30 de agosto de 2022

Opinião

Rabo de Peixe sabe sonhar

Caiu o pano em mais um campo de férias para as crianças e jovens de Rabo de Peixe, que ano após ano se realiza sem grandes alaridos mediáticos, pela associação de solidariedade e voluntariado, vinculada aos Jesuítas, que tem atuado em Rabo de Peixe, desde 2004, assente no espírito de serviço, entrega e educação como motores de desenvolvimento integral de crianças e adolescentes da Vila e fundada por vontade da Companhia de Jesus, em conjunto com jovens ligados aos Centros Universitários da Companhia, das Escravas do Sagrado Coração de Jesus e das Irmãs Criaditas dos Pobres.
A Associação é composta por cinco núcleos de voluntários espalhados pelo país, mais concretamente, em Braga, no Porto, em Coimbra, em Lisboa e em Rabo de Peixe, cuja missão é promover o desenvolvimento das famílias da vila de Rabo de Peixe, através do estímulo da sua capacidade de sonhar e do incentivo à abertura dos seus horizontes, procurando aprofundar, a partir das suas realidades, a consciência das suas opções de vida.
Tal como nos anos anteriores, a principal ação daquela associação é a colónia de férias, que decorreu este ano na vila das Capelas de 4 a 11 de agosto, acolhendo 96 crianças de Rabo de Peixe, entre os 6 e os 15 anos. Na colónia são trabalhados diversos valores através de atividades lúdicas, onde são abertos horizontes através do estímulo da capacidade de sonhar dos jovens e crianças e, acima de tudo, são proporcionados momentos de muita alegria.
Tudo começou em 2002, quando um grupo de jovens padres jesuítas visitou Rabo de Peixe e deixou-se cativar pelas famílias e pelas crianças da Vila, surgindo o desejo de fazer uma colónia de férias no verão para as crianças, de forma a poderem experimentar sonhar um futuro melhor.
A génese de “Rabo de Peixe sabe sonhar” residiu no sonho de três jovens seminaristas jesuítas, que durante o seu Noviciado, uma das suas atividades era ajudar na cantina social das Irmãs Criaditas dos Pobres em Coimbra, que ao tempo estavam também em Rabo de Peixe, tudo se proporcionando para eles visitasse a congregação delas nos Açores. 
Vários anos depois, aquando da Missa Nova de um dos Padres em São Jorge, os três companheiros decidem fazer escala em Rabo de Peixe para verem pelos seus próprios olhos o que lhes tinha sido relatado pelas irmãs Criaditas dos Pobres. São, então, tocados por uma realidade, à qual é muito difícil ficar indiferente e, rendidos, decidiram por mãos à obra. 
Assim nasceu a colónia de férias inspirada na atividade das Irmãs Escravas do Sagrado Coração de Jesus na Fonte da Prata, decidindo fazer uma semelhante, desta vez na ilha de S. Miguel.
Ao longo do ano, o acompanhamento à Vila é feito por membros da direção da Associação. A cada dois meses, uma equipa dirige-se à Vila, visitando as famílias, acompanhando o núcleo local e dinamizando reuniões de acompanhamento. Através delas torna-se possível acompanhar os jovens que já não têm idade para fazer colónia, ajudando-os a trabalhar os seus sonhos e continuando assim o trabalho desenvolvido nas colónias.
Desta forma, através da colónia e do acompanhamento ao longo do ano, vão trabalhando, progressivamente, a realidade da Vila, com vista à formação de jovens capazes de superar as adversidades que vão encontrando ao longo da sua vida.
Em 2021, apesar de não ter sido possível a realização de uma colónia nos moldes habituais, a associação esteve presentes na Vila de uma forma muito especial. Foi uma espécie de colónia na rua, junto das crianças e suas famílias, no seu espaço, em comunhão com todos. Uma possibilidade que pode, até, fazer sentido manter no futuro. 
A associação “Rabo de Peixe sabe sonhar” é um movimento de esperança: esperança nas famílias de Rabo de Peixe, esperança em todos os que apoiam e acompanham, que trabalham na construção deste sonho, e sobretudo esperança na missão que Deus os confiou.
Depois de tempos tão atribulados como aqueles que vivemos no Mundo, a esperança torna-se ainda mais indispensável para enfrentar as dificuldades, superar os desafios, fazer presente a alegria e de ser fonte de paz.
Num autêntico trabalho de formiguinha esta associação vai colhendo os frutos, acalentando em crianças e adolescentes a esperança e a oportunidade de poder sonhar.
António Pedro Costa

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Categorias: Opinião

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