Uvas-de-cheiro de Leonardo Botelho da Ribeira Chã

“Este ano há menos vinho doce do que nos anos anteriores”

O nosso entrevistado, aposentado, é natural da Freguesia da Ribeira-Chã e tem uma exploração, que no ano passado teve três alqueires de terra com vinha, mas este ano só tem um alqueire de terra que deu uvas, mas em menor quantidade, relevando que “para o ano talvez ainda tenha”, mas depois disso já não garante. 
“Este ano há muito pouca uva. Os melros, os pássaros, principalmente os pardais bebem o sumo da uva e ela estraga-se. Ou seja, eles não comem a uva toda, mas estragam as uvas”, lamenta.
“As vinhas já não só muitas e os pássaros não ajudam”, acrescenta.
O nosso interlocutor não culpa as condições meteorológicas, porque apesar do tempo estar mais quente, nesta altura do ano, até tem chovido o suficiente este Verão. “A culpa é mesmo dos pássaros”, reforça com conhecimento de causa e experiência.
E porque fala quem sabe, Leonardo Botelho remata que “há muita gente que mete muitos produtos nas vinhas, mas as vinhas não necessitam de tantos produtos assim. Só se dá quando é preciso, até porque hoje em dia já consegue-se ver a previsão do estado do tempo para os próximos dias com alguma antecedência, evitando-se assim as alforras. Há pessoas, inclusivamente, que tratam das vinhas todas as semanas, mas se estiver bom tempo nem é preciso tratar delas e só estão intoxicando as videiras.”

Nuances distintas das uvas-de-cheiro

Leonardo Botelho, de 69 anos de idade, aproveita não só as uvas como também faz vinho doce.
O vinho doce é o resultado das uvas espremidas sem que levede, e tal como o nome indica é uma categoria de vinhos que como o próprio nome já diz, possui um sabor bem adocicado. Possui nuances distintas e surpreende todos que não conhecem, já que a sua fabricação não leva nenhum tipo de açúcar na receita. Um verdadeiro néctar dos deuses, para quem sabe apreciá-lo!
“Fazer vinho doce não tem segredo nenhum, só é preciso ter uvas bem maduras”, sublinha. As uvas são desinfectadas antes de serem espremidas, depois procede-se ao engarrafamento e enrolhamento das garrafas, cujo material também é desinfectado.
Este agricultor e produtor vende cada litro de vinho doce a 6 Euros. “Não é caro nem é barato, porque se fizermos as contas para pagar as despesas, não dá assim muito lucro”.
A uva tem qualidade ou não fosse “Uva-de-cheiro”, designação dada nos Açores aos vinhos elaborados a partir de uvas de casta americana Isabelle.
“É tradição muita gente comer ainda uva de cheiro, mas esse pessoal mais novo já não se interessa muito.”
Para além das uvas, Leonardo Botelho tem também bananas, mas já não é como foi no passado e é mais para consumo próprio. “Só coisas para brincar, já não faço nada como antigamente e em quantidades”.

500 litros de vinho doce

No total, e reconhecendo que não produz só vinho doce, Leonardo Botelho revela que este ano poderá ter cerca de 500 litros.
Leonardo Botelho já foi agricultor, comerciante e apicultor, que chegou a ter, inclusivamente, cerca de 150 colmeias, realidade que teve de abandonar por causa de algumas lesões que fizeram-no ter de deixar a criação de abelhas para diversos fins. “O resto das abelhas ofereci”. Tudo na vida tem o seu tempo. “Já tenho 69 anos de idade, enquanto puder trabalhar é o que vou continuar a fazer, mas se a produção não der para a despesa, fica-se só a descansar”.
E porque a tradição ainda é o que era, há quem faça, de igual modo, doce com as uvas-de-cheiro, mas de forma mais simples e rápida. “O tradicional é cortar as uvas ao meio para retirar as pevides, mas pode-se dar uma fervura nas uvas para depois coá-las, separando-se assim, com facilidade, as pevides e a casca ficando só a massa das uvas, aproveitando-se também uma parte do caldo e fica bom”. Mais palavras para quê?               Marco Sousa
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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