Agricultor de Rabo de Peixe lamenta que agricultura não tenha os mesmos apoios do que a lavoura face aos aumentos dos custos de produção

João Falcão, de 30 anos de idade, está ligado à agricultura há perto de uma década. A vida foi-lhe transmitida através de uma ‘herança’ deixada pela família.        
“Isto era da geração do meu avô, continuou com o meu pai, que ainda não foi para a reforma, e eu ainda cá estou”, diz com o orgulho. Apesar de ter “sido criado nesta vida desde criança”, este jovem produtor admite que a mesma não “é nada fácil”.
“Também há a questão de não termos férias e de trabalharmos feriados e domingos. Vai cansando, mas vamos levando enquanto tivermos saúde”, destaca. 
Actualmente com uma área total de produção a rondar os 4 hectares, divida por quatro terrenos (2 em Rabo de Peixe, 1 na Ribeira Seca e outro na Mediana), João Falcão aposta na diversificação da sua produção que vai desde a batata doce, repolho, alface, couves, melancia ou pimenta. Foi precisamente no dia em que se dava a colheita da pimenta, de que espera a apanha de “uns 1500 quilos hoje e amanhã”, que este agricultor nos convidou a conhecer uma das suas explorações. Durante a manhã desta Segunda-Feira, João Falcão cedeu algum do seu tempo para conversar com o Correio dos Açores e para realçar as grandes preocupações que o assolam, mas também ao sector de uma forma geral. 
“Sente-se cada vez mais a falta de mão de obra, não há pessoal e a subida dos preços tem influenciado muito as despesas. Os combustíveis e os adubos têm subido muito este ano (…) A falta de mão de obra é o maior problema que temos. O meu pai e o meu tio dão uma ajuda porque não há pessoas e a família é que vai ajudando. A gente procura, mas enquanto o Governo pagar para não trabalhar, ninguém quer trabalhar”, lamenta. 
Este jovem agricultor explica que também está ligado à vertente do plantio “para depois vender no Mercado da Graça e também no Mercado de Santana. Não estou em grandes superfícies e faço só venda ao consumidor final e a venda ao retalho”. Esta opção é justificada pelo facto de “não poder estar em todo o lado”. 
“O Hiper consome muitas quantidades e muito do nosso tempo. Precisava de um funcionário para fazer a distribuição porque se perde muito tempo nas descargas e, por vezes, é necessário estar uma manhã inteira para deixar um bocadinho num e depois um bocadinho noutro. Se houvesse apenas um local onde pudéssemos deixar tudo, era muito mais fácil.  Arranjar uma pessoa só para distribuir, nos dias de hoje, da forma como as coisas estão caras, não é fácil e cada vez há mais falta de pessoal”, afirma. 
Perante a crónica falta de mão de obra, João Falcão entende que “devia pensar-se em mandar vir pessoal de outro sítio como se faz na Bermuda em que vai pessoal daqui para lá ganhar dinheiro”.   
Numa outra vertente, este produtor considera também que “a agricultura não está muito bem organizada porque às vezes há muito excesso do mesmo produto. Os produtores vão todos para a mesma cultura e chega-se a um ponto em que faltam outros”. Nesse sentido, admite que a Terra Verde “tem ajudado”. 
“É uma forma de nos juntarmos, de falarmos um pouco de agricultura e de projectarmos o futuro.  Eles estão agora a pensar fazer uma Cooperativa, que já está criada, onde os produtores possam colocar os seus produtos e eles é que fazem as vendas. Era bom que todos os produtores aderissem, mas basta 3 ou 4 não quererem para que não dê resultado”, realça. 
João Falcão lamenta ainda que, face ao aumento sentido nos factores de produção, não exista um apoio específico para este sector. 
“Sei que este ano houve um apoio para o milho e para os lavradores o semearem. Porque não há um apoio para quem semeia batata que é uma cultura cara? Porque não há um apoio de 5 ou 10 euros por saca de batata? Infelizmente, ainda está tudo muito centrado na lavoura”, refere. 
Outra crítica deste agricultor prende-se também com alguns dos actuais critérios previstos no programa POSEI.
“Quem tem uma área coberta não pode ter os mesmos funcionários do que, por exemplo, um alqueire de área descoberta. O apoio devia ser superior, mas actualmente é igual”, aponta. 
Questionado sobre a vontade de expandir a sua área de produção, João Falcão admite que já pensou avançar por essa via “há uns anos atrás e até tinha os projectos quase todos feitos”, salienta, antes de explicar que “acabei por desistir porque ficamos com medo de arriscar. Onde vamos por os produtos?”, questiona. 
Voltando ao tema que indiscutivelmente mais o preocupa neste momento - a mão de obra -, este produtor volta a lamentar que “a malta nova” não se mostre interessada. João Falcão, dando um exemplo de um familiar, entende igualmente que a idade da reforma nesta área deveria ser revista. 
“Dessa malta nova não há ninguém e os ‘velhinhos’ já não podem. O meu pai tem 62 anos e ele já não pode estar nesta vida. Onde está a reforma dele? Tem de trabalhar até aos 66 anos. O Governo também devia olhar para este aspecto e reduzir a idade da reforma tal como acontece na pesca. Quem é que com 60 anos consegue pegar em coisas pesadas e estar todo o dia de costas baixas?”, salienta. 
A terminar, João Falcão aponta ainda para o aumento cada vez mais notado de rolas e de pombas nas suas terras. 
“Não víamos rolas nas terras e agora vemos um bando todos os dias e só conseguimos produzir algumas coisas se estiverem cobertas ou dentro das estufas”, lamenta este agricultor que destaca também o aparecimento de uma outra praga.
“Tem sido um problema produzir tomate porque veio uma praga para cá, a Tuta Absoluta, que veio do continente e, no nosso clima e com a nossa humidade, ela reproduz-se bem”, afirma.                            
                                           Luís Lobão    
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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