O Presidente da Federação Agrícola dos Açores, Jorge Rita, afirmou ontem ao ‘Correio dos Açores’ que se a indústria de lacticínios nacional seguir o aumento de oito cêntimos por litro do leite decidido pelo Pingo Doce, e o preço ficar a nível nacional for de 50 cêntimos o litro, o preço na Região deverá ser de 47 cêntimos
Como referiu Jorge Rita, “há um aumento anunciado para o mês de Setembro de três cêntimos em algumas indústrias regionais e de 2,5 cêntimos noutras, “e isso já não fará qualquer sentido. Tem que haver uma nova subida do preço do leite muito mais acentuada que tem a ver com a questão dos mercados. E isto para que o diferencial para a nível nacional não seja cada vez maior”.
Reafirmou que, “se as indústrias nacionais acompanharem a subida de preço do Pingo Doce, obviamente que as indústrias da Região têm que fazer o mesmo. Se o leite for para 50 cêntimos a nível nacional, o leite nos Açores nunca pode ser menos. Não vai para 50 cêntimos pois poderemos dar três cêntimos para os custos dos transportes e ficará nos 47 cêntimos”.
No entender do Presidente da Federação Agrícola dos Açores, a indústria açoriana “tem de se adaptar às novas realidades. Todos hoje percebemos que, a nível dos mercados, o preço do leite está a subir em toda a Europa, subindo em todo o mundo. Não vale a pena estarmos com discursos diferentes. Ou as indústrias na Região a acompanham os aumentos dos preços do leite, ou a tendência natural da Região vai ser a sua diminuição. A produção não pode fazer milagres nos Açores”.
Questionado sobre as implicações que este aumento vai ter na subida do preço junto dos consumidores, Jorge Rita explicou: “temos analisado o cabaz de compras. E o que aumentou mais de preço foi o peixe, a carne, os legumes e os hortícolas e fruta. O leite e seus derivados ainda não estão neste pacote. Portanto, existe margem para que se aumente também o preço do leite ao consumidor.
Estas declarações de Jorge Rita surgem em sequência a um comunicado da Associação dos Produtos de Leite de Portugal.
Explica a Associação que a produção de leite em Portugal “continua sob enorme pressão, face aos elevados custos dos factores de produção (eletricidade, gasóleo, adubos e rações) e a uma previsível baixa na produção de forragem, nomeadamente milho silagem, devido à seca e onda de calor, que poderá ser em alguns casos 50% face ao ano passado”.
Adianta que se esperava que a abertura do mercado de cereais da Ucrânia baixasse os preços das rações, mas talvez por causa da seca em toda a Europa, Estados Unidos, Canadá e China, as produções serão inferiores e as várias matérias-primas usadas nas rações mantém-se com preços elevados. A seca na Europa, nomeadamente em França, está a causar redução na produção do leite que costumava vir para Espanha a preço de saldo”.
No extremo oposto, segundo os últimos dados divulgados pela Comissão Europeia, os produtores de leite portugueses, que pagam os factores de produção ao mesmo nível dos restantes colegas europeus, receberam em Junho um preço médio de 38,2 cêntimos por litro de leite produzido. Foi, uma vez mais, o pior preço da Europa, mas foi também a maior diferença de sempre (11,2 cêntimos) para o preço médio comunitário, 2,2 cêntimos abaixo da Hungria, o país que ficou em penúltimo lugar na lista. Em Julho registou-se em Portugal um aumento de 2 cêntimos, mas o preço médio da Europa também terá subido para 50.3 cêntimos e o preço do leite “spot”, no mercado livre entre indústrias, chegou a 64 cêntimos o litro.
No início de Agosto, foi comunicado à generalidade dos produtores um aumento de 3 cêntimos para Setembro, o que levará o preço médio em Portugal para 43 cêntimos (40 nos Açores e 45 no continente). Mais, recentemente, foi comunicado aos produtores que fornecem a marca Pingo Doce uma actualização de 8 cêntimos por litro, o que lhes permitirá receber um valor superior a 50 cêntimos por litro.
A Associação que a produção de leite em Portugal “desafia desde já todos os restantes compradores a subir de forma imediata o preço do leite ao produtor para atingir um valor médio de 50 cêntimo de leite em Portugal”.
Esclarece que a actualização do preço do leite em Portugal, nos últimos anos, “veio sempre tarde, abaixo dos custos de produção, abaixo do mercado europeu e sempre em reacção ao aumento do preço de outros compradores ou à procura de compradores espanhóis. Os resultados são o desânimo dos produtores, o encerramento de vacarias todas as semanas, o aumento do número de animais para abate por falta de alimento ou de dinheiro para os comprar e a venda de leite directamente dos produtores portugueses para compradores espanhóis, à medida que terminam os contratos anteriores”.
No entender da APROLEP, o preço do leite “tem de deixar de ser arma de arremesso na guerra pela quota de mercado entre os vários supermercados e as indústrias. Esta guerra que esmaga os produtores está a colocar em causa o auto-aprovisionamento lácteo e a soberania alimentar de Portugal. Numa altura de crise não devemos deixar que um alimento essencial e completo como o leite falte nas prateleiras ou seja substituído por leite importado a preços incomportáveis, tal como acontece neste momento no Brasil onde os consumidores estão a pagar o leite mais caro do que a gasolina”.