Empresa de inserção social Três Pontas da Maia aposta na produção de ‘chazinhos’ da “época dos nossos avós”

 Localizada na freguesia da Maia, a empresa de inserção social Três Pontas, da Santa Casa da Misericórdia do Divino Espírito Santo da Maia, decidiu arregaçar as mangas e colocar, literalmente, mãos à obra. Criada em 2016, a responsável por esta empresa, Ivone Medeiros explica que o projecto estava, no seu início, “mais vocacionado para as aromáticas e medicinais, mas temos um vasto leque de plantas que vendemos tanto em verde como em seco dos chamados ‘chazinhos’ que usávamos há muitos anos atrás na época dos nossos avós”.    
O grande objectivo, continua Ivone Medeiros, passa “pelo fomento do emprego e inserção social nas freguesias rurais da zona oriental do concelho da Ribeira Grande, isto porque a própria instituição trabalha em seis freguesias que vão desde a Lomba de São Pedro até ao Porto Formoso”. Feita a introdução, a responsável por este projecto destaca ainda que “a nossa unidade produtiva é feita de forma orgânica e hoje em dia somos certificados em agricultura biológica. É uma mais valia porque não recorremos ao uso de pesticidas, herbicidas ou fungicidas, muito prejudiciais à nossa saúde”. 
Cultivando num terreno pertença do Museu de Tabaco da Maia, Ivone Medeiros explica a que produções se dedica.
“Temos o poejo, a cidreira, a menta-chocolate, a erva príncipe, a macela, a hortelã comum, hortelã-pimenta, a Maria Luísa, como chamamos aqui, mas que é mais conhecida por Lúcia-lima. Isto no que diz respeito aos ‘chazinhos’, mas temos também a outra parte das aromáticas como o tomilho, o alecrim ou os orégãos. Todas estas plantas, complementam-se e isso permite-nos ter um mercado mais abrangente”, afirma.
Precisamente sobre os mercados, a actual responsável conta que “o verde” é essencialmente vendido “para a Cresaçor que tem a sua própria marca que depois é vendida na rede da INSCO. Temos também outra plantas que vendemos em verde para a Gelvalados que nos compra essencialmente o alecrim ou a menta-chocolate”. Numa outra vertente, Ivone Medeiros explica que existem igualmente outras plantas que, após serem desidratadas, são vendidas a granel. 
“Esse seco é quase todo adquirido pela Fábrica de Chá da Gorreana, isto porque a própria Fábrica tem uma vasta gama de novos produtos, em que utiliza o seu preto e verde (chás) a que junta depois as aromáticas e medicinais que nos compram”, realça.
Esta funcionária da Santa Casa da Misericórdia da Maia refere também que, para além de si, estão envolvidos directamente nesta empresa de inserção social dois trabalhadores.
“Eram duas pessoas com dificuldades de emprego e que fomos buscar através do mercado social de inserção. Um deles está desde o início do projecto e de momento é funcionário instituição. Temos também um outro senhor que já trabalha connosco há anos e que, hoje em dia, também já é funcionário desta instituição”, refere Ivone Medeiros que salienta igualmente o facto de este projecto não se centrar apenas na vertente “do campo”. 
“Por sermos certificados em agricultura biológica temos uma série de trabalhos que são feitos ‘atrás das plantações’, como costumamos dizer (…).  Trato das vendas e está tudo a meu cargo”, diz.
Para além das aromáticas, a entrevistada realça que a empresa também se dedica às hortícolas, se bem que esta vertente é ainda “em pequenas quantidades”. 
“Já estamos a lançar-nos com alfaces, tomates ou rabanetes”, num cultivo que acontece num terreno localizado nas instalações do Museu de Tabaco da Maia.
“Começamos com uma pequena parcela e depois todos os anos vamos aumentando e hoje em dia já podemos dizer que temos uma grande quantidade de terreno que está afecta apenas para esta actividade. Além disso, temos também uma estufa que nos permite cultivar uma série de produtos de Inverno que não seria possível fazê-lo no exterior”, explica Ivone Medeiros que revela igualmente que a Três Pontas está a tentar “concluir o processo de certificação de uma sala de embalamento que depois nos vai permitir dar o passo seguinte, a comercialização de chás com a nossa própria marca”. 
A responsável admite que esta é “uma empresa pequena e começa a ser complicado gerir a quantidade de terrenos que temos ao nosso dispor com apenas duas pessoas”. Nesse sentido, afirma, “é preciso perceber que esta empresa pertence a uma Santa Casa da Misericórdia e não podemos contratar muitos trabalhadores”. 
Ivone Medeiros refere que ajuda “em tudo aquilo que posso” e, para além do embalamento das infusões, “se for preciso também vou para o campo ajudar na apanha dos produtos”. Habituada ao trabalho “na terra desde criança”, admite que “uma coisa é produzir para consumo próprio e outra é produzir para o cliente final”. 
Outra das grandes preocupações com que se deparam, refere Ivone Medeiros, prende-se com a instabilidade climatérica. 
“Este ano foi muito incerto e tivemos dias de chuva e depois dias de sol. Tínhamos apanhas de ervas programadas que não conseguimos realizar. O nosso secador é grande, mas depois o clima prejudica-nos porque tínhamos várias plantas em lista de espera para ir ao secador e isso vai-nos atrasando. Isso faz com que o cliente tenha de esperar mais um pouco pelos produtos e isso afecta-nos bastante”, lamenta. 
Ivone Medeiros destaca que uma empresa de inserção social “é um local onde a pessoa aprende e depois pode ir procurar um emprego no mercado local de trabalho e até se pode lançar por conta própria”, dando como exemplo um caso de “um senhor que esteve a trabalhar aqui e que já está a trabalhar num outro local”. 
A responsável adianta igualmente que “já tivemos estagiários da Escola Básica da Maia, de jovens que estavam no curso de Jardinagem. Isto torna-se também um Pólo onde eles podem fazer estágio, aprender e depois, isso pode-se constituir como uma mais valia para eles se lançarem no mercado de trabalho”. 
Perante a pergunta directa se este é um projecto bem-sucedido, Ivone Medeiros responde afirmativamente embora admita (entre risos) que “podia ter melhores resultados”. 
“Ainda somos uma empresa pequena, estamos num meio rural, mas o nosso produto é diferenciado porque é de agricultura biológica. Sabemos que hoje em dia há muitas pessoas que procuram o produto biológico”, afirma antes de destacar a venda efectuada à Fábrica de Chá Gorreana.
“Para nós é bom porque, muitas vezes, os turistas que visitam o Museu, passam primeiro na Gorreana e lembram-se que eles têm uns ‘chazinhos’ diferentes”, afirma.                          

Luís Lobão
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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