalhasse de graça para ele, visto que era boa pessoa e, por isso, ia fazer-lhe o trabalho gratuitamente. É preciso ter em atenção que estamos a falar de pessoas com muito dinheiro.
Apesar de hoje em dia haver novos valores e novas pessoas a aparecer e de o profissional da fotografia já não ser tão encarado como a pessoa que só faz retratos, a profissão de fotógrafo ainda é desvalorizada.
Importa referir que, para abraçar a profissão de fotógrafo, tem que se gastar muito dinheiro, muitos milhares de euros. Uma boa câmara, sem cartões nem baterias, custa entre seis a sete mil euros e não é só ter equipamento fotográfico. Um fotógrafo tem que ter bom equipamento informático, backups, discos, entre outros materiais. São muitos milhares de euros que estão atrás de tudo. Muitas vezes, as pessoas não têm a noção disso. Não posso dirigir-me à FNAC e dizer que quero um computador da Apple, porém só tenho 50 euros quando o computador custa dois mil euros.
Considera que o fotojornalista é uma profissão mal paga?
É uma profissão extremamente mal paga, pois há sempre aquelas pessoas que fazem o trabalho em troca de um almoço, de um jantar ou de “tuta e meia”. Isto é algo que tem que acabar, porque a fotografia é uma arte, uma profissão, um trabalho e tem que ser respeitado.
Se não houver respeito pelo trabalho que desenvolvemos, então o nosso trabalho não vale nada. As pessoas têm que respeitar qualquer tipo de profissão. Eu respeito um juiz e um varredor de ruas da mesma maneira.
De onde vêm as suas melhores ideias para fotografar?
A minha inspiração surge espontaneamente. Estou sempre à espera da próxima
Quem é a sua grande referência na área da fotografia?
Há uns anos, gostava muito da fotografia de dois jornais e de uma revista mensal. O Público, quando o Vicente Jorge Silva era director, tinha uma equipa de fotógrafos fantástica e o jornal, em termos de fotografia, na altura, era espectacular. O Independente e o Expresso também tinham dois ou três fotógrafos muito bons.
Além disso, a Revista K, uma revista mensal do Miguel Esteves Cardoso e do Paulo Portas, era brutal em termos de texto e fotografia. Foi uma pena ter acabado, tal como o jornal Independente. Gostava de ver o que é que faziam, embora não quisesse ir atrás. Queria apenas ter algumas referências do que se andava a fazer para me manter actualizado.
Na altura em que comecei a trabalhar, toda a gente imitava o senhor Nóbrega, uma figura de referência e célebre na área da fotografia em São Miguel. O senhor Nóbrega nutria um grande carinho por mim, julgo que porque nunca imitei nada do que o senhor fazia, aliás nem dele, nem de ninguém. Sempre procurei fazer o que gosto, vejo e sinto.
Nunca gostei de copiar ninguém e trilhei o meu próprio caminho assim. Fazia coisas extremamente diferentes de todos. Toda a gente questionava por que razão eu não levava o cão às Sete Cidades. O senhor Nóbrega tinha uma fotografia fantástica na Vista do Rei com o seu pastor alemão e toda a gente ia, com os seus cães a este local, tentar recriar a dita fotografia, porém não ficava igual. O senhor, às vezes, passava por mim e dizia-me “é só disparar”, ou seja, ele queria dizer que a maioria dos fotógrafos da altura eram pessoas que só carregavam no botão da máquina fotográfica, que só disparavam. Eu ria-me de vontade, mas ficava com muita vergonha de lhe responder.
Na sua opinião, quais os maiores desafios para um fotógrafo nos Açores?
Uma pessoa que se esteja a iniciar na fotografia nos Açores e que almeje iniciar-se na área do jornalismo, infelizmente, não tem hipóteses cá. Não há uma aposta séria dos jornais locais na fotografia, o que é uma pena. Um jornal com má fotografia é como um jardim mal plantado. O que se verifica são jornais com fotografia péssima. A fotografia tem que ter uma leitura própria, num espaço próprio, que é o jornal. Ora, se a fotografia for muito pequena não tem leitura nenhuma. Parece que os jornais têm medo de utilizar a fotografia ou, então, encaram-na como um “tapa buraco” do jornal. Faltam duas colunas para fechar essa página, põe-se mais uma fotografia. É necessário cortar a fotografia, dá-se três pancadas. A imagem não se trata assim. Quem quer começar hoje na profissão vai para a área dos casamentos e outros eventos.
Quais os ingredientes necessários para um futuro próspero no mercado da fotografia?
Resiliência e uma boa educação visual, acima de tudo.
Que dicas daria a fotógrafos em início de carreira?
Que sejam persistentes e que nunca desistam. Eu tive sorte, pois na época em que comecei era mais fácil. Até ao final dos anos 90, arranjava-se facilmente trabalho na imprensa. A partir daí, as coisas começaram a complicar-se.
Participa em exposições ou concursos/prémios? Se sim, quantos já participou ou ganhou?
Nunca fiz exposições. Tenho dois prémios de jornalismo que resultaram de dois trabalhos, nomeadamente, ‘os garimpeiros’ do areal de Santa Bárbara, que roubavam areia; e de um trabalho, com o Manuel Moniz, sobre um repatriado que vivia numa casa de cartão localizada na lixeira. O espaço em que ele dormia tinha um colchão, umas velas, uma revista da Times e ele cobria-se com a bandeira de Portugal. Para fazer a fotografia, pedi-lhe para se deitar, acendi as velas, ele segurou a revista Times na mão e cobriu-se com a bandeira portuguesa, que era o edredão dele. Foi um trabalho fantástico que me valeu um prémio.
O que ainda gostaria de fazer ou considera que lhe falta fazer?
Na minha perspectiva, essas coisas acontecem quando têm que acontecer. Nunca fui aquela pessoa de sonhar muito, que quero fazer isto ou aquilo. Quando tenho que fazer, faço e dou o meu melhor. Trabalho com o que se depara. Sou uma pessoa ambiciosa, mas não vou atrás do protagonismo, nem vou a um determinado sítio fotografar para mostrar nas redes sociais. Isso não faz parte de mim.
Já pensou em fazer uma compilação dos seus trabalhos?
Quando fiz 25 anos de carreira, apresentei um projecto a duas fábricas de tabaco, dois bancos e à Direcção Regional da Cultura, sendo que da última nunca obtive resposta. Queria fazer uma exposição e um livro dos meus 25 anos de serviço. A resposta, por parte de um banco, foi a de que este projecto incluía fotografias pessoais de algumas pessoas que poderiam não gostar.
No meu entender, são fotografias de figuras públicas e de acontecimentos históricos, pelo que creio que os protagonistas das imagens até iam gostar, porque recordar é viver. Acabei por não conseguir qualquer apoio para desenvolver este projecto. Era algo que gostava muito de fazer, mas custa dinheiro.
Quais são as suas perspectivas de futuro? Que projectos tem em carteira?
Gostava muito de fazer a exposição dos meus anos de carreira, que agora já não são 25, mas sim 32 anos. Creio que seria muito interessante, pois tenho uma boa parte da história da viragem do século dos Açores registada em fotografia. Aliás, tenho praticamente, todos os grandes marcos históricos da virada do século.
Tenho uma fotografia brutal da manifestação do leite em Ponta Delgada. O retrato, a preto e branco, diz tudo: um fulano com uma bilha a atirar o leite para cima da estátua de Gonçalo Velho. Além disso, tenho os sismos da Horta, a cimeira da Base das Lajes, a visita dos reis de Espanha aos Açores, entre muitas outras. Só o trabalho que tenho da Ribeira Quente...
A fotografia é algo que é bom recordar a partir de um determinado tempo, ou seja, voltar a mostrar passados 10 a 15 anos, a pessoa já tem outra visão daquilo que se passou. A única coisa que não fiz, com muita pena, foi a queda do avião em Santa Maria. Era muito novo, tinha 18 anos na altura.
Carlota Pimentel