Gerações de... 50,60,70, diferenças no trabalho, nas viagens, na família, nos amigos, na relação com internet, na relação com os filhos, na relação com os netos, no modo de vestir, na alimentação, nos tempos livres.
Temos de recuar um pouco atrás, às causas das coisas, para percebermos algo mais sobre estas questões. Como funcionam. Diria mesmo muitíssimo mais atrás. Aos começos do Tudo...
No melhor do conhecimento actual, o Tudo (tudo o que existe e vemos, que habitamos, que somos) teve o seu inicio há cerca de 14 biliões de anos atrás. Melhor, antes mesmo do BB (ou Big Bang que não terá sido uma gigantesca explosão como divulgado) e considerado precipitadamente por muito tempo, como o inicio do Tudo, existia um plasma ou “sopa” quente, harmónico, sereno, equilibrado de partículas e campos quânticos que num determinado momento, e sem se saber ainda muito bem como, após milhões de anos de repouso, viveu-se lá um movimento súbito, uma agitação dos elementos presentes, na sequência do qual se originou uma cadeia de reacções/experiências aleatórias daqueles componentes a velocidades, pressões, temperaturas estonteantes de forma sustentadamente, dando origem a tudo o que podemos ver até ao nossos dias, e a nós mesmos, embora o Universo permaneça em expansão superior á velocidade da luz (300.000 Kms/seg), revelando-nos em definitivo uma verdade natural inquestionável. FLUXO. Ou seja, Tudo o que existe, inclusive o leitor, baseia-se num fluxo mudança de experimentações aleatórias e permanentes, revelando a nossa Essência. A Mudança é assim uma constante natural construtiva sempre presente, como causa primeira da Evolução. De Tudo o que existe ou existiu. No oposto...”parar é morrer um pouco”...
Esta Entropia de partículas e campos quânticos produziu mecanismos físico-quimico-biológico num movimento e intercâmbio imparável, eterno, perfeito. O 2 em1...Se por um lado ao respondermos positivamente às possibilidades ou oportunidades que a Vida nos oferece a cada momento nos torna Co-autores da Criação por sermos assim criadores de novas formas, por outro lado ao expormo-nos, ao OUSARMOS experimentar o novo, descobrimo-nos, conhecemo-nos, tornamo-nos na pessoa única que foi destinada a ser, livre, autónoma, audaz, aberta à mobilidade e diversidade, à inovação, única decisora dos seu destino sem quaisquer tipo de interferência exterior, desenvolvendo e ampliando dessa forma uma Consciência e um genuíno Sentimento de si. Perfeito...
Mas, apesar da presença efectiva desta determinante incorruptível nas nossas vidas, nem sempre foi essa a perspectiva que tivemos do como as coisas deveriam funcionar. Milhões de nós ainda hoje desconhecem o que se diz.
Durante dezenas de milhares e milhares de anos, nossos avós viveram em cavernas ou mudaram-se para zonas ribeirinhas propícias, onde encontravam alimentos para se manterem.
Falamos da fase da Sobrevivência, que ao fixar as populações num determinado local, deu origem igualmente a experiências sociais de liderança, definição e controlo de regras ou princípios que observados por todos mantinham esses grupos protegidos e coesos socialmente. A chamada “coesão social”. O líder escolhido aconselhava, impunha e vigiava comportamentos que no oposto os dissidentes ou eram sacrificados ou banidos da região. Mas se este desempenho socialmente favorável fosse sempre assim. Tudo bem. Mas não. Abriu portas igualmente ao exercício do autoritarismo e despotismo.
Com algumas características obviamente diferentes, Portugal e os Açores antes de 1974 (foi notória a clivagem social positiva trazida com o 25 de Abril) pouco progrediram, num número significativo da população, alem da fase de Sobrevivência dos nossos avos. Apesar de aqui e acolá Portugal ter conhecido períodos áureos, desafortunadamente, e ate aquela data foram muitíssimo poucos os portugueses que conheceram a aurora da Evolução sociocultural. Eça, Ramalho, Aquilino, Antero, Brandão, Sousa Martins, Agostinho...testemunharam em literatura notável esse contínuo e inaceitável estado de coisas.
Ainda hoje Portugal e os Açores, e uma vez mais desafortunadamente, ocupam continuadamente na EU os últimos lugares estatísticos dos índices básicos de desenvolvimento socio-cultural, económico, saúde, etc.
As referidas experiências sociais de liderança, ensaiadas pelos caçadores recolectores de há milhares de anos, o mais das vezes musculadas, autocráticas, discricionárias, que diferença qualitativa fazem para o Portugal passado e dos anos...40,50,60,??? Em essência praticamente nenhuma. Torga, definiu isto claramente no seu leito de morte nos HUCoimbra. Na altura, de imposição de Condecoração pelo PR em exercício, disse-o alto e bom som...”Portugal e até à data tem assentado em 4 pilares a saber: médico, professor, juiz, padre. Fizeram uma Revolução e nada mudou”.
Por outras palavras, quem tivesse uma posição na sociedade daquele tipo, ou inclusive, um nome brasonado de família ou posição chave na estrutura governativa ou empresarial, era automaticamente guindado a líder, que escorado pelas referidas classes favorecidas, arbitraria ou dogmaticamente ditavam as regras do bom viver, modelos de vida, de que eram os principais beneficiados. Tudo escrutinavam, controlavam, impondo padrões de comportamento e conduta inflexíveis, o mais das vezes despóticas e discricionárias, que com nada nem ninguém pactuavam, e que se desviasse deste padrão insensível á inovação ao conhecimento á criatividade à Mudança. Puro feudalismo castrador de surgimento e evolução e autonomia das Consciências.
Se juntarmos a este negro quadro social, o exercício feroz da Censura nas suas mais diferentes formas, compreendemos o tipo de tecido social construído. Alem do referido feudalismo naftalinico enraizado, que sempre se revelou retrógrado, atrófico, bloqueador, rígido, favorecedor somente dessas lideranças, seus familiares e servidores próximos.
Sociedade Açoriana, seu passado recente. Existe ainda um outro aspecto estruturante deste paradigma, que tem de ser salientado. Portugal e desde o séc XV que se arvora em proprietário dos seus Arquipélagos. Contudo revelou, ao longo destes séculos, um quase total alheamento ou esquecimento de quem aqui vivia. Centralizador na sua essência, nunca investiu nada de concreto aqui. Fora do seu empenho ou acção directa, a importância do turismo de Saúde de elites portadoras de tuberculose na Madeira, e a instalação de aeroportos internacionais nas Lages e S. Maria, agitaram ligeiramente esse alheamento inconcebível.
O passado açoriano apesar de heróico pouco podia evoluir. Entregues ao seu destino, suportando condições de vida dificílimas em padrões de Sobrevivência pura. A agricultura, a pesca, a pastorícia eram o presente e o futuro das populações. À margem de todas as formas de desenvolvimento, a Educação/Formação, a Saúde, as condições de Higiene e Habitação, a Segurança, etc eram residuais. Iliteracia quase absoluta (o acesso a livros vinha pela mão de algum sacerdote, medico ou professor). Jornais nem vê-los, a Mortalidade infantil era elevadíssima, a tuberculose o alcoolismo e o tabagismo disseminavam-se, a esperança média de vida era cerca de metade daquela que vivemos hoje.
Mobilidade e comunicações com o exterior raras. Rádio e telefone só muito mais para a frente e ao dispor de uma meia dúzia de cidadãos habitualmente os grandes proprietários. A novidade surgia somente quando alguns navegadores atlânticos ou ate mesmo piratas aqui deixavam em vários formatos inclusive genéticos.
Sociedade Açoriana, anos...40, 50, 60, O feudalismo vigente, avesso e castrador do desenvolvimento e inovação ( sabiam que o seu incremento no seio de uma Sociedade conduzia inevitavelmente ao seu desaparecimento com perca de regalias e mordomias ) reflectia-se na qualidade e quantidade dos serviços disponíveis. Nas três principais Ilhas de então haveriam: 1ou 2 hotéis, 1 ou 2 restaurantes, 2 ou 3 lojas de vestuário, 1 ou 2 de materiais e utensílios. Cinema e teatro vieram mais tarde, que apesar dos seus conteúdos serem censurados à lupa, e como esperado, posicionarem-se como factores potenciadores de mudança social. Saia-se daqui ocasionalmente mais por necessidade ou imperativo no Angra ou no Carvalho Araújo. A Educação foi melhorando, permitindo o acesso progressivo a muitos alunos com incentivo a prosseguir os estudos em Coimbra, Lisboa ou Porto conferindo-lhes competências diferenciadoras, que uma vez implementadas cá, funcionavam como fermento catalisador das mudanças sociais. Uma ou outra entidade recreativa e clubes privados onde tudo era filtrado e que funcionavam o mais das vezes para juntar mentalidades e fortunas ou incentivo matrimonial. Os Serviços de Saúde evoluíram muito lentamente. Na prática eram Misericórdias para receber somente os mais desfavorecidos. Partos e actos cirúrgicos menores eram praticados no domicílio.
Em suma, a maioria dos cidadãos viviam para construir uma Família patriarcal e um emprego que lhes garantisse com Dignidade o sustento, não comportando esse Estilo de Vida a possibilidade de vislumbrar sequer horizontes de mudança, diversidade, inovação, conhecimento. Qualidade de vida numa palavra.
Falamos de submissão e obediência silenciosa a um sistema social, se queriam sobreviver, que não só muito pouco lhes oferecia (particularmente no caso das mulheres) como funcionava como motor de despersonalização, criando seres amorfos, sem iniciativa ou capacidade crítica. A vida toda ela padronizada por um feudalismo económico e cultural não deixando quaisquer margem de Evolução à maioria das pessoas.
Sociedade Açoriana, anos 70 e seguintes... A revolução do 25 de Abril iniciou, entre outros fenómenos sociais, a desmontagem progressiva deste estado ruinoso de viver. Mais ou menos rapidamente tudo sentiu uma lufada de ventos de mudança nomeadamente, o então feudalismo retrógrado que ficou reduzido a vivências familiares restritas. As novas gerações directa ou indirectamente começaram a viver o espírito de Immanuel Kant.
OUSAR CONHECER. Em definitivo partiram daqui à descoberta do novo, do diferente, dos intercâmbios e do conhecimento sem limites ou restrições. Vestidos com simplicidade e guiados apenas pela sua Consciência e Coração. Viajam por todo o mundo com uma mochila às costas com literatura moderna, ciência, filosofia, yoga, zen, praticando exercício físico, rigor e selectividade alimentar, fazendo amizades em várias línguas, umas para a vida outras para mais tarde recordar. Foram Erasmus. Usam os meios de comunicação electrónicos e digitais emergentes para tudo e em quaisquer momentos, quer para comprar um bilhete de avião, reservar um hostel, recolher todo o tipo de informação actualizada que suporte as suas abordagens ou decisões. Vão a concertos ou fenómenos culturais ou desportivos que lhes interesse. Fazem pos-graduações de interesse nas mais diversas matérias e lugares. Afastaram-se de fenómenos religiosos e a políticos tal como são praticadas actualmente.
Ao invés das gerações de seus pais e avós dos anos 40,50,60 que foram impelidos e usados a sobreviver sob a acção musculada de regimes políticos e morais retrógrados e castradores da personalidade, gerando indivíduos acríticos, submissos e bloqueados por todo o tipo de limitações e medos, sem horizontes de Dignidade e Realização pessoais.
As novas gerações, porque ousaram conhecer, descobriram e vivem o segredo da Realização como pessoa.
E esta Realização nada tem que ver com a posse sempre insatisfeita de bens materiais, de posições sociais, ou de pertencer a uma religião, partido ou grupo fechado. Descobriram porque ousaram, que a verdadeira realização pessoal passa, por construir uma Consciência clara e constante de que a viver a Vida na primeira pessoa do singular é a minha vida.
Ou seja, querer aquilo que a Vida quer é querer a própria Vida.
Para finalizar não podia de deixar de salientar dois ou três efeitos secundários desta nova mentalidade e face a este desempenho livre, profundo, apaixonado das novas gerações, motor do seu afastamento, por ora, desses campos:
1. - Religião. Sofre actualmente uma implosão anunciada. Não se adaptaram nem se prepararam para estes impactos ao ponto de terem perdido a capacidade de em linguagem e sentido modernos de transmitir correctamente a mensagem intemporal de Cristo.
2. - Política. Se no princípio da Revolução fazia sentido submeterem-se aos escrutínios públicos com base em programas partidários (escolhendo para a sua execução não os mais capazes mas companheiros de partido de valor duvidoso), o pragmatismo das novas gerações, se por um lado os conduziu ao descrédito nos partidos mais representativos, por outro identifica-os mais com pessoas competentes e capacitadas para atacar os problema reais do País, do que programas partidários orientados para satisfazer clientelas como continua a acontecer.
3. - Saúde. A criação do SNSaúde (e do SRSaúde ) foram das maiores conquistas civilizacionais dos nossos tempos. Mas passados mais de 40 anos de execução ficaram obsoletos. Foram arquitectados para servir uma população que já não existe. Para profissionais de Saúde que não se revêem nos seus princípios e carreiras. Cronicamente subfinanciado. Que não acompanhou o exponencial crescimento da tecnologia de diagnóstico e tratamento. Que investe residualmente na prevenção, recuperação, e nas faixas etárias mais avançadas. Terreno em que os políticos consideram sempre tudo bem, quando existem e persistem as mais variadas listas de espera de anos para a abordagem de doenças graves ou urgentes.
“Quero viver não para acreditar, mas sim para conhecer e compreender” Carl Sagan ( 1934-1996).
CA